Guia da Semana



Há 100 anos, eles vieram para o Brasil com o sonho de melhoria de vida. Nós, no entanto, só queríamos a sua mão-de-obra na zona rural. Em 18 de junho de 1808, o navio Kasato Maru trouxe ao nosso país 165 famílias japonesas que chegavam para trabalhar nos cafezais. Depois da 1ª Guerra Mundial, o campo e as cidades japonesas estavam superlotadas, o que gerou pobreza e desemprego. O governo japonês, então, resolveu apoiar a vinda de sua gente para as terras tupiniquins. Hoje, eles somam mais de 1,5 milhão de pessoas por aqui, o que faz do Brasil o país que mais abriga população japonesa fora do próprio Japão. 100 anos depois, o cenário mudou: atualmente, o jovem brasileiro é quem vai ao oriente buscar uma vida melhor.

Conhecido como dekasseguis - qualquer pessoa que deixa sua terra natal para trabalhar em outra região - o "fenômeno" da imigração começou em 1980. Porém, foi só em 1990, quando o Japão editou a "Lei do Controle de Imigração", que permitiu que japoneses e seus cônjuges ou descendentes até a terceira geração pudessem exercer qualquer atividade legalmente por um período relativamente longo, que os brasileiros decidiram trocar as praias pelas sombras das indústrias.

A motivação não sai do senso-comum: por aqui, está cada vez mais difícil conseguir um bom emprego, ter um salário para se sustentar e viver uma boa vida. Lá, no Japão, a promessa é de trabalho garantido, um alto salário e, em três anos, uma conta bancária recheada para voltar ao Brasil (e mais um monte de tecnologia adquirida por lá). Porém, as coisas não são sempre assim...

Fernando Enokizono está lá há quase dois anos. Quando saiu do Brasil, com apenas 20 anos, deixou a família e o trabalho por um emprego em uma grande fábrica de automóveis. "Eu pesquisei. No Brasil, queria fazer uma faculdade de psicologia, mas não tinha dinheiro para isso. Então resolvi ir, quando cheguei aqui, dei de cara com um monte de gente parecida, muitos brasileiros e muita tecnologia", afirma. "Eu consigo tirar uns R$ 10 mil por mês, só que o custo de vida por aqui é muito mais alto que no Brasil, então gasta-se mais e é difícil economizar".

Depois de ser transferido para três cidades diferentes e aprender o funcionamento no Japão - não há moleza, você trabalha e é recompensado, se ficar meia boca, perde dinheiro -, o brasileiro viu que não seria tão fácil. "Agora eu mexo com pneus. Não é o sonho de vida de ninguém. Brinco que eu sou um escravo dos tempos dos cafezais brasileiros, só que agora nas indústrias do Japão", relata Fernando.

Então, antes de fazer as malas, saiba que a vida por lá pode ser um perrengue. Para ganhar uma boa grana, você terá que trabalhar direto, com apenas um dia de folga por semana. Ou seja, seis dias trabalhados sem tempo nem para respirar. Além disso, os turnos são trocados freqüentemente. A cada duas semanas, você tem que enfrentar a barra de trabalhar de madrugada. Para completar, a moradia nem sempre é ótima e estável. Os aluguéis no Japão são muito caros e, para economizar, você deve ter de compartilhar sua casa ou morar em um cubículo. Quando tudo parece estar indo certo, você é transferido para uma empresa em outra cidade e tem que se mudar. "E a vida pode ficar assim para sempre. Ou a gente larga tudo e volta ou somos fortes e agüentamos, até termos condições de construir algo do outro lado do mundo", diz Fernando.

Em 2005, o Ministério da Justiça estimou que 302 mil brasileiros vivem no Japão legalmente, transferindo, todos os anos, uma quantia entre 1,5 e 2 bilhões de dólares para os familiares que ficaram no Brasil. Quem é o colunista: Caio Caprioli

O que faz: Estuda jornalismo e trabalha com Web 2.0, uma coisa que ninguém sabe direito o que é...

Pecado gastronômico: Batata-frita com chedar e brigadeiro de pistache.

Melhor lugar do Brasil: A casa da Rua Padre Carvalho.

Fale com ele: [email protected]

Atualizado em 6 Set 2011.