Guia da Semana

Por Bruno Cesar Dias

Quando soube que Geovana iria chegar, a pequena Yasmin, de três anos, ficou feliz. Afinal de contas, seria uma amiga em casa para brincar. No entanto, bastou a barriga da mãe começar a crescer para ela de fato entender o sentido da novidade. Suas atitudes mudaram e ela ficou agressiva. "Chegou até a bater na barriga, falando que não me amava mais", diz a mãe Juliana Cunha das Neves.

A vinda do segundo filho é sempre um momento de expectativa para a família. Pais e mães já deixaram para trás as inseguranças dos marinheiros de primeira viagem. A principal novidade passa a ser a reação do mais velho. Algumas crianças esperam com alegria e antecipação o irmão, mas são exceções. Para Dina Azrak, psicóloga e autora do livro A linguagem da empatia e tradutora de Como falar para seu filho ouvir, o importante é ver a situação como normal e desafiadora.

"A cada filho, os vínculos de uma família se desequilibram e geram mudanças, e não só no núcleo pai-mãe, mas também em avós e parentes. Ao ganhar o irmão, as crianças começam a aprender a dança da vida, e isso deve ser aproveitado como uma oportunidade de crescimento", comenta a autora.

Medos de gente grande

Se nas crianças o receio é de deixar de ser o centro das atenções, nos pais o temor vem em forma de dúvida: era a hora certa de ter mais uma criança? Como o primeiro reagirá?

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda um intervalo mínimo de dois anos entre os partos para plena recuperação do corpo da mulher. Alguns estudiosos, no entanto, apontam como ideal esperar o desenvolvimento completo da primeira infância, concluída aos oito anos.

"As reações vão depender da etapa de desenvolvimento do irmão mais velho e das relações familiares estabelecidas nas formas de tratamento dos pais com a criança ao longo desse tempo e toda a constelação de pessoas ao redor dessa família" explica Kátia Ricardi de Abreu, psicóloga e analista transacional.

Dina Azrak concorda. "Não há evidências de maternidades próximas causarem problemas nos filhos por terem de dividir o colo mais cedo, como acontece com os filhos gêmeos".

Individualidade para os pequenos

Mudanças na rotina, necessidade de dividir a atenção e as visitas. De fato, é muita novidade na vida da criança. As reações extremadas são formas como ela compara, observa e faz seus juízos críticos, assim como nós, adultos. Independentemente da idade, o sentimento é legítimo, e os pais precisam entendê-lo. "Validar o sentimento do filho não significa concordar com atos e palavras agressivas, mas sim aceitá-lo e colocar limites nos gestos inadequados", explica Dina.

Se há pessoas ao redor, então, as reações são ainda mais claras. Quando Geovana recebe visitas, a irmã não para. "Yasmin fica tentando chamar atenção, fala sem parar e mostra brinquedos e novidades. Mas quando cessa a atenção para ela, vai para o quarto chorando e diz que ninguém a dá atenção", comenta a mãe Juliana.

Nessas horas, o diálogo precisa mostrar quão único é o afeto à criança, sem influência do novo membro da família. A conversa deve ser na linguagem da criança, sem infantilizações, apontando limites e possibilidades dentro da nova realidade. "Quando temos uma fala honesta com os filhos, estamos aumentando senso de competência como pais, sabendo que estão dando o melhor para os filhos", reforça Dina.

Para isso, combinações e tratos anteriores devem ser respeitados. Elogiar atitudes positivas da criança também mostra que o medo é desnecessário. Tudo isso acompanhado do envolvimento do irmão nas atividades de cuidado com o bebê, na medida em que ele aceitar e se dispuser a ajudar.

Com calma e jeito, os laços reforçam-se, como comprova Juliana. "Conforme fui conversando e brincando com ela, fomos ficando mais próximas, tanto que ela está um pouco mais mimada agora e sempre disposta a me ajudar com a irmã", diz a mãe, toda boba, confiante que Yasmin e Geovana serão grandes amigas.

Fazendo dos irmãos grandes companheiros

- Trate-os individualmente e sem comparações

- Não entre na defensiva quando o filho questionar o afeto ao mais novo

- Use com respeito o nome da criança e evitar rótulos como caçula ou mais velho

- Envolva o filho mais velho nos cuidados com o bebê à medida que ele aceitar e se dispuser a ajudar

- Faça o irmão participar da recepção às visitas, pedindo para ele apresentar o quarto do bebê

- Leve um presente para a maternidade para presenteá-lo quando for visitar

- Lembre-se de que cuidar dos filhos é também cuidar do relacionamento entre eles. Por isso, não permita agressões

- Deixe claro que o amor a ele é único é insubstituível

Atualizado em 14 Set 2011.