*por Daniel Kikuchi
Como se sabe, a trilhas sonoras dos jogos são uma parte extremamente importante da indústria cultural. Por conta disso, games musicais não são nenhuma novidade. Desde os tempos do PlayStation One, com Bust a Move, passando pelos sucessos Guitar Hero e Rock Band (e suas variações) e atualmente com a franquia Just Dance, a música nos jogos tem se tornado cada vez mais uma peça chave no desenvolvimento de títulos.
Na verdade, o cuidado com o desenvolvimento musical de jogos é algo que começa a tomar forma junto com o desenvolvimento de tecnologias mais avançadas. Elas eram responsáveis pela execução de músicas e efeitos sonoros de maior qualidade sem comprometer a performance do game. Portanto, criar as trilhas sonoras dos jogos não era uma tarefa fácil, e tentaremos explicar um pouco sobre o início dessa saga.
As trilhas sonoras dos jogos na década de 70
Por exemplo, na década de 70, a música era armazenada de forma física, em fitas cassetes e discos de vinil. Contudo, tais suportes eram considerados caros e frágeis para serem usados em fliperamas. E, mesmo que esse recurso fosse usado nos fliperamas, a música geralmente era monofônica, repetida, ou usada em telas de abertura ou entre as fases. Dois jogos que mostram a última situação são Pac Man e Pole Position.
A decisão de incluir uma trilha sonora em um jogo significava que, em algum ponto, ela deveria ser transcrita em código de computador. Contudo, o programador provavelmente não tinha nenhuma experiência musical. O popular console caseiro Atari 2600, por exemplo, até então era capaz de gerar apenas dois tons, ou “notas”.
Tecnologias e avanços nos anos 80
Entretanto, com os avanços em relação ao silício e às quedas nos custos de tecnologia durante a década de 80, surgiu uma geração definitivamente nova de máquinas de arcades e consoles caseiros. Os arcade baseados no CPU 68000 da Motorola e nos chips YM da Yamaha para gerar sons possuíam um número considerável de tons, ou canais de som; algumas vezes sendo 8 ou mais, o que era impressionante pra época. Já os consoles caseiros também tiveram avanços em termos de sons, começando com o Colecovision em 1982, com capacidade 4 canais.
No entanto, o exemplo mais notável foi o lançamento de 1985 da Nintendo, o Famicom. O modelo é conhecido no ocidente como Nintendo Entertainment System (NES), teve a capacidade de 5 canais, sendo um deles capaz de gerar sons digitais simples em PCM.
Também é digno de nota o computador caseiro Commodore 64, lançado em 1982. O modelo havia capacidades primárias de filtragem de efeitos e tipos variados de formas de ondas. Sendo assim, seu preço relativamente baixo o tornou uma alternativa popular para outros computadores domésticos. E o melhor: a TV podia ser usada como um monitor.
Evoluções, limites e o que temos hoje nas trilhas sonoras dos jogos
Evoluções no desenvolvimento da música para consoles nesse período geralmente envolviam o uso de gerações simples de tons e/ou síntese de modulação de freqüência para simular instrumentos para melodias, e o uso de um canal de ruído para simular sons percussivos. O uso de sons digitais em PCM nesse tempo estava limitado à pequenos efeitos ou como uma alternativa para sons percussivos. Sendo assim, a música em consoles domésticos geralmente tinha que dividir os canais disponíveis com outros efeitos sonoros. Por exemplo, se um raio laser fosse disparado de uma nave espacial, e o laser usasse um tom de 1400 Hz, então o canal que estivesse sendo usado pela trilha-sonora teria que ter a música interrompida para que o som pudesse ser executado.
Entre o meio e o final da década de 80, houve uma grande onda de lançamentos de jogos para essas plataformas. Portanto, eles tinham músicas criadas por pessoas com mais experiência musical. E, por fim, a qualidade das trilhas sonoras dos jogos avançou notavelmente.
As trilhas sonoras dos jogos clássicos seguem sendo cultuadas e, em alguns casos chegaram a ser recriadas. Um bom exemplo é Horizon Chase, título similar da atual geração que presta homenagem ao consagrado Top Gear, de Super Nintendo. Em ambos os títulos, a trilha sonora é assinada por Barry Leitch, uma espécie de lenda das trilhas sonoras de games.
E, para concluir, acredito que os jogos atuais dispensem maior análise, visto a sua contemporaneidade, perceptível no incrível avanço das mídias e consoles, que parecem ter chegado ao seu ápice. Contudo, a tecnologia e a ciência sempre podem nos surpreender – e é isso que esperamos da nova geração.
E, complementando este artigo, elaboramos uma lista com as trilhas sonoras mais inesquecíveis dos games. Confira!
Super Mario
Não há como negar: falar de música de games e não ter o tema de Super Mario em mente é impossível. Portanto, o tema criado por Koji Kondo, pode ser considerado um sucesso mesmo fora dos videogames, com apresentações em shows e orquestras, além de diversas versões criadas por outros artistas.
Sonic The Hedgehog
Já o grande rival do bigududo da Nintendo na saudosa era dos 16 bits também possui um tema musical clássico. A música de Sonic foi composta por Masato Nakamura, do grupo japonês Dreams Come True.
Destaque para a banda brasileira Mega Driver, que fez uma versão heavy metal do tema do porco-espinho azul (e de vários outros jogos).
Curiosidade: A composição das músicas foram feitas por Masato num computador Atari, com o limite de 4 sons simultâneos. No entanto, Nakamura fez a música simultaneamente com um álbum do DCT (tanto que 2 músicas, a de Green Hill Zone e Star Light Zone, viraram músicas do grupo), a partir de ROMs inacabados e descrições das fases por parte dos produtores. Por fim, ele quis dar um “tom cinematográfico”, com músicas calmas em fases tranquilas e músicas mais intensas na hora de batalhar chefes.
The Legend of Zelda
Mais um tema clássico de autoria de Koji Kondo, que se envolveu com música desde criança, e aos dezessete anos decidiu trilhar esse caminho profissionalmente.
Nos anos 80, Kondo leu um anúncio de oferta de emprego da Nintendo no mural da Universidade de Artes de Osaka, procurando por alguém para trabalhar em composição musical e programação de som. Todavia, em entrevista para o site Wired, Koji Kondo lembra que, ao ler o anúncio da Nintendo, soube que ali era o lugar dele trabalhar.
Metal Gear Solid
As trilhas sonoras dos jogos de Hideo Kojima, por terem uma narrativa cinematográfica, exigem uma qualidade musical à altura. E para tanto, ficou a cargo de Harry Gregson-Williams, conhecido compositor de filmes, como Shrek, A Cruzada e As Crônicas de Nárnia, criar uma trilha sonora adequada para o segundo capítulo da saga Solid, que estreava no PlayStation 2 (Metal Gear Solid 2: Sons of Liberty), que já contava com uma trilha sonora de qualidade, graças a Tappi Iwase (conhecido como Tappy).
Antes disso, o tema The Best is Yet to Come (encerramento do episódio Metal Gear Solid, de PS1), de autoria de Rika Muranaka, já era sucesso entre os fãs da série e destaque pela qualidade (e por ser cantado em escocês, por Aoife Ní Fhearraigh).
Final Fantasy
O grande sucesso da Square Enix possui temas clássicos no universo dos games, como Liberi Fatali e One Winged Angel, ambos de autoria de Nobuo Uematsu.
O sucesso das músicas de Uematsu é tanto que nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, a equipe norte-americana de nado sincronizado fez uso das músicas Fithos Lusec Wecos Vinosec e Liberi Fatali na sua apresentação, levando a medalha de bronze. Por fim, o remake de Final Fantasy VII tem a participação de Uematsu na composição da trilha sonora.
Gran Turismo
O “Real Driving Simulator” da Sony conta com o tema Moon Over the Castle (também conhecido como Knight’s Song) nas suas apresentações nas versões japonesas do jogo, já que questões de licenciamento impediram que a música fosse utilizada nas trilhas sonoras dos games no ocidente. Em Gran Tursimo 4, por exemplo, o tema foi substituído pela música Panama, de Van Halen, na versão americana, ou Reason is Treason, da banda Kasabian, na versão europeia.
Em conclusão, a atualização Spec II de Gran Turismo Sport, o vídeo de apresentação conta com um breve trecho do tema sendo executado junto com percussão e coral.
Street Fighter II
O tema clássico do mais clássico ainda Street Fighter II é de autoria de Yoko Shimomura. Ela começou sua carreira como instrutora de piano, mas sua paixão por games a fez enviar demos para várias companhias de games, entre elas, a Capcom. Portanto, deu no que deu: a criação de uma das trilhas sonoras de games mais clássicas de todos os tempos.
Por fim, a nível de curiosidade, Shimomura chegou a trabalhar com Koji Kondo em Super Mario RPG, e com Nobuo Uematsu, em Final Fantasy IV.
Top Gear
O clássico game de corrida do SNES conta com uma trilha sonora de respeito. Um verdadeiro clássico criado por Barry Leitch (originalmente como trilha sonora da série Lotus Turbo Challenge do computador Amiga).
Barry também é o responsável pelas músicas de Horizon Chase, título nacional lançado originalmente para Android e iOS e com versões para Switch, PS4, Xbox One e PC, e participou da turnê nacional do Video Games Live em 2016.
Por fim, uma curiosidade: Bliss, música da banda britânica Muse, foi inspirada na faixa título de Top Gear.
Donkey Kong Country
DK, que já foi símbolo da Rare, também conta com uma trilha sonora memorável, que combina perfeitamente com o jogo. Sendo assim, o tema da primeira fase de Donkey Kong Country, Jungle Hijinx, permanece um clássico da geração 16 bits.
No entanto, seu autor, David Wise (também conhecido como Dave Wise, ou simplesmente D. Wise) é responsável também pela trilha sonora dos demais capítulos do macaco engravatado no SNES.
Contudo, deve-se citar a participação de Eveline Fischer e Robin Beanland, ambos envolvidos na trilha sonora do game e em outros grandes sucessos (Eveline trabalhou em Perfect Dark, do Nintendo 64, fazendo efeito sonoros e dublagens; Robin trabalhou no emblemático Conker’s Bad Fur Day, também para Nintendo 64, e em Killer Instinct, do SNES).
Streets of Rage
Mais do que falar da trilha sonora deste game, é preciso falar de seu compositor: Yuzo Koshiro. Filho de mãe pianista e pai artista, só podia levar jeito para as artes. Sendo assim, desde os três anos de idade aprendeu a tocar e, aos 5 já dominava o violino e aos 12 aprendeu violoncelo.
Na adolescência, matava aula para jogar Space Invaders e ficava fascinado pelas músicas de Gradius. Além disso, costumava ir aos fliperamas para gravar a música direto do alto-falante das máquinas. Porém, aos 16 anos, conseguiu reproduzir uma dessas músicas no seu computador (um NEC PC-8801 mk2SR, muito popular no Japão). Por fim, suas músicas foram se tornando populares e acabou sendo aclamado como o “Deus do PSG” (como é chamado o formato de som daquele computador).
Ao terminar o ginásio, começou a trabalhar para essa mesma revista, ao mesmo tempo em que fazia músicas como freelancer para a Nihon Falcom (empresa de games muito popular no Japão). No entanto, sua entrada na Falcom foi curiosa: ele se inscreveu pretendendo ser diretor de games, mas só conseguiu vaga para compositor (posteriormente ele realizou seu sonho de dirigir games fundando sua própria companhia).
Na SEGA conseguiu a condição até então inédita de poder ostentar o seu nome na tela título, como em The Revenge of Shinobi e Streets of Rage, ambos para o Mega Drive. E, em conclusão, mostrou-se amadurecido e em plena forma com Actraiser e Super Adventure Island (o que lhe rendeu o privilégio também inédito de ostentar seu nome no adesivo do cartucho japonês), ambos para SNES. Foi aclamado mundialmente com Streets of Rage 2 (do Mega Drive), considerado o auge da sua carreira.
Outrun
O clássico game de corrida da era 16 bits possui temas musicais aclamados por muitos dos gamers “old school“. Contudo, isso deve-se a sua inovação (para a época, é claro): poder selecionar a música que iria tocar durante a jogatina, todas de autoria de Hiroshi Miyauchi, integrante da lendária SST Band.
A versão do game para os consoles da SEGA (Mega Drive e Master System) possuíam faixas extras em comparação com a versão dos computadores Commodore 64, ZX Spectrum e Amstrad CPC.
Mega Man
A franquia Mega Man (Rockman no Japão) possuiu diversos compositores, mas tudo começou com Manami Matsumae, sendo ela responsável pela trilha sonora do primeiro jogo do robô azul, incluindo o jingle clássico de seleção de fases.
Além disso, dentre os diversos outros títulos que Manami participou estão U.N. Squadron (SNES), Mega Man 10 (PS3, Xbox 360 e Wii), Shovel Knight e o infame Might Nº 9.
Silent Hill
O nome por trás das músicas desse aclamado game de terror psicológico é Akira Yamaoka. Responsável por quase todas as músicas da série (não trabalhou em Silent Hill: Play Novel para o Game Boy Advance e Esperàndote em Silent Hill, composta por Rika Muranaka), Yamaoka é também o produtor da série desde Silent Hill 3.
As músicas de Yamaoka comumente contém tons de melancolia forte e geralmente identificam-se com ambientes escuros e industriais (característica marcante do game). No entanto, desde Silent Hill 3, ele também começou a trabalhar com a colaboração de Mary Elizabeth McGlynn e Joe Romersa para cantar algumas de suas composições. Muitos dos seus trabalhos anteriores foram compilados para a adaptação do filme de 2006 de Silent Hill, dirigido por Christophe Gans.
Curiosidade: Yamaoka diz-se fortemente influenciado pela banda Metallica.
Tetris
Clássico absoluto, Tetris e o Type A possuem uma relação indissociável. De autoria russa, a música original é chamada de Korobeiniki. Portanto, o tema conhecido entre o público é uma adaptação feita por Hirokazu Tanaka, para a versão clássica de Game Boy.
Korobeiniki, por sua vez, é baseado num poema homônimo de 1861, da autoria de Nikolay Nekrasov, que conta a história de um jovem vendedor ambulante e uma garota de olhos negros chamada Katya.
Além desta música, Tetris também conta com outros clássicos, como Dance of the Sugar Plum Fairy, da obra O Quebra-Nozes, de Tchaikovsky.
Castlevania
A série dos caçadores de vampiros da Konami também conta com uma trilha sonora cultuada entre o público. Músicas como Vampire Killer ou Bloody Tears são marcos da série. Contudo, a música do primeiro Castlevania, para o Famicon Disk System, é de autoria de Kinuyo Yamashita, da Konami’s Kukeiha Club.
Atualmente, o nome mais lembrado na trilha sonora de Castlevania é Michiru Yamane, responsável por boa parte da trilha sonora da série. Em conclusão, destaque para a trilha sonora do capítulo Symphony of the Night (Nocturne in the Moonlight, no Japão), para PS1 e Sega Saturn, considerada por muitos como a melhor da série.
Sabemos que ficaram faltando muitas trilhas sonoras de jogos inesquecíveis aqui e queremos saber: qual trilha sonora você gostaria de ter visto na lista? Conte pra gente nos comentários!
Por Pizza Fria, Pizza Fria
Atualizado em 18 Mai 2020.