Guia da Semana

Luis Hersent e Dc de Bordeaux (no berço)
Foto: divulgação


O vestuário sempre foi elemento social importante, porque através da roupa acessórios e jóias podia conhecer-se o real poder, prestígio e riqueza de uma pessoa ou família.

Nos séculos passados, o primeiro ano de vida das crianças era uma verdadeira tortura. Da cabeça aos pés elas eram totalmente envoltas em faixas com o objetivo de mantê-las aquecidas e ao mesmo tempo prevenir ou corrigir a má formação do esqueleto.

A medida que a criança ia crescendo eram colocadas faixas nos braços, depois no tronco e finalmente nas pernas. Após um ano de vida a criança procurava equilibrar-se e dar os primeiros passos e passava a usar uma nova vestimenta.

De um a cinco anos usava uma túnica simples unissex, de cor única, preta, vermelha ou marrom, com fendas laterais para facilitar o movimento das pernas, muitas vezes com cortes na frente ou posterior para facilitar a limpeza e higiene, sem distinção entre os sexos. Contudo, no final de 1500, a moda introduziu uma variante nesse vestuário. Da simples túnica, quase monástica, passou-se para um modelo mais elaborado, totalmente abotoado: corpete e avental branco bordado usados indistintamente para meninos ou meninas, estilo que perdurou até o início de 1800. Mas, o verdadeiro símbolo da roupa infantil eram as tiras de tecido ou couro que desciam dos ombros e que serviam para ajudar as crianças a andar e que tinham aspecto decorativo.

O costume de vestir meninos e meninas com vestidos ou saiotes perdurava até os cinco anos de idade, quando eles abandonavam a vestimenta infantil e passavam a usar roupas adequadas à sua nova condição no seio da família. Esse tipo de roupa seguia os modelos dos adultos, reproduzindo em miniatura a moda masculina ou feminina que mudava no decorrer dos séculos acompanhando o gosto e hábitos da época.

Na verdade esse rito de passagem da roupa infantil para adulta era mais evidente para os meninos, que deixavam o saiote para usar as calças, ao contrário das meninas que continuavam a se vestir como suas mães, sem mais o avental e as fitas para andar, amarradas em saiotes, rígidos corpetes engomados e incômodas golas de renda. Essa complicada forma de se vestir era um contra-senso com a natureza livre e brincalhona das crianças. Estas eram consideradas pequenos adultos e como tal deveriam se vestir e se comportar.

As roupas em desuso eram vendidas a comerciantes que as revendiam para os pobres. Em verdade quando se trata da história da moda infantil, fala-se da infância privilegiada, de classes aristocráticas ou da alta burguesia, porque as outras classes sociais se vestiam de modo muito comum com túnicas e meiões, roupas largas e gastas, amarradas na cintura com uma simples corda, principalmente vestimentas antiquadas.

A revolução da moda chegou com Jean Jacques Rousseau, que combatia as roupas infantis que não davam liberdade de movimentos: "Emile deve poder correr, viver muito livre, sem boné, deve ter roupas largas que não comprimam o frágil peito, que não comprimam os pulmões"(Emile, 1762).

Mesmo contra os costumes das famílias européias, a opinião do famoso filósofo educador era apoiada há muito tempo por médicos, sanitaristas e professores, que escreveram importantes obras sobre a educação das crianças, condenando o uso da força e propondo respeito para os pequenos e métodos de aprendizagem apropriados para a idade. Com tudo isso na Inglaterra, houve uma reviravolta que trouxe uma maior liberdade no estilo de vida das crianças, porém isso não significou que abruptamente eles deixaram de se vestir como pequenos adultos, mas teve início, lentamente um novo conceito de vestimenta. Os adultos começaram a pensar nas necessidades dos pequenos e então na segunda metade de 1700, eliminou-se por exemplo as armações das saias, utilizou-se tecidos mais leves e cores claras.

Nesta época a tendência era fazer roupas especialmente feitas para a infância, que eram publicadas nas revistas de moda feminina. Três tipos de modelos foram designadas como símbolo da infância:

1-Roupa de marinheiro - paletó azul, com uma grande gola branca e quadrada atrás, enfeitado de âncoras ou galões militares que era usado por ambos os sexos com a diferença das saias com pregas para as meninas. Comum a ambos era o chapéu de marinheiro, ou na versão inverno a touca de lã, e no verão chapéu de palha de abas largas e fita na cúpula, decorado com motivos marítimos, indicado para crianças de 5 a 8 anos. Este tema marinheiro era inspirado na roupa de cruzeiro do menino Eduardo, príncipe de Galles.

2-Roupa "Pequeno Lord" - calças até o joelho, casaca, gola e punhos de renda.

3- Roupa "Eton" (calças compridas e paletó curto na cintura, moda inspirada no aristocrático colégio Eton, da Inglaterra.

Mas foi só a partir do século XX que a temática das roupas mais confortáveis, leves e práticas para as crianças foi definitivamente levada a sério.

Quem é o colunista: Regina Di Marco
O que faz: jornalista / pesquisadora história da moda
Pecado gastronômico:sem pecado, sem sair da linha
Melhor lugar de São Paulo:minha casa
Fale com ela: [email protected]

Atualizado em 1 Dez 2011.