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Segundo pesquisas, as medidas domésticas enganam
A realidade não é distante da brasileira. No Centro de Assistência Toxicológico (Ceatox) do Hospital das Clinicas de São Paulo, dos 1.750 atendimentos mensais em média, 60% são de crianças. Erro na dosagem e fácil acesso a remédios guardados em casa são os principais motivos. Dados da Fundação Oswaldo Cruz de 2009 corroboram. A intoxicação infantil por remédios correspondeu a 36,1% dos casos nacionais.
As variações entre as medidas domésticas são grandes. Numa mesma "referência", podem ir de 2,3 mililitros (ml) a 7,3 ml, no caso da colher de chá, e de 6,7 ml a 13,4 ml nas colheres de sobremesa. Os diversos tipos de copo também podem causar comprometimento nas fórmulas caseiras para desidratação. A referência correta é de 200 ml.
O problema pode afetar a todos, mas causa males principalmente nas crianças. "Por ser um organismo em desenvolvimento, erros constantes e repetidos podem agravar doenças e levar a complicações maiores que a causa inicial do tratamento" argumenta Clóvis Francisco Constantino, médico e presidente da Sociedade de Pedriatria de São Paulo.
Problema antigo e persistente
As colheres, seringas e tampas dosadoras encartadas nos remédios deveriam evitar essas preocupações. No entanto, segundo Antony Wong, médico-chefe do Ceatox do HC, muitas das amostras grátis distribuídas em postos e consultórios não contêm os plásticos. "E quando vêm encartadas, é difícil identificar as dosagens", comenta.

Mães, pais e responsáveis devem se certificar da quantidade em mililitros antes de dar o remédio
De tão fina, a linha graduada quase some, impedindo a dose certa. Mas os medicamentos só vão agir corretamente se mantiverem quantidade constante no organismo por um tempo determinado. "Com um dosagem abaixo da necessária não se estará tratando a enfermidade corretamente. Já uma dosagem superior pode causar variados níveis de intoxicação, com diferentes sinais clínicos de acordo com o medicamento ingerido", comenta Constantino.
O erro na frequência das doses também prejudica a concentração do princípio-ativo no organismo. Se há atrasos, o nível caí. Quando adiantado, há sobredosagem. Nas infecções bacterianas, o erro nas doses dos antibiotícos pode não matar os microorganismos e desenvolver resistência às bactérias, exigindo remédios mais fortes para a cura.
As intoxicaçõe mais comuns acontecem com antiestaminicos, anti-inflamotórios hormonais e não-hormonais e analgésicos. Os problemas variam de acordo com a medicação. Confusões pela cor de embalagens também acontecem. "Já vi o uso de bronco-dilatadores no lugar de remédio para cólica, provocando o aumento das batidas cardíacas e podendo chegar a até uma parada cardíaca, um risco à vida da criança", relembra o doutor Wong.
Para não haver erros

Envolver a criança no acompanhamento do tratamento ajuda a reduzir erros
Atenção redobrada é o melhor remédio para evitar esses problemas. "A mãe e o pai precisam sair da consulta com o entendimento correto de como proceder seja qual forma a enfermidade, da mais simples a mais complexa. O médico precisa deixar claro o tratamento, verbalmente e por escrito na receita", reforça Constantino, da Sociedade Pediátrica.
Os especialistas reforçam ainda o uso de seringas graduadas de fácil visualização. Além de serem mais precisas, impedem sobras do medicamento. Ao utilizar os plásticos encartados nos remédios, não confunda a capacidade da colher ou tampa com o prescrito pelo médico. Confira a quantidade exata na receita.
Cápsulas e compridos para as crianças também devem ser evitados. É melhor pedir ao clínico outras formas para a medicação. Atenção triplicada na contagem das gotas em frascos e medidores.
Tudo isso exige atenção. Logo, na hora de dar o remédio à noite, certifique-se que está bem desperta para medicar o pequeno. Se a criança já tiver melhor entendimento, envolva-a no tratamento destacando a importância da atenção à saúde. É na dose que está a diferença entre o remédio e o veneno.
Atualizado em 6 Set 2011.