Guia da Semana

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O termo superdotado é usado para indicar qualquer pessoa que se destaque das demais numa habilidade geral ou específica, dentro de um campo de atuação. Se você acha que apenas os gênios das ciências exatas podem receber a classificação, esqueça. A capacidade humana possui diferentes vias de expressão, sendo assim, existem quatro tipos principais de superdotação: inteligência, que é a capacidade de aprender, subdividida em lógico-matemática ou lingüística; criatividade, que é a capacidade de produzir algo, ao mesmo tempo, inusitado e útil; sócio-afetiva, que é a facilidade em lidar com as pessoas; e, finalmente, sensório-motora, que é a função física do cérebro, com extraordinária capacidade sensorial, como visão ou audição, e motora, como equilíbrio e reflexos.

A probabilidade indica que de 3 a 5% da população tem capacidade superior à média em alguma área de aptidão. Mas este potencial não constitui um traço fixo, pode ser estimulado ou inibido pela interação entre plano genético, ambiente físico e social durante toda a vida. Por isso, a escola desempenha um papel muito importante. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) declara que é obrigação dos sistemas de educação atender aos alunos excepcionais, inclusive os superdotados. Entretanto, no Brasil, existem pouquíssimas iniciativas, afirma Zenita Cunha Guenther, Fundadora do CEDET (Centro para Desenvolvimento do Potencial e Talento) e autora de diversos livros sobre o tema: "A lei é boa, mas não é cumprida".

A primeira dificuldade é identificar as crianças e adolescentes superdotados. Os famosos testes de Q.I. (Quociente de Inteligência) definem a dotação pelos pontos alcançados, porém, o resultado retrata apenas o que foi aprendido, e não a capacidade do indivíduo. A origem sócio-econômica também interfere no reconhecimento da capacidade do aluno: "Há uma evasão do talento da classe pobre para o crime, pois lá eles têm prestígio, são bem tratados, ganham dinheiro", diz Zenita.

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É na adolescência que o jovem superdotado deve ser melhor assistido, pois, nessa fase, eles estão mais exigentes. Podem surgir problemas com professores, que não estão preparados para responder às questões mais avançadas ou então que inibem a contribuição do aluno para deixar que os outros participem. "Existem muitos superdotados que tiram notas baixas na escola, apesar de ter o conhecimento. Isso acontece porque eles ficam entediados com a aula repetitiva, não são desafiados, perdem o interesse e não estudam", esclarece a especialista.

Outra dificuldade dos jovens talentosos é a convivência. Muitas pessoas de inteligência profunda não são verbais, como era o caso de Einstein. A pouca interação faz com que eles sejam classificados de anti-sociais e depressivos pelos colegas e, até mesmo, pela escola. "Os superdotados se interessam por pessoas mais velhas e a escola é organizada por faixa etária. Por isso, eles rejeitam e são rejeitados pelos colegas. Eles não precisam, necessariamente, ter amigos. Eles são capazes de ter uma vida social, mas, muitas vezes, não querem", explica Zenita. Ela também observa que muitos talentos não-verbais, geralmente, interagem muito bem entre si.

Caminhos
Para que as pessoas com capacidade acima da média não tenham suas habilidades prejudicadas, existem dois caminhos na educação: um deles é a aceleração, que consiste em mover o aluno para séries acima de sua faixa etária quando ele mostra vivacidade mental e bom ritmo de aprendizagem. Este processo está previsto na LDBEN por meio de avaliação feita pela própria escola, entretanto, a maioria das instituições dificulta o processo, pois não está preparada para lidar com um superdotado. Pela aceleração é possível saltar uma ou mais séries escolares ou avançar em determinadas disciplinas.

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Outra opção é a suplementação, que amplia e aprofunda o currículo escolar básico, através de conhecimentos, informações e idéias que ajudem a formar uma consciência maior do contexto abrangente de cada tema, assunto, disciplina ou área do saber. O plano individual é a melhor maneira de se organizar o enriquecimento educativo, para responder aos interesses, características e necessidade de cada aluno.

Nas últimas semanas, um mexicano de 12 anos virou notícia ao ser anunciado que ele cursaria duas universidades ao mesmo tempo. Recentemente, um chinês de 9 anos ganhou um curso especial numa universidade de Hong Kong. No Brasil, casos assim não existem: "Falta apoio educacional, mas é preciso que se faça todo o esforço para aproveitar o talento", opina Zenita.

Serviço:
CEDET - Centro para Desenvolvimento do Potencial e Talento
www.aspat.ufla.br

Atualizado em 6 Set 2011.