Guia da Semana

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Dor, tristeza, amargura e revolta. Um misto de emoções pode tomar conta do coração, quando perdemos algum ente querido. No caso dessa pessoa ser o pai, ou a mãe, o sentimento é ainda mais forte. Durante a adolescência, período conhecido pela formação da personalidade e das incertezas, a ausência de um alicerce familiar se torna ainda mais marcante no crescimento de um jovem.

Quando parece que não há mais luz no fim do túnel, a saída é amadurecer, mesmo que precocemente, para atingir a superação de uma situação tão difícil. Pois apesar da morte ser natural à nossa existência, raramente falamos sobre o assunto, e nunca estamos preparados para lidar com a dor que ela traz.

Boas lembranças

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De acordo com a psicóloga Viviane Scarpelo, a morte não acarreta um prejuízo psicológico, mas sim, a forma pela qual lidamos com a perda. "Talvez devêssemos repensar a maneira como estamos vivendo. Portanto, é importante viver bem, estar com quem se gosta, falar sobre o amor que sente e quando a morte acontecer, por ter vivido bem, talvez seja mais fácil aceitar e agradecer por ter passado momentos tão bons e especiais".

É desse modo, que mesmo despreparados para lidar com uma perda tão grande, vários jovens conseguem dar a volta por cima nessa situação. Foi o que ocorreu com a jornalista Nádia Tamanaha, que perdeu sua mãe aos 19 anos, vítima de um problema vascular. "Minha maior dificuldade foi lidar com a dor dos outros, do meu pai, das minhas irmãs e com o vazio da casa. Mas, como eu era o xodó da minha mãe, parecia que eu me sentia mais confortável para apoiar a minha família, como se eu tivesse uma conexão especial com ela".

Aceitação

O pai de Manu* faleceu quando ela tinha apenas 10 anos. Para piorar, após o falecimento do marido, sua mãe entrou em depressão, passando a beber diariamente. "Essa época foi horrível para mim. Cheguei a buscá-la nos bares. Durante minha adolescência, acabei invertendo os papéis e cuidando dela como se eu fosse a mãe da relação", desabafa.

O caminho encontrado para superar o sofrimento, nesse caso, foi a religião. Após fazer alguns retiros e conversas com os colegas, Manu passou a se aproximar mais da igreja evangélica que freqüentava. "Hoje a relação com minha mãe é maravilhosa. Ela é minha melhor amiga! Ainda acho que terei que fazer terapia, pois sofri demais, mas aprendi a dar valor às coisas simples e hoje sou uma pessoa melhor. O importante é você não se revoltar nem questionar o que aconteceu".

Amadurecimento e superação

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Até os seus 25 anos, Gilfabio Nogueira era um jovem sem grandes responsabilidades. Trabalhava apenas para gastar seu dinheiro nas baladas com os amigos, roupas e outras coisas comuns a garotos de sua idade. Sua vida mudou radicalmente após duas grandes tragédias, que tiraram dele, no mesmo dia, o pai e a mãe - enquanto sua mãe falecia no hospital, devido a um tumor no cérebro, seu pai foi baleado com um tiro na cabeça, após reagir a um assalto.

"Eu não aceitava a situação, fiz seis meses de terapia. Não sei de onde tirei forças. Me apeguei muito à minha irmã, minha família, e à minha filha. Tive que amadurecer na marra, assumi as contas, aprendi a fazer comida e virei o chefe da casa", diz Gilfabio, que explica como o tratamento psicológico e a convivência com amigos pode ajudar quem está passando por isso. "Procurar ajuda é difícil, mas muito importante. Assim como o convívio com verdadeiros amigos, e pessoas que tiveram essa experiência, com exemplos de vida que fazem você repensar sobre a sua dor individual".

Para lidar com o luto
? Mesmo que você se sinta sem chão, nosso porto seguro está dentro de cada um, pois o que se aprendeu com o pai ou mãe continua vivo.

? O que falar no momento da morte? Talvez nada, apenas dar um abraço e mostrar que está junto para apoiar.

? Se sentir tristeza e quiser chorar, tudo bem! Cada pessoa tem um tempo para elaborar o luto e é preciso estar livre para expressar suas emoções.



Atualizado em 6 Set 2011.