Guia da Semana

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Muito se fala em rotina, regras, fórmulas (umas mágicas, outras reais e consagradas) para educar os filhos. Novas linhas de educação, novas regras de alimentação saudável. Em passeios e atividades - sempre culturais -, a criança não deve apenas passear, mas aprender algo durante o trajeto.

Como Pedagoga, estou sempre escrevendo e dando dicas de como ajudar os pais a educar seus filhos. Não posso negar que as dicas, quase sempre, falam sobre regras e estímulos, voltadas a eles que relatam dificuldades na tarefa de educar, colocar limites, ensinar o filho a alimentar-se corretamente, etc.

Mas hoje escrevo para outro grupo, um grupo que está no outro extremo: famílias rígidas demais, que seguem todas as regras à risca.

Escrevo para estas famílias, primeiro para dar-lhes os parabéns pelos excelentes resultados na educação de seus pequenos.

Mas também para lembrar-lhes que, nesta rotina quase perfeita que conquistaram, cabem sim, pequenos pecados que de forma alguma prejudicarão todo o trabalho construído ao longo de cada dia da vida de seus filhos.

Em minha área de trabalho, convivo com todos os tipos de famílias e seus modos de educação. E fico um pouco angustiada ao presenciar situações como a da criança, filha única, que contava com uma rotina riquíssima, programas e mais programas culturais, teatro, cinema, exposições (isso, desde que nasceu!). E lá pelos seus 6 anos, ela simplesmente se estressou: chorava, implorava para que os avós a "salvassem", pois tudo o que ela mais desejava era poder "ficar quieta em casa e brincar com seus brinquedos" ou simplesmente brincar com os priminhos, sem compromissos. História real!

Tem também a outra criança (esse tipo, muito mais comum do que se imagina), que de tão proibida de chegar perto de "alimentos perigosos" como brigadeiros e salgadinhos, quando se via livre dos pais por perto, "atacava" de forma feroz e ilimitada as bandejas de guloseimas nas festinhas de aniversários, comendo tanto até passar mal.

Não quero, aqui, criar polêmicas, claro que é importante educar os filhos e colocar limites no que diz respeito à alimentação, conheço as desvantagens dos salgadinhos, doces e refrigerantes. Também controlo os meus filhos quanto a isso e desejo que aprendam a comer de forma saudável.

E é claro que cultura é importante para auxiliar a educação das crianças.

A questão que preocupa é o exagero, tudo o que é demais, que sai do controle. Se comer salgadinhos demais faz mal, a proibição severa também faz. Se ficar horas e horas na TV ou sem fazer nada faz mal, uma rotina extremamente carregada de compromissos também faz.

Conheço uma criança, de aproximadamente 3 anos, que de tão acostumada a ter sua vida e suas tarefas determinadas em detalhes, perdeu (ou nunca teve) a capacidade de brincar naturalmente. Fica muito bem na escola quando em atividades dirigidas por suas professoras, mas ao ficar no parque nas atividades livres, para poder criar suas próprias brincadeiras, fica perdida e infeliz. Não sabe "ser criança".

É preciso saber viver, saber dosar tudo o que o mundo pode nos oferecer. Nós podemos, sim, ensinar isso aos nossos filhos. Eles somente aprenderão a ter equilíbrio em suas vidas vivendo, desde já, a vida com equilíbrio. Entendendo que eles podem "quase" tudo, mas nos momentos certos e nas quantidades certas, seja em sua alimentação ou nas mais variadas situações da vida.

Nós, pais, não somos onipresentes, não poderemos estar sempre com eles controlando todas as suas decisões. Por isso mesmo, devemos ensiná-los a fazer as escolhas certas. E confiar. E saber que, eventualmente, eles errarão em suas escolhas, mas aprenderão no decorrer da vida, pois foram bem educados. Em curto prazo, é mais difícil ensinar do que fazer por eles. Mas ao longo da vida, fará toda a diferença!

Desta forma, poderão curtir o pudim de leite feito com tanto carinho pela vovó para o almoço de domingo. Ou os brigadeiros e salgadinhos das festas de seus melhores amigos. Ou ainda, as brincadeiras descompromissadas nas tardes de férias ou recreio da escola. Doces lembranças que farão parte da infância sem prejudicar o crescimento e aprendizagem.

Leias as colunas anteriores de Cláudia Razuk:

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Quem é a colunista: Cláudia Fernanda Venelli Razuk.

O que faz: Pedagoga e coordenadora do colégio Itatiaia.

Pecado gastronômico: Se é pecado, melhor não comer! Saborear o que eu gosto com prazer e sem culpa, é essencial.

Melhor lugar do Mundo: Minha casa, com meu marido e filhos e em qualquer lugar rodeada dos verdadeiros amigos.

Fale com ela: [email protected]

Atualizado em 6 Set 2011.