Guia da Semana

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O mais novo casal da praça do bairro do Limão

Nas últimas semanas de maio, um beijo rendeu mais comentários do que aquele que selou o casamento do Príncipe William com Kate Middleton. Foi o de Mônica, antes uma menina dentuça e enfezada, no Cebolinha, o menino de fala trocada e englaçada que arquitetava todos os planos para derrotá-la e por as mãos no Sansão, o coelho de pelúcia mais letal do planeta. A cena , registrada na capa da edição número 34 de Turma da Mônica Jovem (TMJ), virou instantaneamente notícia após a divulgação da ilustração por Maurício de Sousa, no Twitter.

"Eu diria que esse namoro meio que arrojado nasceu por pressão dos fãs, sim. Resolvi atender à natureza dos leitores e à dos personagens, jovens de 15 para 16 anos", declara o inventor dessa turminha que povoa o imaginário brasileiro (e mundial) há mais de 50 anos ao Guia da Semana. O burburinho e a aposta na edição nº 34 levaram ao Grupo Panini a adiantar a distribuição e aumentar a tiragem para 500 mil exemplares. Para além do calor desse histórico beijo, a repercussão mostra a força dos gibis teens, que juntam referências dos mangas e da internet para dialogarem diretamente com o seu público.

No lançamento da revista, em agosto de 2008, Maurício de Sousa disse que as características principais de cada personagem do bairro do Limão seriam mantidas, só que adaptadas ao contexto dos adolescentes na faixa dos 15 anos. A nova ambientação, segundo o cartunista, possibilitaria a discussão de temas mais atuais, como namoro, drogas e mercado de trabalho, chegando ao beijo em questão - sonhado por uns e odiado por outros.

"Falamos com uma faixa de público muito diversificada, de crianças que estão vendo a turma jovem pela primeira vez, jovens que se identificam e adultos que deixaram a turma clássica pra trás e não gostam que mexam nas suas lembranças. Entendo este público também e, quando é necessário e possível, dou satisfação para explicá-los que os quadrinhos devem ser dinâmicos, correndo atrás da vida como ela é", argumenta Maurício de Sousa.

Foi essa filosofia que fez o desenhista apostar não só numa nova ambientação, mas embarcar de jeito no estilo da Terra do Sol nascente. Os desenhos de TMJ buscam se aproximar ao máximo dos mangas japoneses: são feitos em preto e branco e os personagens têm aqueles olhos esbugalhados. O tamanho tdo gibi é um pouco maior, com uma disposição dos quadros bem diferentes a que estamos habituados. A única regra do padão ocidental mantida foi a da ordem de leitura e manuseio: da esquerda para a direita.

Seis meses depois, seria a vez de Luluzinha e sua turma,criados em 1935 pela cartunista americana Marjorie 'Marge' Henderson Buell, ganharem sua versão teen, publicada pelo selo Coquetel do Grupo Ediouro.

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Os jovens Lulu e Bola, a um passo do romance

"Já estávamos nesse projeto quando veio o lançamento do Maurício. Compramos os direitos da Classic Media, divisão do grupo editorial Random House, para poder criar a versão a partir das características da Little Lulu original. Mandamos uma verdadeira bíblia com todo o universo que iríamos apresentar, com todo o cuidado de delimitar bem a caracterização dos personagens de maneira bem afetiva", explica do editor Daniel Stycer. Lulu Teen também trabalha com as mesmas referências ao universo do manga, e promete, para a edição comemorativa de dois anos, mais um beijo - dessa vez entre a esperta mocinha e Bola - hoje um meninão magro e guitarrista de uma banda de Rockabilly. Ambas as revistas são mensais, variando de 50 a 90 páginas.

Tecnologia e boas histórias

A estratégia de ampliar os universos de personagens clássicos é conhecida por quem acompanha o mundo dos quadrinhos, principalmente as revistinhas de super-heróis. Só que, no caso dos gibis brasileiros, a estratégia funcionou ao contrário. Diego Figueira, pesquisador de histórias em quadrinhos, redator do site Universo HQ e editor do blog Pop Balões, destaca a originalidade das ações. "Enquanto Batman, Superman e turmas como Os Flintstones e Scooby Doo ganharam versões infantis, os personagens dos nossos gibis de infância cresceram e apareceram. Não conheço nada no mesmo formato e com o mesmo impacto realizado em outros países", analisa.

Para o pesquisador, o direcionamento teen mostra como esses personagens são ricos e "polivalentes", ampliando as narrativas e traços. "Quanto mais um personagem permite interpretações e releituras, mais forte ele se torna. E comunicar uma mensagem a crianças, adolescentes e adultos, retratando os personagens em diferentes formas e se valendo do talento de diversos artistas é uma das coisas mais interessantes nos quadrinhos".

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O criador e seus filhos adolescentes: renovação do público e debate de novos temas orientam a publicação de Maurício de Sousa.

Maurício de Sousa concorda. "Não encaro como uma dificuldade falar com adolescentes. Me preocupo é em tomar cuidados especiais na busca da fala adequada, dos gestos e da representação do vestuário. Não acredito que exista um limite para a renovação desses personagens. Se o público está se renovando constantemente, temos de seguí-lo", destaca.

O fascínio e acesso à tecnologia são outros ganchos explorados pelas editoras."Já nascemos multiplataforma, com blog, inserção nas redes sociais e interatividade com os leitores por meio dos perfis e comentários dos personagens via Twitter. Ainda não temos projetos para Ipad nem nenhum outro formato, mas à medida que forem surgindo, a gente vai adaptando", explica o editor de de Lulu Teen, Daniel Stycer, da Ediouro.

O Grupo Panini também explora o novo filão. "Hoje esse público está antenado nos novos meios e interagindo o tempo todo. O lançamento da TMJ nº 34 já é um case, pois conseguimos preparar toda a expectativa nas redes sociais a partir do anúncio oficial feito pelo Mauricio no Twitter, assim mobilizando fãs de todo o Brasil ", argumenta Marcelo Adriano da Silva, coordenador de marketing da empresa. Depois de tantos beijos, brigas e abraços, fãs e leitores de todas as idades vão continuar a acompanhar os passos dessas duas galeras pelo mundo dos quadrinhos do século 21.

Atualizado em 1 Dez 2011.