Everdream Valley é um jogo de fazendinha, do estilo fofura e máquinas agrícolas, desenvolvido pela Mooneaters e publicado pela Untold Tales juntamente da VARSAV Game Studios. O título nos convida a passar o verão na roça de nossos avós, onde as aventuras nunca terminam e a diversão de cuidar do campo é mais do que suficiente para nos manter entretidos durante a estação inteira.
E aí, será que vale a pena colocar as velhas galochas, pegar a velha enxada e começar mais um dia de trabalho honesto nesse campo virtual? É o que veremos agora, em mais uma análise rural do Pizza Fria, sô!
Colheita (meio) feliz
Olá novamente, leitores e leitoras. Se prestarem atenção, verei que estou usando minha calça jeans, minha camisa que ganhei em um evento de uma loja agropecuária e meu chapéu de palha. Sabem o que isso significa? Que vou ir para a roça trabalhar no sol quente? Se vou cuidar da criação no pasto? Oras, crianças, longe disso. Significa que temos um novo jogo de fazendinha na área. E eu, culto que sou, gosto de me vestir a caráter.
Como comentei em minha análise do agradável Story of Seasons: A Wonderful Life, sou um grande fã desses jogos de fazendinha. A experiência catártica e relaxante, a alegria de ver a fazenda crescendo, os animais se multiplicando e a família crescendo. Ou de ver nosso boneco desmaiar por ficar um minuto além do permitido acordado. Ah, os bons tempos.
Não é surpresa, então, que eu tenha ficado de olho no nosso jogo da vez: Everdream Valley. Meu interesse maior surgiu da promessa do título de mudar um pouco o molde do que vemos através de uma exploração maior de nosso sentido de liberdade para ir onde quisermos, fazer o que quisermos e de experimentarmos o mundo do jogo sem tantas amarras temporais ou financeiras. Bom, na medida do possível ao menos.
A trama de Everdream Valley, como várias outras do gênero, começa envolvendo o protagonista chegando na fazenda de seus avós. Contudo, indo contra a maioria da competição, os dois estão vivos e bem de saúde. Que milagre! Nosso personagem acabou de ser deixado pela mãe com os dois durante o verão, para que possa aproveitar a companhia da família e o ambiente calmo e agradável da fazenda.
Bom, moderadamente agradável, na verdade. A idade dos avós trouxe, além da experiência de vida e dos cabelos brancos, uma dificuldade considerável de manter a propriedade limpa, cuidada e funcional. Isso ocasionou uma infestação de lixo espalhado, cercas quebradas, animais fujões, matagais, árvores mortas e outras coisinhas mais que, como bons netos e netas que somos, devemos resolver. Ah, o amor.
Isso é a base da coisa, e Everdream Valley desenvolve seus personagens através de pequenas missões e conversas aleatórias que podemos ter. Fica claro que a trama não é um dos pontos que importou mais na hora do desenvolvimento e, dado o enfoque em outras áreas, fica claro que essa faceta da experiência serve apenas como um impulso e pano de fundo para, ao menos, entender quem somos e o que fazemos ali. Não atrapalha em nada, nem tampouco conquista pontos.
Everdream Valley possui um ciclo de jogo que varia, de maneira geral, entre a exploração do vasto vale em que vivemos e de cuidar da fazenda de nossos avós. Tudo funciona em conjunto, com animais, plantas e árvores que encontramos podendo ser trazidas para tornar a propriedade mais próspera. Isso, por sua vez, também permite que levemos nossas plantações de volta para a natureza. É uma forma interessante de podermos fazer diferença dentro e fora de nossas plantações, o que não vemos sempre.
Comecemos pela primeira parte. Uma das coisas que realmente diferencia Everdream Valley de seus pares, para o bem e para o mal, é seu foco em exploração, liberdade, relaxamento e um leque considerável de atividades para se realizar. Sendo sincero, cuidar de nossa fazendinha é uma parte pequena do que o título tem a oferecer. O vale é vasto, recheado de atividades e coisas para se descobrir.
Logo no começo do jogo, após um rápido e confuso tutorial, somos soltos no mundo para fazer o que quisermos. Correr pelo mato, pegar borboletas, pescar, construir coisas, arrumar cercas, cozinhar, criar abelhas, resgatar animais perdidos, treinar o cachorro, vender coisas, plantar árvores, correr em cima de um porco, ouvir piadas de tiozão, serrar madeira, e um tanto mais que não cabe aqui. Realmente, não nos falta o que fazer.
Tudo isso se liga à renovação da fazenda e do vale como um todo, gerando uma sensação bem legal de que tudo o que fazemos traz a vida de volta para um lugar que, ainda que continue sendo bonito, perdeu muito de seu charme e glamour ao longo dos anos. Inclusive, muitas das missões introdutórias servem para mostrar como podemos deixar nossa fazendinha mais agradável e produtiva. Essas, inclusive, são bem informativas, ainda que sejam um pouco enjoadas e deixem o começo do jogo arrastado. Além de, infelizmente, terem alguns bugs.
Uma outra coisa legal é que podemos explorar o vale durante a noite, com uma chance de transformarmos em um dos animais do jogo. Além de liberar alguns minigames específicos, é muito interessante poder experimentar os ares do local, e explorar, sob outra perspectiva. Essa miríade de atividades garante que sempre temos algo diferente para fazer, sem tempo de baixa ou enrolação.
Em se tratando do trabalho rural, Everdream Valley é bem mais humilde. Nossos avós nos ajudam com algumas das tarefas mais enjoadas, nos sobrando mais o dever de plantar, colher e cuidar dos animais da fazenda. Isso é um positivo, pois livra o jogador das partes mais burocráticas para focar apenas no que o título oferece como relaxante. Contudo, fãs mais exigentes poderão achar essa faceta da experiência mais pobre e menos divertida, se comparado a outros títulos do gênero.
Mas, nem tudo são flores e borboletas. Everdream Valley cai no buraco que vários jogos com essa proposta abrangente se derrubam: mais não quer dizer, necessariamente, melhor. Ainda que possamos fazer uma multidão de coisas, muitas delas não são tão divertidas, nem tão profundas ou bem desenvolvidas. Além disso, algumas ações acabam se repetindo com o tempo, como a eterna busca por animais fugidos e coisas do tipo. Além disso, vale notar que a customização de personagem é pobre, com poucas variações de corpos, cabelos e roupas. Essas últimas são desbloqueadas para compra enquanto progredimos na história, mas ainda são menos que o desejado.
Outro ponto de contenda é em relação ao desempenho e polimento do título. Vi uma quantidade considerável de bugs, seja em missões não se completando, bonecos ficando agarrados em lugares, texturas não carregando, entre outros. Foi em uma quantidade suficiente para irritar, principalmente quando ficamos rodando para realizar determinado objetivo apenas para sermos completamente ignorados pelo jogo. Que horror.
Em suma, nesses aspectos, Everdream Valley oferece muito, sendo que apenas uma parte foi suficientemente explorada e refinada. É louvável que tanto seja oferecido, e é ótimo para aqueles que curtirem tudo que o vale tem a oferecer. Mas, ao menos em minha visão, o título seria mais bem servido de uma oferta menor, porém mais robusta, de atividades.
Sons e Visuais
Everdream Valley se vende como um jogo de visuais fofinhos e, de fato, entrega nesse ponto. Os animais, personagens e cenários que visitamos são bem bonitinhos e alegres. O único negativo é que as texturas não são tão refinadas, além de possuírem um péssimo hábito de não carregar. Várias vezes vi meu fazendeiro voando quando, na verdade, apenas estava em uma pedra que ainda não tinha sido carregada no mundo. Além disso, achei as interfaces confusas e desnecessariamente bagunçadas.
A sonoplastia é competente, ainda que básica e nada além do que o esperado para o gênero. A trilha sonora é o mesmo, relaxante mas sem muita vida ou brilho. Nada aqui impediria de colocarmos o jogo no mudo enquanto ouvimos nossa coletânea dos maiores hits dos anos 80. Que pena.
Vale a pena comprar Everdream Valley?
E então, leitores e leitoras mais primorosos que uma colheita inteira dos mais belos tomates, será que Everdream Valley a pena (reparem o jogo sutil de palavras)? Bom, como sempre, vamos lembrar do que foi dito até aqui para responder essa pergunta de milhões. Bom, o título se vende como uma experiência variada, com foco em relaxamento e um ciclo de jogo confortável e agradável. E isso é oferecido, na maior parte do tempo. Temos muitas atividades para preencher nossas horas, seja durante o dia ou nos sonhos da noite. O vale sempre terá algo para nos ocupar.
O problema nasce do fato de que muitas dessas atividades são ou repetitivas, ou pouco exploradas e aprofundadas. Não adianta tanto oferecer o oceano, se ele for fundo como uma poça d’água, não é mesmo? Além disso, fãs de títulos mais robustos no gênero poderão se decepcionar. Além disso, bugs visuais e uma sonoplastia sem inspiração não ajudam, e os controles também irritam às vezes.
Ao fim e ao cabo, queridos e queridas, Everdream Valley é um meio a meio. O jogo tem potencial de relaxar, mas apenas se nos contentarmos em ter muito para fazer, sem nada muito profundo. Um ponto válido é que esse, talvez, seja um dos jogos mais tranquilos para novatos das fazendinhas começarem suas aventuras, tanto por seu jeito mais relax quanto pelas facilidades em gerenciar nossa roça. Não digo para evitar o título, apenas acredito que valha pensar se o que o vale oferece, ainda que abundante, é suficiente para nós.
Everdream Valley está disponível para Nintendo Switch, PC, via Steam e Epic Games Store, PlayStation 4 e PlayStation 5.
*Review elaborada em um Nintendo Switch, com código fornecido pela Mooneaters.
Pizza Fria
Reviews, notícias e tudo sobre o mundo dos gamesPor Matheus Jenevain, Pizza Fria
Atualizado em 26 Jul 2023.