Antes de falarmos de Babylon’s Fall, devemos antes contextualizar o lançamento do jogo. Ao longo da última década, um subgênero de jogos se popularizou e se consolidou na indústria, gênero que chamamos hoje de “Game as a Service”, ou em português “Jogo como serviço”. Ele se baseia em jogos que tem como objetivo se manterem em constantes atualizações e expansões, buscando manter os jogadores entretidos dentro dos servidores.
Talvez o jogo que mais tenha popularizado essa prática nos últimos anos foi Destiny (2014), que conseguiu criar uma legião de fãs ao redor do mundo ao trazer um combate em primeira pessoa, e misturar elementos de RPG e MMO, em um jogo de tiro, enquanto oferecia centenas de horas de conteúdos, dos mais diferentes tipos e gostos para todo o tipo de jogador.
Com o passar dos anos diversos outros jogos tentaram seguir a fórmula de Destiny e criar seu próprio “serviço”, alguns com sucesso e outros nem tanto, como por exemplo os jogos Warframe, The Division, GTA Online, Path of Exile e até o fenômeno Fortnite. Entretanto, como você pode observar entre esses jogos, o gênero de Hack’n Slash e combate corpo a corpo não está presente, apesar de algumas tentativas de criar jogos nesse estilo, como Godfall.
Sabendo desse cenário todo, eis que surge Babylon’s Fall, jogo do aclamadíssimo estúdio PlatinumGames, um dos melhores estúdios quando o assunto é games de ação e combate corpo a corpo. Eles foram responsáveis pelo maravilhoso NieR: Automata. Esse novo jogo se enquadraria em um “jogo como serviço”, e supostamente traria toda essa experiência da Platinum em jogos Hack’n Slash, para criar um combate viciante capaz de ser tratado como um serviço para os jogadores, isso tudo com a promessa de que seriam infinitas horas de jogo, com os mais variados modos de jogo.
Confesso que como um fã, fiquei no mínimo curioso com toda essa nova ideia da PlatinumGames, e seus planos para o futuro e principalmente com Babylon’s Fall e logo me empolguei para jogar o jogo, mas será que os desenvolvedores acertaram naquilo que prometeram? Então vem comigo para mais uma análise do Pizza Fria!
O que é Babylon’s Fall?
Babylon’s Fall é um jogo de ação e aventura, com um combate Hack’n Slash com foco na cooperação entre jogadores. O jogo foi desenvolvido pela PlatinumGames e publicado pela Square Enix. Como dito anteriormente, Babylon’s Fall tem como objetivo ser um jogo duradouro, ou seja um jogo que perdurará por vários anos, se mantendo através de microtransações e vendas de expansões, cosméticos e passes de batalha (que já estão à venda dentro do jogo), bem qual qualquer outro jogo como serviço do mercado.
O jogo se passa em universo fictício, onde as ruínas da grande “Babylon“(ou Babilônia), pereceram junto com seu povo, restando somente sua enorme torre chamada de “The Ziggurat”. Centenas de anos depois, um novo império chamado de Dominitian tomou conta dessas ruínas e dos incontáveis tesouros que permaneceram ali. Esse império então construiu uma nova cidade no entorno do Ziggurat, cidade essa batizada de Neo Babylon.
Essa cidade então prosperou ao longo dos anos em cima dos tesouros das antigas ruínas, e com todos esses tesouros à deriva, esquadrões de elite compostos de super humanos, chamados de “Sentinels”, foram criados justamente para adentrar ainda mais à fundo nessas estruturas. E é ai que você, como jogador, entra. Como parte dos Sentinels, seu objetivo é explorar essas ruínas com a sua mais poderosa ferramenta chamada de Gideon’s Coffin, um artefato que lhe dá super poderes e lhe permite utilizar um arsenal de armas e habilidades “espectrais”.
E todo esse arsenal é necessário, pois, durante as escavações do Ziggurat, o império descobriu que as ruínas são guardadas por monstros chamados de Gallu, que são basicamente armaduras e criaturas controladas por magia, para garantir a segurança das ruínas do Ziggurat. Após isso o império Dominitian e os monstruosos Gallu, travam uma eterna guerra pelo controle das ruínas da antiga Babylon, e seus diversos mistérios e poderes que ali restaram.
Como você pode observar, Babylon’s Fall tem uma premissa até que interessante e um bom plano de fundo para corrermos atrás do nosso queridíssimo “loot”. É uma “mistureba” de ideias e conceitos que cria um cenário legal para um videogame. Entretanto, para ser honesto a história do jogo não passa disso. Durante a campanha principal irão surgir diversos personagens, vilões e mocinhos, mas todos eles são extremamente unilaterais e pouco aprofundados, tão rasos que você sabe exatamente como vai terminar o arco narrativo de cada um deles, só de entender a sua história.
Isso quando o jogo não apela para o que chamamos de “Deus ex Machina”, que é um recurso de roteiro usado para inserir de forma inesperada algo na narrativa. Quando bem utilizado, o recurso gera histórias interessantes, mas em Babylon’s Fall, é tão mal utilizado à ponto de fazer o jogador ficar perdido na história e no que está acontecendo ao inserir personagens do nada, sejam eles deuses, anjos ou criaturas. Todas literalmente do nada. Tudo isso estragando ainda mais o roteiro do jogo.
A estrutura do jogo
Babylon’s Fall é estruturado de maneira bastante simples: a cidade de Neo Babylon, funciona como uma central e é aqui que você vai passar boa parte do tempo do jogo. Na cidade você pode selecionar missões no quadro de tarefas, missões essas que podem ser tanto da história principal, ou missões secundárias para evoluir seu personagem. Ao escolher uma missão o jogo irá te levar em uma expedição para o Ziggurat.
As missões do jogo são, em geral, todas iguais (exceto os chefes que vou comentar mais pra frente). Você deve atravessar corredores com algumas sessões de plataforma e obstáculos que não causam dano nenhum no personagem. Eventualmente, durante uma missão, você encontrará uma arena com inimigos, o objetivo aqui é derrotar as diversas hordas de Gallus e avançar para a próxima sessão de plataforma e eventualmente para uma nova arena. E no meio desse loop de gameplay, há alguns baús e tesouros escondidos, que lhe fornecerão alguns itens extras.
A qualidade desses itens, varia dependendo do desempenho do jogador e da sua equipe nos confrontos. Esse desempenho é medido em ranques, que vão do “Stone”, até o ranque “Pure Platinum”. Esses ranques, são definidos com base em diversas métricas do confronto, como o quanto de dano que a equipe tomou, o dano por segundo causado, a quantidade de acertos críticos e etc. E seus espólios irão variar de raridade dependendo da pontuação média da missão.
Ao entrar em uma missão em Babylon’s Fall, você e sua equipe terão 5 vidas, ou seja cinco tentativas de voltar à ação caso alguém morra. Outro recurso que permite a sobrevivência, são as poções de vida. Cada jogador possuí apenas cinco poções por missão, então é preciso gerenciar como se gasta esse recurso tão valioso para terminar sua missão vivo e, principalmente, não desperdiçar as vidas da equipe.
No fim de todas as fases da história, há um mini chefe, que por via de regra são divertidos de enfrentar e apresentam algumas mecânicas diferentes dos inimigos comuns. Entretanto, quando se trata de uma missão secundária, Babylon’s Fall traz como chefe apenas um inimigo normal, porém mais forte, ou nem isso.
O objetivo de fazer essas expedições em Babylon’s Fall é derrotar os inimigos e encontrar baús para conseguir itens melhores para o seu personagem, e assim avançar na história, visto que toda missão no jogo exige um nível médio de equipamentos para completa-la. Vale ressaltar que o jogo permite sim que você entre na expedição sem o nível de equipamento recomendado, mas a dificuldade fica praticamente impossível, pois os inimigos geralmente te matam com apenas um golpe.
Entre o arsenal de itens e armas de Babylon’s Fall estão à disposição do jogador espadas curtas, arcos, martelos, cajados mágicos e escudos. Cada uma dessas armas pode variar os golpes, dependendo dos atributos e habilidades que vierem no item, pois se tratando de um jogo de “loot”, os atributos e habilidades de cada item são gerados aleatoriamente, assim como as armas de Borderlands ou Destiny.
E esse fator aleatório também se aplica às armaduras do jogo, que são divididas em capacetes, peitorais, manoplas e calças, e subdividas em armaduras pesadas, médias e leves. Vale ressaltar também que todos esses itens possuem raridades, aquele sistema bem genérico de todos os jogos, com raridades branca, verde, azul, roxo e laranja, indicando respectivamente da menor para a maior raridade.
Além disso tudo, dentro da capital Neo Babylon, o jogador de Babylon’s Fall também pode comprar alguns equipamentos com os vendedores da cidade, alterar a aparência do personagem com cosméticos, realizar algumas tarefas diárias que lhe fornecerão alguns espólios melhores e, por fim, criar alguns itens na forja da cidade. A forja é desbloqueada mais para o fim da campanha principal e permite que você crie itens com os atributos, elementos e status do seu gosto, porém custando alguns materiais raros encontrados nas expedições, exigindo que você faça mais missões repetidamente.
Em resumo, seu ciclo de jogo se resumirá em ir em missões, pegar itens melhores para ir em missões mais difíceis. E é isso, Babylon’s Fall é em geral sobre isso, mas não significa que isso seja um problema, porém talvez não seja o tipo de jogo que agrade à todos.
O Combate
A PlatinumGames sempre foi referência em criar jogos de ação e de combate corpo a corpo, e era de se esperar que Babylon’s Fall tivesse um combate à altura dos jogos anteriores do estúdio, porém não foi isso que aconteceu. Bablyon’s Fall não traz consigo apenas o pior combate da história da Platinum, mas talvez um dos piores combates que eu já vi em um videogame.
O combate de Babylon’s Fall funciona de seguinte forma: o jogador tem à disposição dois recursos, a sua barra de vida e uma barra de espírito, que respectivamente são preenchidas com poções de vida e batendo nos inimigos. Fora esses dois recursos, o jogador também pode utilizar um arsenal de quatro armas, sendo uma para ataques fracos, uma para ataques fortes e as outras duas sendo armas espirituais, que funcionam à parte do personagem, e ao serem usadas gastam um pouco da sua barra de espírito.
Para exemplificar, você pode usar um arco espiritual enquanto bate com sua espada de ataques leves, pois essas armas espectrais funcionam por si só, exigindo apenas uma quantia desse “espírito”, que também é usado para esquivar dos ataques dos inimigos.
Em outras palavras, você possuí 4 botões de ataque em Babylon’s Fall, que usam armas separadas:
- Ataque Fraco (▢ / X)
- Ataque Forte (△ / Y)
- Ataque Espectral L (L2 / LT)
- Ataque Espectral R (R2 / RT)
Olhando assim, o combate de Babylon’s Fall parece promissor, porém no fim das contas, ele se resume em apertar repetidamente o ataque fraco e os ataques espectrais, pois não há muita variabilidade de combos na mistura de ataques fracos e fortes, e como os ataques mágicos funcionam por si só, você pode apertar eles infinitamente enquanto possuir espírito, isso tudo tirando o fato de que é contra intuitivo um combate utilizando dois gatilhos traseiros do controle.
Se o problema do combate de Babylon’s Fall fosse somente na sua composição, seria o menor dos problemas. Entretanto o buraco é bem mais fundo, visto que há também uma falta de variabilidade dos inimigos, e muitos deles são ortogonais ao combate do jogo e destroem o ritmo do jogo. Por exemplo, há um inimigo que utiliza dois escudos e você terá que esperar ele abrir a guarda para matá-lo. E esse é somente um dos diversos exemplos de inimigos que desaceleram o combate.
Falando ainda dos inimigos de Babylon’s Fall, podemos classificar todos eles como “esponjas de dano”, visto que absolutamente todos os monstros que há no jogo possuem uma barra de vida altíssima exigindo dezenas de ataques para derrotar apenas um Gallu. Isso somado ao fato de que os monstros praticamente não te atacam, cria um combate de esmagar botões em humanoides duros como pedra.
E quando eu digo que os inimigos não te atacam, não quer dizer que eles ficam parados te olhando (muitas vezes sim), mas quero dizer que os ataques deles são tão lentos que muitas vezes você derruba um grupo deles com um controle de grupo (ou CC para os mais íntimos), impedindo que a animação de ataque deles te atinja.
Outro fator que colabora para a criação de um combate mal feito é a falta de feedback durante as lutas, e nisso eu englobo tanto efeitos sonoros, quanto reação dos inimigos. Usar todo esse arsenal do jogo definitivamente não é uma tarefa prazerosa, pois os golpes não tem um efeito visual agradável, não há uma sensação de acertar o inimigo, seja no horrível efeito sonoro dos golpes que lembra uma onomatopeia de quadrinhos, e principalmente na falta de reação dos Gallus ao serem golpeados, que, após tomar um golpe, permanecem imóveis como se nada tivesse acontecido.
Todos esses problemas nem parecem que saíram de um estúdio tão competente como a PlatinumGames. E de toda essa experiência talvez a única coisa que tenha restado foram as lutas contra chefes. Babylon’s Fall, como você pôde observar, possui sim um combate complicado, mas as suas batalhas contra chefes são INCRÍVEIS, batalhas dignas de títulos como NieR: Automata. Os chefes são esteticamente bem feitos e todas as mecânicas envolvendo a batalha são extremamente divertidas de se dominar, principalmente os chefes da história principal, mas vale a menção para os chefes secundários também.
Portanto como nada em Babylon’s Fall pode ser perfeito, existem poucas batalhas contra chefes, sendo no total seis delas; uma mais bonita e bem feita que a outra. Vale também mencionar a trilha sonora dos chefes, que são de longe a melhor coisa desse jogo. Entretanto apesar de Babylon’s Fall haver bons chefes, enfrentar eles pode ser uma tarefa frustrante, visto que o combate em geral deixa a desejar. E em via de regras, todos eles possuem uma quantidade absurda de vida, obrigando o jogador a passar mais de 10 minutos em uma mesma luta, repetindo sempre o mesmo padrão de golpe do chefe. Agora imagine morrer no final de uma luta dessas.
Os gráficos
Babylon’s Fall talvez seja o jogo que os gráficos mais inconstantes que eu já vi. Em alguns momentos o jogo é lindo, parecendo até mesmo uma pintura à mão, mas em outros momentos, ele parece um jogo datado de três gerações de games atrás. É importante deixar claro isso, mas mais importante ainda é ressaltar que essa direção artística é proposital, e esses gráficos e modelos com poucos polígonos trazem sim prós e contras para o visual do jogo como eu disse anteriormente.
Partindo desse pressuposto, de que visualmente o jogo é bastante inconstante, vamos falar de outros aspectos. Um outro problema visual de Babylon’s Fall é a sua paleta de cores. As cores no jogo, são em geral bastante quentes e vivas, e honestamente isso se mantém por cerca de 80% do jogo, e toda essa falta de variabilidade visual e de cores traz um senso de repetição e de estar sempre no mesmo lugar jogando as mesmas fases repetidas vezes.
Por coincidência o lugar mais bonito do jogo é um lugar diferente do restante, um mapa nevado que é um esculacho visual que como eu disse antes, lembra um quadro pintado à mão.
Outro problema visual de Babylon’s Fall é o excesso de efeitos na tela, que em praticamente todo combate ofusca a visualização da luta com todas as luzes, cores e efeitos dos golpes, tanto do protagonista e dos seus companheiros, quanto dos inimigos e do cenário.
Vale a pena jogar Babylon’s Fall?
Babylon’s Fall é com certeza a minha maior frustração com videogames nos últimos anos, pois eu como um fã de jogos de ação e principalmente um fã da PlatinumGames, esperava um jogo para passar horas em um combate divertido, enfrentando monstros atrás de tesouros com meus amigos. Entretanto, o jogo traz um dos piores e mais contra intuitivos combates que eu já testei, em um universo às vezes bonito, as vezes datado, apresentando personagens cada vez menos interessantes e um roteiro que parece que foi escrito por uma criança.
Infelizmente Babylon’s Fall é um jogo difícil de recomendar, e com certeza não reflete a qualidade do trabalho e do potencial que a PlatinumGames tem como desenvolvedora de jogos, e espero que os mesmos tenham entendido isso. O título foi lançado no dia 3 de março para PlayStation 4, PlayStation 5 e PC, via Steam. Os jogadores do PlayStation podem testar uma demo gratuita de Babylon’s Fall, que dá acesso ao primeiro ato do jogo, apresentando o modo cooperativo. Todo o progresso e conquistas podem ser transferidos para a versão completa do jogo.
*Review elaborada em um PlayStation 4 Slim, com código fornecido pela Square Enix.
Pizza Fria
Reviews, notícias e tudo sobre o mundo dos gamesPor Matheus Feldmann, Pizza Fria
Atualizado em 7 Mar 2022.