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Fotos: Getty Images

Os pais devem tomar cuidado para que o controle remoto não se torne o melhor amigo do filho

Você alimenta seu filho e o coloca para dormir. De repente, ele começa a chorar desesperadamente e você não consegue conter os berros. Balança daqui, chacoalha de lá, brinca, faz uma gracinha, e nada. Nessa hora você olha para o lado e ela está lá, pronta para entretê-lo. Uma ótima aliada nesse momento tenso parece ser a TV.

Porém, um estudo realizado recentemente pelo Children´s Hospital Boston e pela Harvard Medical School (EUA) recomenda que os bebês não assistam TV antes de completar dois anos. Ela pode influenciar no desenvolvimento do processo de aprendizagem e na aquisição de conhecimento da criança.

Sinal de perigo

Os irmãos, a bola de futebol e os vizinhos acabam cedendo espaço para desenhos animados, programas infantis, seriados, filmes e vídeos musicais. Dessa forma, o controle remoto torna-se o melhor amigo do seu filho. O estudo feito pelos centros especializados visitou mães e crianças logo após o nascimento, aos seis meses e aos três anos. Durante esse período, as mães completaram questionários sobre os hábitos televisivos dos pequenos, do primeiro ao segundo ano de vida. O resultado mostrou que a exposição das crianças às telinhas não é benéfica para o desenvolvimento cognitivo (aumento do processo de aprendizagem), mas também não chega a ser prejudicial.


O ideal é mesclar o uso na televisão com outras atividades motoras

Segundo a pediatra Maria Cristina Senna Duarte, o recém-nascido precisa de uma estimulação ativa com a face humana, e a TV é um instrumento passivo de interação. "Nos primeiros dois anos de vida, não é muito ideal. Colocar um bebê na frente da TV não é estímulo. A primeira coisa que um eles aprendem é a focar o olho no olho e uma ação em resposta ao que você faz. Assim, estimula as relações humanas. A TV tem diversas cores, o som, mesmo assim é passiva, pois não tem o contato", destaca.

Com a antena ligada

Ainda de acordo com os pesquisadores, novos estudos são necessários, mas eles já alertam os pais sobre a existência de análises que indicam que ver TV antes dos dois anos não é a melhor opção de estimular o aprendizado dos pequenos. De acordo com a pediatra, à medida que se estimula o bebê na fase que vai desde o nascimento até os dois anos (denominado período neuromotor), você contribui com a interação e o desenvolvimento físico. "Ele vai engatinhar, andar e é a fase de progresso. Quando você coloca seu filho sentado na frente da TV você o limita a isso, e nada mais", enfatiza Maria Cristina.

O hábito de ver TV não deve ser simplesmente banido da vida do seu pequeno. Contudo, conforme a pediatra, deve ser utilizado em alguns momentos, com limitações e durante poucos minutos. "Uma criança que só come ou dorme vendo televisão passa uma parte do tempo que deveria estar conhecendo coisas novas, em uma fase de experimentação, assistindo passivamente a imagens e cores. Não é para proibir, mas precisa ponderar", ressalva.


A TV não estimula a inteligência das crianças como o contato fisíco

Sem crise

A discussão a respeito de como levar a relação criança-TV não é novidade. Alguns dizem que é má, outros consideram-na enriquecedora, dependendo do conteúdo. Mas em um ponto todos concordam, que o consumo de TV e tecnologia audiovisual em geral, aumenta a cada dia.

Não existe uma idade ideal para começar a liberar seu filho a assistir TV. Afinal, existem programas educativos que, de certa forma, contribuem para o aumento da concentração, e seu pequeno pode aprender com algumas coisas. Mesmo assim, Maria Cristina não descarta riscos futuros. "Depois de um certo tempo, uma criança que ficou sempre vendo TV passa a crescer com esse hábito e vai fazer isso, correndo o risco de ficar obesa. Aliás, essa é a maior causa de obesidade infantil nos dias de hoje", ressalta.

Em relação à programação, as crianças, como vivem em fase de construção, costumam imitar o que assistem. Se assistir a programas violentos, não necessariamente será violenta, mas o melhor a fazer é procurar alternativas educativas. "O que interfere mais é o meio onde ela vive. Claro que vendo sempre um programa que estimule isso, e dependendo da personalidade da criança, ela pode repetir o que vê sem saber o que está fazendo", afirma a pediatra.


Um dos maiores problemas causados em crianças sedentárias é a obesidade infantil

Solução

Servindo como meio de entretenimento, educacional ou até mesmo apenas para distração, a TV está presente na vida da maior parte da população e as crianças não ficam de fora. Porém, a melhor forma dos pais estimularem seus filhos ainda é buscar reunir a família e realizar uma programação em conjunto, como uma caminhada, uma corrida ou jogar bola. Além de melhorar o convívio, faz bem para todos.

A TV é um meio de entretenimento, mas deve ser bem usada, pois ao se tornar um hábito para seu filho pode criar problemas futuros, de acordo com a pediatra. "A criança chega da escola, joga a mochila em um canto, liga a TV, a empregada ou a mãe já traz um prato de comida, ela come vendo, dorme à tarde vendo, acorda, janta assistindo TV. Dessa forma, elas podem engordar, criar problemas de coluna e, no futuro, tornarem-se adolescentes frustrados".

Atualizado em 6 Set 2011.