Enquanto o filme Her não estreia nos cinemas brasileiros, a discussão sobre tecnologia, amor e da vida nos tempos de internê continua mais ativa do que nunca. Relacionamentos começam e terminam pela internet. Vidas são destruídas por causa de fofocas na internet. Pessoas se conhecem por meio da plataforma virtual e se desconhecem do mesmo jeito.
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Essa temática é um pouco do que fala a série inglesa Black Mirror, que aborda, em cada episódio das duas curtas temporadas, um aspecto da vida moderna-digital levados ao extremo. As histórias são embaladas em futuros distópicos que, na verdade, tratam de problemas bem atuais.
Uma das coisas que mais chama a atenção no projeto é que cada episódio tem uma história única e sem nenhuma relação direta com o outro. Ou seja, você não precisa seguir uma ordem exata para entender a série. Muito pelo contrário. Cada episódio tem começo, meio e fim tão específicos e completos que, por si só, são uma experiência.
Charlie Brooker, o criador da série, conhecido na Inglaterra por seus trabalhos recheados de sátiras e humor sombrio, já trabalhou na televisão, rádio, mídia impressa e online. Em entrevista para o The Guardian, ele disse: "se a tecnologia é uma droga - e se sente como uma droga - então, quais são os seus efeitos secundários? Esta área - entre o prazer e o mal-estar - é onde Black Mirror, a minha nova série, se estabelece. O "espelho negro" do título é o que você encontrará em cada muro, em cada escritório, na palma da mão: o ecrã frio e brilhante de um televisor, monitor e smartphone".
Cada temporada da série tem três episódios, de 40 a 50 minutos de duração. Com uma estrutura bem direta e um pouco parecia com The Twilight Zone, dos anos 50/60, a série vale ser vista e revista.
O primeiro episódio, por exemplo, apresenta um conto político: quando a Princesa Susannah é sequestrada, o primeiro ministro inglês Michael Callowrecebe um vídeo dos sequestradores com um pedido simples, porém absurdo - ele deve, no dia seguinte, transar com um porco em rede nacional, ou a jovem morre. Michael, na esperança de conseguir achar os bandidos antes do prazo, impede a notícia de ir ao ar (e ao YouTube, onde os sequestradores pediram para ser divulgada), e se nega a sequer pensar em fazer essa atrocidade. O que acontece em seguida é uma clara demonstração da pressão política, o peso da opinião pública e a rejeição completa do pudor e dos princípios de um Governo. Ah, o final é bem faca na bota.
Indico também os episódios The Entire History of You (S01E03), que gerou tanto burburinho quando foi lançada que tem previsão de virar filme em um futuro próximo, já que os direitos foram vendidos para Robert Downey Jr. Be Right Back (S02E01) e White Bear (S02E02) também são meus favoritos.
Para conferir a entrevisa de Charlie Brooker completa (em inglês) para o Guardian, clique aqui.
Por Julia Bueno
Atualizado em 19 Mar 2014.