Guia da Semana

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Você chega ao mercado e seu filho logo pega um carrinho para ajudar nas compras. Nas prateleiras, ídolos infantis estampam os rótulos de diversos produtos e enlouquecem as crianças. E lá vão para o caixa bolachas, salgadinhos, sabonetes e até papeis higiênicos adaptados aos gostos mirins. Na hora de comprar material escolar, a cara brincadeira se repete. Os baixinhos se portam como grandes consumidores e escolhem todos os itens da lista. Assim, cada vez mais os pequenos interferem no orçamento familiar e influenciam os hábitos de consumo de famílias de todas as classes sociais. Mas como enfrentar o assédio do comércio e as armadilhas do consumo?

Antigamente, eram os pais que decidiam o que as crianças deveriam fazer, comer, assistir. Hoje, com o predomínio de uma sociedade do consumo e da informação, a realidade é outra. São as crianças que tomam as decisões e, assim, influenciam os gastos da família. O mercado, por sua vez, também se transformou e passou a fazer campanhas e produtos voltados para esse novo filão. De acordo com o especialista em educação financeira, Álvaro Modernell, para não sucumbir às tentações consumistas de seus filhos, os pais não devem ceder a chantagens emocionais e ensinar desde cedo a lidar com o dinheiro.

"Atualmente, os pais são mais novos, menos experientes, mais ausentes e divididos. Em consequência disso, sentem-se fragilizados diante dos filhos e, muitas vezes, sucumbem às famosas chantagens emocionais utilizadas por eles para obter coisas, geralmente associadas ao consumo", explica Modernell. Para enfrentar essa situação, a família deve se preparar e incentivar a educação financeira dos pequenos. "As crianças devem ser orientadas a cuidar de seus brinquedos, estimuladas a fazer escolhas, esclarecidas quanto às diferenças entre necessidades e desejos. E isso não envolve dinheiro e não depende da idade. Essa base deve ser transmitida antes mesmo de que elas aprendam a lidar com o dinheiro", afirma.

Escolinha de finanças

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Segundo o especialista, dar bons exemplos é a melhor forma de ensinar os pimpolhos a postergar desejos em nome de benefícios futuros. "É importante que as crianças percebam desde pequeninas que mais vale uma galinha dos ovos de ouro do que a ambição desmedida, e que levar a vida como formigas ou cigarras nos levam a caminhos diferentes", diz. Porém, ele afirma que comportamentos exemplares precisam ser construídos em bases bem fundamentadas. "Os pais devem buscar orientação para contribuir mais efetivamente com a educação financeira dos filhos", aconselha.

Para Modernell, crianças criadas em lares onde bons hábitos financeiros são cultivados terão mais oportunidades de sucesso nessa área econômica. "Pesquisar preços, comparar marcas, programar compras, fazer orçamentos, controlar impulsos, planejar o futuro, entre outras atitudes que revelam maturidade financeira, são costumes que influenciam positivamente o ambiente familiar. E as crianças percebem isso com facilidade. Assim como percebem os maus hábitos. E atenção! Elas copiam tudo", alerta.

Pequenos consumidores

Ao ir à reunião da escola, você descobre que o seu filho está devendo horrores na cantina e que todos os dias ele compra besteiras sem ter dinheiro. Ou então você percebe que na sua fatura de cartão de crédito existem diversas compras em sites de jogos online. Calma! A situação é chata, mas não é motivo de desespero. Álvaro Modernell explica que não há nada de mal em consumir. O problema está nos excessos, na falta de limites, pois o consumismo muitas vezes está associado a tentativas de suprir carências em outras áreas. E muitas vezes essa atitudes, além das consequências financeiras para a família, prejudicam a felicidade da própria criança.

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Segundo o especialista, a primeira coisa a fazer quando você descobrir que seu filho gasta mais do que a mesada é prestar atenção para tentar descobrir a causa desse comportamento. Muitas vezes essa situação está associada a questões psicológicas ou de desequilíbrio familiar. Nesse caso, o melhor caminho é buscar ajuda profissional, de psicólogos, tanto para a criança quanto para os pais. Mas só isso não basta. Às vezes, também é preciso que a família mude os hábitos. "É preciso conversar mais com a criança. Procurar ajudá-la. Estabelecer regras, impor limites, esclarecer situações, mostrar as consequências do consumo irresponsável".

De acordo com Modernell, os pais devem investir também em melhorar a qualidade do convívio. "Dedicar mais tempo à criança, fazer mais atividades em conjunto, de preferência longe dos shoppings, e ocupar melhor o tempo. Enfim, é preciso diminuir as oportunidades e a importância do consumo para que a criança se sinta menos tentada", esclarece. "É bom também diversificar os instrumentos de apoio, por meio de livros, jogos, fábulas, palestras, oficinas. Felizmente educação financeira deixou de ser tabu. Há material disponível para todos, em todos os níveis. O importante é agir para corrigir essa situação", completa.

Modernell afirma que uma criança consumista que não seja adequadamente educada pode se transformar num adolescente problemático e em um adulto desequilibrado financeiramente. "É mais fácil e mais prudente investir na educação financeira infantil, pois todos se beneficiam. Crianças que ganham ou compram tudo o que querem, a qualquer hora, sem planejar, sem precisar escolher, sem ter que esperar, certamente não valorizam tanto um brinquedo quanto outras que cultivam sonhos, alimentam desejos, acalentam vontades, que precisam fazer escolhas e necessitam esperar", diz.

Atualizado em 1 Dez 2011.