Guia da Semana

Foto: photocase

As denúncias em delegacias são raras, mas as queixas em consultórios de terapeutas estão cada vez mais freqüentes. A vergonha dos pais que apanham dos filhos só permite que eles revelem o drama que vivem sob a garantia do sigilo médico. Não há estatísticas oficiais sobre este tipo de violência, mas na opinião da terapeuta familiar Ângela Elizete Herrera, fundadora da Vinculovida (Escola de Formação de Terapeuta Familiar Sistêmico Breve), este é um fenômeno da sociedade contemporânea: "As pessoas de 40, 50 anos, foram criadas numa época de muita repressão. Hoje, esses pais querem fazer o oposto com os seus filhos".

O excesso de liberdade da garotada é o grande responsável pela falta de controle dos pais: "Sem limites, o adolescente ou a criança se sente desamparado. É dando limites que os pais mostram que gostam dos filhos", explica a psicóloga. "Tem mães que acham ´bonitinho´ quando uma criança de três ou quatro anos bate e chuta as pessoas diante de uma recusa". Segundo a especialista, é aí que está o erro. As limitações devem ser impostas desde cedo para que a criança geniosa não se transforme num delinqüente juvenil.

Sintoma
Foto: photocase
Por causa do dia-a-dia corrido, com uma rotina de trabalho cansativa, muitos casais tentam suprir sua ausência fazendo todas as vontades do filho. Assim, a palavra "não" vira raridade no processo educativo e, quando se deparam com uma resposta negativa, os jovens se rebelam, chegando ao extremo da agressão física.

Na opinião da terapeuta familiar Fátima Menon, a violência não é o problema maior, mas sim, um sintoma de algo não vai bem: "A família deve estar atenta a comportamentos que saiam da normalidade. Quando detectados no início, uma conversa resolve. A negligência só faz o problema crescer e muitas pessoas só procuram ajuda quando a situação já está fora de controle", esclarece.

A agressividade não escolhe filhinhos de papai ou famílias de baixa renda: "Inicialmente, todas as famílias estão sujeitas a conflitos, a diferença é que algumas têm estrutura para lidar com eles, outras, não. As relações familiares são difíceis e devem ser cuidadas", diz Dra. Fátima. Entre as razões que motivam este comportamento, pode-se destacar a necessidade de carinho e atenção, ciúme dos irmãos, disputa de poder ou imitação do comportamento agressivo dos pais.

Maristela Pereira sofre há seis anos com as agressões do filho Juliano, de 19: "Desde a morte do pai, ele se voltou contra mim. Não me respeita, não me obedece. Nossa família sempre foi estruturada, frequentamos a igreja demos uma boa formação para ele. Agora ele não quer estudar, não trabalha, não faz nada o dia inteiro. Já fui a psicólogos, psiquiatras e estamos fazendo terapia familiar". Atualmente, Juliano cumpre uma medida sócio-educativa por ter agredido e tentado matar o padrasto: "Eu já pedi para o meu filho sair de casa, é uma carga muito grande para mim. Mas não vou desistir dele", desabafa.

Foto: Arquivo pessoal
Culturalmente, a imagem da mãe está associada a uma imagem mais afetiva, enquanto o pai é o exemplo de autoridade. Por isso, as mulheres sofrem mais com os abusos dos filhos. "Há exceções, as estruturas familiares hoje não são tão rígidas, há mulheres que comandam empresas, homens super carinhosos, há famílias monoparentais, onde apenas uma das figuras está presente", explica a Dra. Ângela. Entre toda essa mistura, acontece a inversão de papéis, com os filhos mandando na casa.

Banalização da violência
Na opinião da médica, o conceito de que ter é mais importante do que ser foi universalizado e os jovens perderam a noção do humano. Eles não têm a dimensão do que uma agressão representa, principalmente quando as vítimas são os pais: "A família é a primeira responsável pela desconstrução da violência, depois aparecem a escola, os amigos, a igreja. A agressão é a perda do controle, por isso é importante ter alguém que segure."

Os filhos agressores não tem medo das consequências, pois acham que nunca serão denunciados. De fato, estes casos só chegam aos tribunais quando os pais ficam com medo de que algo mais grave aconteça. Assim que a ocorrência é registrada, a delegacia abre inquérito para investigar e, em seguida, encaminha à Vara da Infância e Juventude. Se considerado culpado, o adolescente recebe medidas educativas que podem variar entre advertência, reparação de danos, prestação de serviços à comunidade. Em casos extremos, como ameaças graves, lesões ou homicídios, a punição pode ser a internação.

O ideal é que a família procure ajuda de especialistas no início dos conflitos. Quanto maior o tempo em que a situação é prolongada, mais problemas a família irá enfrentar.

Serviço:

Angela Elizete C.Herrera - Terapeuta individual, de casal e família
Vinculovida - Rua Capitão Cavalcanti, 216 - Vila Mariana - São Paulo
www.vinculovida.com.br
[email protected]

Fátima Menon - Terapeuta familiar Rua 28 de Setembro, 2383 - Centro - São Carlos - SP Fone: (16) 3307-5784

Atualizado em 6 Set 2011.