Guia da Semana

Por Larissa Coldibeli

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Comprimidos de Ecstasy: por causa da aparência infantil também
chamados de "bala"

"Não fume cigarro, pois é química. Fume maconha, que é natural."

Os adolescentes que crescem bombando ao som de música eletrônica, provavelmente dão risada da frase acima, atribuída a Bob Marley. Atualmente, o que faz a cabeça da nova geração são as drogas sintéticas, produzidas em laboratório. GHB, Special K, MDMA, cápsula do vento: os efeitos causados por essas substâncias chegam a durar mais de 24 horas para satisfazer a ânsia de novas sensações. O problemas é que por ter fórmulas variáveis, essas drogas podem produzir efeitos ainda desconhecidos e trágicos, dependendo da combinação.

Maria Tereza Aquino, diretora do Nepad (Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas), do Rio de Janeiro, diz que existem atualmente no Brasil, algo em torno de 20 tipos de narcóticos sintéticos: "Essas drogas são estimulantes, são as chamadas drogas de festa". Por ter um efeito tão longo, elas são mais utilizadas em raves, festas de música eletrônica que duram mais de 12 horas, e em clubes noturnos.

As modernas
A mais popular das drogas sintéticas, o Ecstasy, não passa de um comprimidinho colorido. Também conhecido como bala, era inicialmente contrabandeado da Europa na década de 90, "agora ele é produzido em laboratórios de fundo de quintal", como define Maria Tereza. O MDMA, citado no início da reportagem, é a sigla para metilenedioxi-metamfetamina, a fórmula do ecstasy.

O GHB, ou ecstasy líquido, tem os efeitos potencializados por causa da dficuldade de controle das doses. Euforia, bem-estar e desinibição são algumas das sensações experimentadas pelos usuários. Doses elevadas podem provocar alucinações, desorientação, dificuldade de concentração, dificuldade de focar a visão, perda de coordenação, relaxamento muscular, chegando ao desmaio. Nos Estados Unidos, é a principal causa de comas relacionados a drogas e o número de overdoses por GHB já superou o do Ecstasy.

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Special K
Disfarçado pelo nome de Special K, a quetamina nada mais é do que um anestésico veterinário. Ou seja, na busca por novas sensações, vale até tomar sedativo para animais. As alucinações e a perda da noção de tempo, espaço e identidade, dão lugar a delírios, convulsões e problemas respiratórios quando ingerida em grandes doses. Se misturado a álcool e cocaína, esse pó pode ser fatal e é aí que mora o perigo, "Geralmente, os usuários de drogas sintéticas não ficam em apenas uma, são os chamados poliusuários", classifica a especialista.

A cápsula do vento, embora tenha um nome aparentemente inocente, também é conhecido como droga do medo. Por aí já dá pra ter uma idéia da potência do conteúdo. Ópio, cristais de LSD e quetamina formam pozinho quase invisível dentro de uma cápsula transparente. Oito miligramas, um pouco mais que uma pitada de sal, podem causar a morte por overdose. O LSD, ou doce, por si só, já causa um estrago nos sentidos, nos sentimentos e na memória.

Outra droga forte e ainda pouco encontrada por aqui é a meta-anfetamina Crystal. Dez vezes mais forte que a cocaína, já é considerada epidemia em Nova Iorque pelas autoridades locais. Entre os efeitos, o sentimento de realização, poder e desinibição. A pessoa se sente mais atraente e disposta a colocar em prática todas as fantasias, inclusive sexuais. O documentário americano Rock Bottom, dirigido por Jay Corcoran, dá uma noção do poder dessa droga sobre o organismo. Até a cantora Fergie já passou por maus momentos por causa do vício.

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Cápsula do vento: pequena, mas com efeitos devastadores

Dependência
Por serem consumidas em festas nos fins de semana e não no dia-a-dia, há quem diga que as drogas sintéticas não viciam. Ledo engano: "Essas drogas são tão viciantes quanto cocaína ou maconha", alerta Maria Tereza. "O uso frequente faz com que o organismo precise de mais para ter o mesmo efeito da primeira vez. É o que chamamos de tolerância."

Os efeitos são terríveis, uma vez que o corpo não acompanha o ritmo imposto pela droga. "O cérebro fica danificado, neurônios morrem, acontecem microhemorragias e a pessoa fica com tremores". Essas são só algumas das consequências. Aumento da temperatura do corpo, dos batimentos cardíacos, sudorese (suor) e desidratação podem levar à morte por infarto dentro da balada. Sem falar no descontrole psíquico, que pode levar o indivíduo a cometer atitudes como suicídio.

Esse novo perfil de drogas muda não só o estilo das festas, como as raves que duram mais de 12 horas e as baladas com after-hour, mas também o do traficante: "Já não é mais o malandro do morro, que só vende e não consome. É o jovem de classe média, que usa com os amigos", esclarece M.T. . Leia abaixo o depoimento de F.J.S. e tire suas próprias conclusões:

"Sempre tive curiosidade"
"Eu já tinha experimentado maconha e cocaína, mas sempre tive curiosidade nas drogas sintéticas. Em 2004, uma amiga me deu um Ecstasy e eu curti, foi bem legal. Comecei a tomar de vez em quando, em raves e festas de música eletrônica. Meus amigos têm os canais, nós compramos em grupo porque fica mais barato. Já usei Special K umas quatro ou cinco vezes. GHB foram poucas, umas duas ou três. São bem fortes. A vez que eu fiquei mais louco foi numa Rave no interior de São Paulo, em que eu tomei três balas e meia, ¼ de doce e um pouco de GHB num espaço de 16 horas. Era para eu ter ficado só na bala, mas meus amigos apareceram com outras coisas...Não lembro de muita coisa, sei que perdi meu palm-top, me perdi dos meus amigos e fui parar na casa de uma menina que conheci no final da festa. Quando eu acordei, não sabia onde estava, gastei uma puta grana para voltar de táxi para São Paulo."


Serviço:
Nepad - Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas
Rua São Clemente, 214 - Botafogo - Rio de Janeiro
Telefone: (21) 2589-3269

Atualizado em 6 Set 2011.