Guia da Semana

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Como seria viver em um mundo onde o sexo fosse sempre seguro e responsável, onde cada gravidez fosse planejada e desejada, em que os jovens (adolescentes) pudessem tomar decisões conscientes sobre sua saúde sexual e reprodutiva? Sonhar mais um sonho impossível?

Difícil? Sim. Impossível? Não. Só depende de nós, de todos nós: governo, sociedade, mídia, escola, profissionais de saúde, família e do próprio adolescente. Formar e informar.

Se falarmos em números, você sabia que...

... enquanto a taxa de gravidez em mulheres adultas caiu de 6 filhos em 1940 para 2,3 em 2000, desde 1980 até 2006 o número de adolescentes entre 15 e 19 anos grávidas aumentou - 700 mil meninas se tornando mães a cada ano no Brasil e 1,3% - 9 mil - são partos em garotas de 10 a 14 anos - IBGE;

... em 2006, a única faixa etária que apresentou aumento da fecundidade foi a de 15 a 17 anos (6,9% em 1996, para 7,6%, em 2006) e em 2007 ela mostrou queda na gravidez de adolescentes de 15 a 19 anos (de 20,5% em 2006 para 20,1% em 2007), sendo que uma em cada cinco gestantes é menor de 20 anos (mais de 300 mil por ano) - IBGE;

... no Brasil, mais da metade (56%) dos jovens de 15 a 17 anos que abandonaram a escola são garotas e que um quarto delas (25%) parou de estudar por conta da gravidez precoce (a maior causa de abandono escolar entra as meninas no Brasil) - ONU;

... a gravidez ocorre geralmente entre a primeira e a quinta relação, sendo o parto normal a principal causa de internação de brasileiras entre 10 e 14 anos - IBGE;

... 37% dos homens tiveram sua iniciação sexual antes dos 15 anos em contraposição a 17% entre as mulheres na mesma idade - Ministério da Saúde;

... 17% dos homens entre 15 e 24 anos já tinham engravidado alguma parceira, segundo uma pesquisa feita em alguns Estados brasileiros, em 1996.

Não confunda gravidez indesejada com não planejada

Para que se estabeleça o conceito, indesejada é a gravidez consequente ao abuso sexual ou a falha do método anticoncepcional (desconhecimento total ou parcial de sua utilização). A gestação na adolescência, na maioria das vezes, é não planejada, mas como se observa em avaliações em consultas médicas e psicológicas, pode refletir um desejo inconsciente de ser mãe, levando até a uma boa aceitação e adaptação a essa nova realidade.

Mas se houvesse um projeto de educação sexual adequado já a partir do ensino fundamental, que contasse com o apoio do governo, da mídia, da comunidade, da escola e até da família, possivelmente, o planejamento acarretaria em uma melhor programação para a gestação, levando em conta fatores sociais, educacionais e de vida do "casal adolescente".

Uma vez programada uma gestação para a época adequada, deve haver um acompanhamento também planejado contando com acesso facilitado ao pré-natal, importantíssimo para a saúde do binômio gestante-bebê, incluindo, nesse processo, o espaço fundamental para o adolescente-homem, porque nenhuma mulher engravida sozinha, não é mesmo?

Quando deve ser a primeira consulta ginecológica?

É uma orientação que sempre passo no consultório e que encontra certa resistência entre as mães, entre as próprias adolescentes e, por incrível que pareça, até entre muitos ginecologistas (talvez por não estarem preparados tecnicamente para essa avaliação).

Há três momentos em que essa consulta pode ser feita:

- Logo depois da primeira menstruação;

- Antes da primeira relação sexual;

- Imediatamente após a primeira relação sexual.

Com toda certeza, quanto antes melhor. Assim, a primeira menstruação (aquela que a gente nunca esquece) pode ser o ponto de transformação que leva aquela menina a iniciar sua passagem para assumir seu papel de mulher (ou para os mais saudosistas - a menina-moça) na sociedade, já com capacidade de procriação.

Nessa primeira consulta assuntos como cólicas, TPM, corrimentos, DST, métodos contraceptivos podem e devem ser abordados, estabelecendo uma relação de confiança com o médico, evoluindo do contato mãe-pediatra-criança para o de ginecologista-adolescente.

Dia Mundial de Prevenção da gravidez na Adolescência

26 de setembro é o dia dedicado à conscientização a respeito dessa situação, que é cada dia mais frequente, não só no Brasil, mas no mundo todo. Em 2007, o tema dessa campanha foi "Viva a sua vida antes de iniciar outra" e em 2008 foi "Sua Vida, Sua Decisão".

Para 2009, com muita propriedade, abordou-se a ideia de comunicação para o conhecimento, da informação para a formação, com o tema "Sua Vida, Sua Voz: fale sobre contracepção" (Your Life, Your Voice: Talk Contraception).

Vale lembrar que as datas comemorativas devem ser usadas não só para celebração, mas, principalmente, para informação. A meta da campanha desse ano é o estímulo para encorajar os jovens a falarem sobre sexo e contracepção para que a semente da informação possa gerar frutos de prevenção de gestações não planejadas ou doenças sexualmente transmissíveis (DST).

Essas informações podem ser obtidas na família, se essa for acolhedora e tiver o conhecimento para tanto. Caso isso não seja possível, o ideal é que se busque essa base, essa confiança, que deveria ser adquirida no atendimento médico profissional.

Não se deve temer e nem sentir vergonha de abordar a importância da proteção (contracepção) com seu namorado (ou namorada), antes de iniciar sua vida sexual. Essa é uma responsabilidade que cabe ao casal, independente de idade e classe social.

Não somente no dia 26 de setembro, mas em qualquer dia, não vamos nos calar: "Sua Vida, Sua Voz" ou, como eu prefiro "Nossa vida, Nossa voz" - porque todos somos responsáveis.

Quem é o colunista: Dr. Yechiel Moises Chencinski

O que faz: Médico pediatra e homeopata

Pecado gastronômico: Brownie da padaria Bella Paulista quente com sorvete de creme

Melhor lugar de São Paulo: Qualquer lugar num feriado prolongado (Avenida Paulista, por exemplo)

Fale com o colunista: [email protected] ou acesse seu site .

Atualizado em 6 Set 2011.