Guia da Semana

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Henrique França Gouveia é um garoto um tanto atípico. Enquanto esperava o elevador com alguns CDs e um pen drive em mãos, seus colegas do prédio aproveitavam a tarde de sábado para correr atrás de bola e os seus amigos de escola provavelmente ajeitavam as franjas ´emos´ para o passeio do fim do dia. Com uma camisa dos Beatles que serviria em alguém com o dobro de sua idade, o menino de 12 anos conta que é fã da banda de Liverpool e que tem toda a discografia dos Fab Four em MP3. "Até as raridades", faz questão de ressaltar.

Caso raro nesses tempos, em que o bombardeio midiático lança a cada semana uma melhor banda da década, Henrique não foi influenciado por uma pessoa mais velha nem precisou voltar no tempo para se tornar fã dos Beatles. "Eu conheci a banda no vídeo game", afirma, referindo-se ao jogo The Beatles: Rock Band. O game possibilita aos jogadores "tocarem" músicas das diferentes fases do quarteto que é uma das marcas registradas do pop mundial.

"As bandas de hoje são diferentes, não têm mais aquela coisa de tocar bem só usando os instrumentos, agora é tudo cheio de frescura, muito eletrônico", justifica ao ser questionado sobre o porque prefere os Beatles aos grupos contemporâneos.

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Mariana Ortega Vieira, 15 anos, também tem um gosto musical que destoa da preferência da maioria das meninas de sua faixa etária. "Eu só gosto de música dos anos 60 e 70", revela. Em seu quarto, ao invés de pôsteres de galãs de séries e filmes do momento, está a capa do clássico LP Meus Caros Amigos, de Chico Buarque, e de outros ídolos da MPB da época.

Além de Chico, ela é fã de Geraldo Vandré e Elis Regina. "Eles cantavam coisas que os cantores de hoje em dia não cantam mais", justifica. Mariana é radical em suas preferências e não escuta de nenhuma banda atual. "Nem o último disco do Chico Buarque ( Carioca, lançado em 2006) eu curti, prefiro os sons mais antigos mesmo".

Foi uma prima dela, à época estudante de história, que lhe apresentou esses artistas. "Ela gravou um CD com um monte de MP3 desses caras, hoje eu gosto mais deles do que ela [a prima] que foi morar fora do país e começou a ouvir mais música gringa". E com quem ela compartilha esse gosto musical atualmente? "Com ninguém, na escola o pessoal gosta mais de emo e Lady Gaga, às vezes até tiram sarro de mim, até a minha mãe fala que eu tenho que escutar música de gente da minha idade", conta sorrindo.

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Um dos aspectos que chama a atenção nas histórias de Henrique e Mariana é que, por mais paradoxal que possa parecer, foram as inovações tecnológicas que lhes possibilitaram o acesso aos ícones da cultura pop de décadas passadas. E esse intercâmbio entre o velho e o novo é muito presente. Ambos escutam os sons das antigas em seus iPods, o que era impensável na época em que os discos que eles ouvem foram concebidos. Não é demais lembrar que o MP3 estava muito longe de existir.

A forma como a música de ontem é consumida hoje é um tema que renderia longas discussões. O que conta mesmo é que, independendo de todas as novidades, parte dessa nova geração está escutando as canções do passado e dando novos significados tanto aos seus gostos quanto às músicas em si, que, com o perdão do clichê, provam que não têm fronteiras.


Atualizado em 6 Set 2011.