Guia da Semana

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Fala-se muito em autoconhecimento no mundo dos adultos, em ouvir a voz interior: consciente e inconsciente dançam uma dança de eterna duplicidade. Queremos que essa dança seja a mais harmoniosa possível. Acontece que lidar com sensações, emoções e intuições também faz parte do universo infantil. O adulto busca autoconhecimento por instinto de evoluir. E quando o assunto é a criança? Será que estamos suficientemente alertas para não oprimir seu instinto de evolução? Quantas vezes pensamos estar educando e, na verdade, estamos oprimindo?

Responder essas perguntas não é fácil, mas existem alguns sintomas que os pais podem acompanhar. Opressão do instinto de autodescoberta acontece quando a atividade é massificante, não dá espaço para a expressão individual e dá respostas prontas, em vez de deixar a criança "errar" e concluir por si mesma. Note que escrevi "errar" entre aspas. Isso porque, na aventura de vivenciar o próprio corpo, dois mais dois não é igual a quatro. Não existe nenhuma resposta além da própria vivência de cada indivíduo. Em um mundo inundado pela pressão da competitividade e pela tirania da imagem exterior, que produz seres tensos e ansiosos, sobra pouco espaço para a descoberta silenciosa e sem "objetivos": sim, a verdadeira descoberta interior não tem objetivo algum, pois ela já é, pura e simplesmente, o objetivo.

Quando eu era criança, muito pequena mesmo, enfiava o dedo no meu olho, tocava a córnea lentamente, e apertava o globo ocular para ver aquelas infinitas bolinhas se formando igual a galáxias multicoloridas. Durante um tempo que mais parecia eternidade, assistia às luzes que dançavam dentro de mim mesma, como um astrônomo fascinado pela mais recente foto do telescópio Hubble. Quando fiquei adulta, descobri que existe o yoga das luzes, uma meditação onde, de olhos fechados, acompanhamos a dança das luzes interiores. Quando me cansava de brincar com meu próprio olho, era a vez do ouvido virar brinquedo: tapava as orelhas e ficava ouvindo o som interior... nem preciso dizer que, anos depois, descobri o Yoni Mudra, técnica de meditação onde tapamos os ouvidos à espera de escutar o poderoso mantra do som universal, a vibração cósmica que dá vida a tudo que existe...

Minhas criancices me faziam ainda apertar a língua com a ponta dos dedos para entender "o que é isso que faz a gente sentir gostos", e entrar na banheira sem roupa para sentir, na dimensão da pele, qual a diferença entre banheira cheia de água quentinha, e banheira vazia feita de louça gelada e escorregadia...

Os adultos aparecem no meu estúdio querendo aprender a meditar. Eu me lembro de quando era criança: arrisco dizer que, se você não vivenciou o Yoni Mudra na infância, fica muito mais difícil despertar quando já é adulto. Crianças são uma aula incrível de aprendizado em estado de "não-mente". A melhor coisa que os pais podem oferecer a seus filhos é estarem atentos para não bloquear esse tipo de autodescoberta: nada é idiota, nada é sem sentido, nada é perda de tempo. Quem sabe, até, aposte em eliminar da grade horária do seu filho pelo menos uma daquelas aulas massificantes que ele detesta: a velha opressão da escola + ballet + judô + inglês + natação + computação... ufa! Reserve um horário para vocês se sentarem juntos e, em silêncio, taparem os ouvidos, apertarem os olhos. Veja o que acontece: yoga de pai para filho.

Leia a coluna anterior de Ana Rita Simonka

Desintoxicação pós-reveillon

Quem é a colunista: Musicista new age, dançarina espiritual, yoguini e pesquisadora de arte oriental.

O que faz: Produz CDs autorais de fusão de MPB com música indiana e árabe, realiza performances de dança do ventre como meditação, e dirige seu estúdio na Vila Madalena com cursos regulares nas áreas de Mantras, Chakras e Dança do Ventre. .

Pecado Gastronômico: Cerveja belga e champagne sofisticada.

Melhor lugar do mundo: Deserto do Novo México e Golden Temple, no Punjab.

O
que está ouvindo no carro, mp3, iPod: Eu mesma, sempre!

Fale com ela: [email protected], veja seu site e seu blog.

Atualizado em 6 Set 2011.