Guia da Semana

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As famílias estão diminuindo. Baseadas na situação financeira, muitas optam por apenas um herdeiro. Outro fator que influi para essa decisão é o modo de vida adotado por homens e mulheres na atualidade: dar atenção a uma única criança, torna mais fácil conciliar a criação com uma rotina de vida e de trabalho. Por sua vez, ter muitos filhos significa lidar com diferentes personalidades, manias, desejos e costumes, o que pede muito mais tempo disponível.

Diz a crença popular que, como esses primogênitos recebem mais atenção, cuidados e carinhos, sem precisar dividir com irmãos, são mais mimados, caprichosos e autoritários. Há quem acredite que essa composição familiar faz com que não tenham limites e ainda apresentem dificuldades de se socializar. Muitos estudos já foram realizados na tentativa de comprovar ou derrubar essas teorias.

Em 2004, alunos de psiquiatria e medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul realizaram uma pesquisa que comparou características comportamentais de crianças e adolescentes com e sem irmãos. O estudo conclui que ser filho único não está ligado ao pior ou melhor desempenho nas diferentes áreas de desenvolvimento, nem com dificuldades de relacionamento.


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A piscopedagoga Anna Andréa Simões dos Santos concorda e completa, alegando que o que determina o comportamento de uma criança é a maneira como ela foi educada. "Muitas vezes não é o filho que precisa de apoio de um profissional e sim, a família."

De fato, um filho único tem o privilégio de ser melhor atendido. Os pais podem dar mais carinho, além de uma melhor educação e preparação profissional. Porém, toda essa atenção pode acabar gerando uma superproteção por parte dos pais.

Os pais sabem que, não tendo irmãos, o pequeno não precisará conviver com a disputa. Mas eles esquecem que assim o garoto também não ficará preparado para as adversidades que irá sofrer pelo resto da vida, como o vestibular, a procura por um emprego, a conquista (e a rejeição) de uma namorada.

Além disso, quando crianças são acostumadas a resolver tudo sozinhas geram uma auto-suficiência que, apesar de parecer benigna, acaba atrapalhando no futuro. A pessoa consegue produzir melhor sem ajuda de terceiros, mas não tem tanta facilidade em trabalhar em grupo. Nas atividades escolares, ou no relacionamento com a equipe no trabalho, por exemplo, não será capaz de se adaptar.

Para tentar reverter isso, estimulá-lo a praticar esportes coletivos, freqüentar aulas de teatro e até a conviver com primos e vizinhos, pode aprimorar não só o espírito coletivo, mas evita que ele desenvolva uma dependência emocional.


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Arthur Augusto Thezouro Gonçalves, 25, profissional autônomo, diz já ter sentido falta de ter um irmão, mas que isso pode ser superado de outras formas. "A falta de um irmão, com certeza foi suprido pelos meus melhores amigos. Amigos estes que conheço desde a pré-escola até hoje."

Além disso, a super-proteção pode acarretar outros problemas. "Por terem a atenção integral, quando se tornam adolescentes, eles não conseguem dividir o carinho de amigos e namorados. Acabam se tornando obsessivos e, não raro, apresentam sintomas de depressão", alerta a psicóloga Sandra de Almeida. Renata Fiore, 23, jornalista e filha única, ilustra bem isso. "Na minha adolescência entrei em depressão por ficar sozinha em casa por muito tempo. Saia da escola às 13h e minha mãe só chegava do trabalho às 23h."

A dona-de-casa Vera Lúcia Ameni, 54, mãe de Carlos, 30, sempre quis mais de um filho, mas não conseguiu engravidar, tentou a adoção durante algum tempo, mas apenas este ano conseguiu. "Até os seus 13 anos, o Carlos pediu um irmão, mas depois disso acabou se conformando. Hoje, já casado, ele é muito feliz com o novo irmão, Erick, de 3 anos".

Nem sempre é o jovem que precisa de ajuda

Em grande parte das vezes, quem realmente precisa de acompanhamento são os mais velhos. Como dedicam todo seu tempo e atenção a apenas uma pessoa, não conseguem suportar a idéia de que ela se magoe e muito menos a possibilidade de perdê-la.


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Ciúme dos amigos, implicância com as noras e genros, chantagens emocionais com os filhos, essas características são facilmente encontradas em alguns pais. O sentimento de posse pode atrapalhar as relações sociais dos filhos, os deixando tímidos e arredios.

Renata também enfrenta esse problema. "Meu pai, principalmente, tem muito ciúmes. Implica porque meu namorado está no meu quarto ou porque ele está mexendo no meu computador, porque foi ele quem me deu e vai quebrar. Já, a minha mãe adota meus namorados, é muito engraçado, os trata como filhos. Acho que é a carência."

Nesse momento, o trabalho de um psicólogo é imprescindível. Ele poderá descobrir quais os medos dos pais em dividir o filho e deixar ele se afastar. A partir daí, é mostrar aos dois que isso é natural e preciso. "Os pais têm que lembrar que os filhos são criados para o mundo e que não podem colocá-los numa redoma, pois é impossível protegê-los para sempre.", recorda o consultor comportamental Wilson Mileris.

Carinho e amor demais, assim como qualquer outra coisa, fazem mal. Quando o adulto não permite que a criança descubra seus limites, ela acaba tendo que aprender com as dificuldades, tornando o processo mais doloroso.

Colaboraram:
Wilson Mileris
Fone: (11) 3171-3500
Sandra de Almeida
Fone: (11) 2293-0813
Endereço: Rua Itapura, 1593, Jd Anália Franco, Tatuapé
e-mail: [email protected]

Atualizado em 6 Set 2011.