Guia da Semana

Fotos: Ike Levy/ divulgação



Um jumento, uma galinha, um cachorro e uma gata. Separados podem não passar de simples animais, mas aqui, formam um dos musicais infantis mais produzidos no Brasil. A adaptação da obra Os Músicos de Brehmem, dos Irmãos Grimm, conta a saga desses quatro bichos, que partem em busca de liberdade e sonhos. O espetáculo Os Saltimbancos , que Chico Buarque montou há 32 anos, recebe uma versão produzida pela Conteúdo Teatral, com sucesso de público e crítica, e é encenada no Teatro Folha.

Indicada ao Prêmio Femsa de Teatro Infantil em cinco categorias, entre elas o Melhor Espetáculo Infantil, Atriz (Bruna Guerin) e direção (Fezu Duarte), o Guia da Semana foi conversar com a diretora, para saber quais foram as mudanças que aconteceram na remontagem da peça clássica. Com muita música e personagens brasileiros, a produção atravessa gerações dentro e fora do palco.

Guia da Semana: Como surgiu a ideia de dirigir Os Saltimbancos?
Fezu Duarte:
Recebi um convite do Leo, diretor artístico do Teatro Folha, e acabei aceitando. Achei muito legal poder fazer uma peça que valoriza a música brasileira e possa contar nossas raízes.

Guia da Semana: A peça foi indicada ao Prêmio Femsa em cinco categorias, entre elas, a de Melhor Espetáculo Infantil. Como o teatro pode ajudar na formação da criança?
Fezu:
Para mim o teatro é essencial, não só na formação da criança, mas para o jovem e adulto. Então existem meios de comunicação que são extremamente realistas e o teatro é uma das únicas artes que possibilita fugir desta linguagem. Quando se trata de um público infantil, permite que você possa olhar por uma outra ótica, além da realista, cada um sai com a sua opinião formada, trabalha a massa encefálica, os sentimentos... Tem um conjunto de coisas aí, que na minha opinião, é importantíssimo os pais terem essa consciência e levarem as crianças ao teatro.

Guia da Semana: Como a peça foi produzida?
Fezu:
Os Saltimbancos é uma das peças mais montadas no Brasil. Só em São Paulo tem uma no teatro Ruth Escobar que está há cinco anos em cartaz. Isso dificulta muito sua produção, pois corre-se o risco de ficar tudo "muito igual". Sendo assim, trabalhei a transposição para o universo de hoje. A peça é um texto datado, que o Chico trouxe no tempo da ditadura, com Marieta Severo, Pedro Paulo Rangel, Grande Otelo e Miúcha. Falava da repressão, pois era o momento que o Brasil vivia. Pra montar isso 40 anos depois, você tem que trazer para os dias atuais. Nessa montagem, quis trazer as coisas da cidade, do coração de São Paulo. Então a gente pensa em como colocar essa metrópole para a criança, com flanelinha, DVD pirata e tudo mais. Mesmo se ela não entender a mensagem, vai ficar alguma coisa em sua cabeça. Então a peça é bem urbana e moderna.



Guia da Semana: Que aproximação a criança tem dela?
Fezu:
Colocamos coisas próximas para adquirir uma identificação, além de transmitir outros valores como a amizade, que está embutida desde a primeira adaptação. Tentamos preservar isso bastante. Acho que faz parte do crescimento social dos pequenos.

Guia da Semana: Quais as principais diferenças entre dirigir peças adultas e infantis?
Fezu:
Esse é o segundo espetáculo teatral que dirijo. O primeiro foi As Borboletas Sem Asas, montada no TBC em 2001, que falava do deficiente físico pra criança. A coisa mais importante que tem é não subestimar a criança. Como temos hábitos que vêm do teatro adulto, quando vamos fazer o infantil não brincamos de "Bilú Tetéia" com elas, que já são muito espertas. Temos que falar de igual pra igual.

Guia da Semana: O público infantil é mais fiel do que o adulto?
Fezu:
Embora dependa dos pais e da mãe para ir ao teatro, quando gosta da peça quer rever várias vezes e acaba se tornando muito fiel, sem dúvida. Diferente do adulto que vê uma vez e já está bom, a criança quer repetição e proximidade dos personagens que se identificou.

Guia da Semana: Avaliando outras mídias: a TV tem oferecido programas que aliam cultura e entretenimento?
Fezu:
Eu acho que está bem aquém... Tirando a grade paga, a única televisão que incentiva isso é a TV Cultura. O resto dos programas infantis que a gente assiste não tem isso: é antiético e politicamente incorreto. Infelizmente, não tem muito conteúdo de qualidade.



Guia da Semana: Fale um pouco do repertório musical da peça, que acompanhou gerações.
Fezu:
A música popular brasileira é muito tocada nas rádios em todas as épocas. Nas músicas, as crianças ficam paralisadas ouvindo, o pai e a mãe já escutaram e até acompanham. Eu tenho certo tipo de pudor de colocar músicas adultas. Então a gente tem Dominguinhos, "Gonzagão", Balão Mágico, as músicas da peça original e também do filme Os Saltimbancos Trabalhões. A MPB é encantadora e envolvente.

Guia da Semana: O teatro tem apresentado boas opções para o público infantil ou está em déficit com os espectadores mirins?
Fezu:
Eu acho que tem muita gente séria, como As Oficinas de Mariposas, O Cocoricó, que vem da televisão e faz sucesso. Tem muita gente empenhada fazendo teatro com muita poesia e isso é louvável.

Guia da Semana: A companhia pretende viajar para outras cidades com a peça?
Fezu:
A princípio pretendemos ficar no Teatro Folha até dezembro. Depois veremos o que vai acontecer.

Atualizado em 1 Dez 2011.