Guia da Semana

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Quando crianças, ao recebermos um brinquedo novo, é assim: podemos desejar ganhá-lo por meses, gostar muito na hora, mas depois percebemos que não é tão brilhante, tão engraçado, tão lindo como imaginávamos... enfim, ele não pode tudo, não faz tudo, não é tudo: é restrito àquilo que foi feito e que nós não conseguimos mensurar antes de brincar com ele!

Os presentes que recebemos na infância servem por isso para nos ensinar a viver a realidade. Aliás, já percebeu como esse verbo é difícil de se conjugar, em qualquer tempo? Veja só:

eu vivo (que bom, que ruim, que sofrimento, etc);
tu vives (que beleza é a vida dele, que tristeza, que drama......)
ele vive (que droga!, ele vive sem mim...) ;
nós vivemos (como é difícil as vezes viver com o outro...como é bom viver com o outro certo, amado, querido...como é triste esse verbo quando não se ama...)
vós viveis (ah, como conseguem?)
eles vivem (e, às vezes, nós só assistimos....)

Eles vivem, eles viveram, eles viverão: quanta rejeição para nós!!! Existem apenas duas pessoas nessa conjugação, que nos incluem: eu vivo, vivi, viverei e os vivemos, viveremos, viveríamos...

Presentear é um ato antigo, quase uma bandeira de paz, é selar um contrato, é estar presente, estando longe e repetirmos esse gesto com nossas crianças e com outros adultos, nem sempre porque os amamos, mas porque precisamos estar um pouquinho presentes naquela outra vida, viver em todos os tempos verbais essa multiplicidade de sensações, que é o outro.

Observando, concluo que o maior presente poucos dão aos outros, porque é caríssimo: é o seu tempo, sua atenção e principalmente, sua presença. Não dá para comprar nem na mais fina joalheria, nem está nos cofres dos reis mais importantes: está no âmago de cada um, o quanto da única fortuna que se possui realmente, que é o "tempo/vida" que se pode ou se quer ofertar...aquele minutinho, aquela hora, aquele dia.

Pais e mães, ausentes da vida de seus filhos, gostam de presentear com brinquedos caros, sofisticados, por vezes além de suas posses, justamente por isso: não tendo como dar seu tempo real junto ao filho, lhe oferecem algo que representa o motivo pelo qual estão longe deles por tanto tempo: ganhar dinheiro, posição, prestígio... e isso para poder ter cada vez menos tempo com eles, mas, pelo menos para eles, há mais dinheiro....Também não é à toa que dar um relógio caríssimo aos filhos está na lista de tantos pais.


Esta é uma boa hora para se refletir sobre presentes e presença: é escolher dar agora aquilo que a criança, o outro, mais precisa neste momento: um presente lindamente embrulhado ou a sua presença, o seu abraço, o seu tempo, sem subterfúgios ou justificativas.

Quem é a colunista: Maria Irene Maluf - Especialista em Educação Especial e em Psicopedagogia; Membro Honorário da Associação Portuguesa de Psicopedagogos; Presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia- ABPp - gestão 2005/07; Organizadora de algumas publicações na área da psicopedagogia pela Vozes e WAK Editora; é colunista da revista Direcional Educador. Consultora de Publicações Científicas da ABPp e Editora da revista Psicopedagogia .

O que faz: Atende crianças e adolescentes com dificuldades e transtornos de aprendizagem em seu consultório de Psicopedagogia em São Paulo; Leciona como professora convidada no Curso de Aperfeiçoamento em Psicopedagogia do Instituto Sedes Sapientiae; Dá assessoria Psicopedagógica às escolas de ensino fundamental e médio, além de ministrar palestras, cursos e conferencias.

Pecado gastronômico: C H O C O L A T E !!!

Melhor lugar do mundo: Barcelona - Espanha. Mas, para esse lugar ser perfeito de verdade, é preciso estar lá e junto das pessoas que se ama .

Como falar com ela: [email protected] ou ligue (11) 3258-5715.

Atualizado em 6 Set 2011.