*por Frederico Krepe.
A principal dificuldade em produzir jogos anuais é criar um produto atrativo o suficiente para que as pessoas sintam que vale a pena adquirir a versão mais recente, com novidades suficientes para pesar a favor dessa troca. A Codemasters parece ter compreendido muito bem essa dinâmica e consegue aperfeiçoar adequadamente seu produto principal, ano após ano. Desde quando assumiu a responsabilidade de produzir os jogos eletrônicos do maior campeonato de automobilismo do mundo, mantém um determinado padrão de qualidade, com novidades sendo introduzidas de forma consistente e satisfatória, mantendo o interesse constante pelos novos jogos. E F1 2020 segue essa tendência e entrega um excelente produto.
Quem acompanha os games de Fórmula 1 há mais tempo, pode ter um certo trauma com o período de troca de geração de consoles. O último jogo lançado nessa transição, F1 2014, não foi bem recebido pelos fãs, que viram uma certa “preguiça” na Codemasters, que já estava com seu olhar totalmente voltado para a atual geração. Na época, isso fez com que poucas novidades fossem entregues, decepcionando alguns fãs empolgados pelo ótimo F1 2013. Mas, desta vez, a produtora não repetiu os mesmos erros e nos entregou um jogo com novidades impactantes e mudanças cruciais na experiência de um game que se pensava estar no limite. Se F1 2019 traz uma evolução marcante nos jogos de Fórmula 1, F1 2020 avança mais ainda e prova para todos que a franquia ainda pode tirar alguns coelhos da cartola.
Atraso na temporada
O período atual que vivemos ainda trouxe algumas dificuldades em relação ao jogo. O seu lançamento praticamente coincide com o início da temporada atual do mundial de Fórmula 1. Um atraso de quase 4 meses. Esse atraso dificulta para que o jogo acompanhe o desempenho dos carros e das equipes. Mas não deve ser um problema, visto que pacotes de atualizações serão disponibilizados no decorrer da temporada. Entretanto, diante desse cenário, a experiência em jogar o F1 2020 se torna única, já que o campeonato planejado para a vida real só poderá ser experienciado nos videogames. Um exemplo diz respeito aos dois novos circuitos da temporada, em Zandvoort, na Holanda, e a pista de rua em Hanói, no Vietnã. O quadro da pandemia pode forçar com que ambos somente sejam experienciados no jogo. Afinal, o GP da Holanda já foi cancelado e o GP do Vietnã ainda aguarda confirmação.
Modos de jogo de F1 2020
Nesse ano, algumas melhoras são perceptíveis e a Codemasters parece estar antenada aos comentários dos fãs. No F1 2019, tivemos muitas melhorias no modo carreira. Os destaques foram a introdução da Fórmula 2, categoria de acesso à Fórmula 1, com a possibilidade de 3 cenários na categoria de acesso antes da entrada na Fórmula 1 e a transferência de pilotos entre equipes. No F1 2020, há um avanço nessa experiência, especialmente em relação à Fórmula 2, embora tenhamos a ausência de Lukas Weber e Devon Butler, pilotos fictícios que eram personagens principais, junto com o jogador, dos cenários na F2, o que é uma grande perda, já que sua participação poderia ser desenvolvida no F1 2020.
Ainda assim, a imersão na Fórmula 2 foi desenvolvida e agora podemos começar o modo carreira realizando a temporada completa da Fórmula 2 de 2019 antes de tentarmos a sorte na Fórmula 1. É um salto importante, ainda que já pudéssemos imaginar que isso seria um próximo passo natural em relação ao jogo anterior.
Modo carreira
Outro ponto de destaque é a novidade de poder personalizar a sua temporada. O jogador pode optar por três tipos de temporada: a normal, com 22 corridas; intermediária, com 16 e a curta, com 10. Essa novidade é muito boa, já que permite ditar a dinâmica da temporada de acordo com a sua disponibilidade de tempo. Além disso, ainda oferece a opção de selecionar quais pistas participam ou não da temporada, o que nos dá um maior controle no modo carreira. Essa opção vale tanto para a carreira tradicional como para o novo modo, o “Minha Equipe”.
O que continua deixando a desejar no modo carreira é o sistema de contratos. Continuamos a poder começar a carreira em qualquer equipe, o que acaba tirando um pouco o realismo do jogo. No início da carreira, o jogador pode optar por escolher uma academia de pilotos. Mas isso só garante uma maior reputação com equipes relacionadas àquela academia. Nesse sentido, seria mais interessante um modelo de contrato que não te permita entrar em qualquer equipe, mas somente naquelas em que têm relação com a academia de pilotos escolhida ou naquelas que te oferecem um contrato. O título poderia ter apresentado algumas inovações, inclusive que já estiveram em versões anteriores, como testes de pré-temporada que liberam opções de contratos com determinadas equipes ou a possibilidade de ser contratado como piloto de testes e depois ser promovido a piloto titular.
Para além do sistema de contratos, temos um sistema de pontos de recursos (a “moeda” para a melhora dos carros no modo carreira) melhorado, com mais chances de fracassos nas inovações técnicas, o que é um ponto positivo para criar um ambiente mais desafiador na disputa entre equipes, já que a melhora dos carros fica mais dificultada e dependente de uma estrutura de equipe que permita menos fracassos nas atualizações.
A “cereja do bolo”: o modo “Minha Equipe”
Quando o jogo foi anunciado, o modo Minha Equipe, que permite ao jogador montar sua própria equipe foi recebido com bastante entusiasmo e expectativa. Isso empolgou uma grande parcela de fãs que viam nesse novo modo de jogo o motivo para adquirir o F1 2020. Diante das expectativas, a desenvolvedora conseguiu entregar exatamente o que os fãs estavam esperando. Minha Equipe permite com que o jogador crie sua própria equipe e controle todos os seus aspectos administrativos mais importantes. Desde a escolha do fornecedor de motor e o seu companheiro de equipe até as cores do carro e os patrocinadores. Certamente será um grande sucesso no jogo, já que consegue mesclar com maestria os pontos mais importantes do modo carreira tradicional com um modo manager bem desenvolvido (quem já jogou Motorsport Manager percebe a influência).
Os desafios do modo carreira são amplificados nesse modo. Além da obrigação de acumular pontos para desenvolver o carro e andar bem nas pistas, você tem que investir dinheiro no desenvolvimento de cada setor da equipe para poder dar um salto técnico e disputar entre as equipes grandes. Ao lado do sistema de pontos de recurso, você gere o orçamento da equipe, tentando fechar a temporada no azul para que possa melhorar o desempenho, atrair patrocinadores para garantir um bom carro e um bom companheiro de equipe que te leve à disputa do título de construtores. Enquanto os pontos de recurso te permitem desenvolver o carro, a qualidade da melhora e a capacidade de contratação de melhores pilotos ficam a cargo do dinheiro conseguido com patrocinadores. Essa dinâmica funciona muito bem e garante um modo de jogo bastante desafiador.
Mais um aspecto a ser destacado desse modo de jogo é a dinâmica fora das pistas. Agora, temos eventos, como o lançamento do carro, entrevistas na sede da equipe e variações na relação com a imprensa que garantem o ar de novidade presente nesse modo. Tudo o que foi comentado ajuda a sedimentar o “Minha Equipe” como o principal modo de jogo, garantindo uma dinâmica desafiadora que certamente vai exigir algumas boas horas de jogo para que o resultado seja a glória enquanto uma equipe de Fórmula 1.
O modo clássico
Antes de avançarmos, algumas palavras sobre o modo de jogo com os carros clássicos. O jogo continua acrescentando novos carros e garantindo alguns “mimos” ao jogador. Entretanto, pouca coisa mudou em relação à edição passada. O destaque dessa edição é a adição dos carros que fizeram história com Michael Schumacher, que fazem parte da edição mais cara. De toda forma, faltou algo a mais para que esse modo de jogo pudesse se destacar. A impressão que fica é que a Codemasters não resolveu investir em novidades para alguns modos clássicos, que até foram reduzidos em relação ao F1 2019.
Dentro da pista
Um dos elementos centrais estabelecidos nos jogos de Fórmula 1, especialmente nos últimos anos, consiste em apresentar ao jogador diversas formas de jogo que permitem com que se transite entre uma experiência que vai do arcade à simulação. Esse elemento é aprimorado no jogo, dando mais opções de personalização para cada tipo diferente de jogador, de acordo com a experiência desejada em um jogo de corrida desse nível. Se você for um jogador experiente nos jogos de Fórmula 1 e já tiver um conhecimento bastante avançado da dinâmica da pilotagem, pode buscar uma experiência mais próxima da simulação completa, sem qualquer tipo de auxílio.
Entretanto, se for iniciante, sua diversão não fica prejudicada, já que as opções de auxílio são muitas para cada tipo de habilidade individual. Um exemplo disso é novo, simples e engenhoso, auxílio de DRS, que permite a abertura automática da asa traseira sem que um botão seja designado para essa função. Para quem joga no controle, é um ótimo auxílio, liberando um botão para cumprir outra função. Quem joga no controle sabe como precisamos de mais botões disponíveis!.
Além disso, o período de paralisação do mundial fez com que alguns pilotos pudessem ajudar a Codemasters a melhorar a experiência dentro das pistas, algo positivo. Tivemos duas mudanças notórias. A primeira mudança diz respeito ao ERS. Agora, não temos mais que regular o ERS em 5 níveis diferentes durante a corrida, mas somente apertar um botão de ultrapassagem que descarrega a energia das baterias para dar mais velocidade aos pilotos, seguindo um funcionamento mais semelhante ao que realmente ocorre na Fórmula 1.
A segunda mudança diz respeito ao controle de tração. A Codemasters pesou um pouco a mão na direção sem o auxílio do controle de tração no F1 2019, o que fez com que a transição do controle médio para desligado fosse muito impactante, gerando dificuldade na retomada em curvas de baixa velocidade e muitas queixas dos jogadores e, inclusive, dos pilotos. Em F1 2020, isso foi corrigido e a retomada está mais suave e mais realista, facilitando para quem busca correr com esse auxílio desligado.
O problema das punições em F1 2020
Um aspecto que ainda continua problemático dentro das pistas diz respeito às punições. Ainda que tenha prometido rever o excesso de punições no game, a Codemasters ainda parece ter dificuldade nesse aspecto, o que gera algumas confusões. O jogo ainda pune com facilidade qualquer saída da pista, o que prejudica um pouco a experiência de corrida. O mais curioso é que parece haver um esforço nesse sentido, mas ainda continua ambíguo: enquanto algumas curvas são extremamente rigorosas, outras parecem ser mais permissivas, o que gera um pouco de confusão. Esse ponto ainda precisa ser revisto e esperamos que as próximas atualizações tragam algumas correções.
Por fim, F1 2020 melhorou bastante alguns aspectos da tela de jogo. Todo o HUD agora é personalizável e cada jogador pode montar a tela de jogo na pista da forma que quiser, posicionando os elementos onde achar melhor. Inclusive, temos ainda a adição de um retrovisor traseiro para auxiliar os jogadores, o que retira a necessidade de acionar a câmera traseira na disputa com outros carros. Isso é algo que permite uma maior concentração na corrida e aperfeiçoa a experiência na pista. A tela de jogo ainda conta com gráficos semelhantes aos da transmissão oficial das corridas. Certamente, é algo que incrementa a experiência e a imersão no mundo da Fórmula 1.
Aspectos técnicos
Pouco mudou em relação aos gráficos. O que podemos perceber é um aprimoramento, ainda que tímido, das corridas noturnas (que tiveram um grande salto do F1 2018 para o F1 2019). Elas trouxeram algumas melhoras na iluminação e na fluidez do jogo quando muitos elementos estão presentes em tela e exigem mais do processamento gráfico. Outro aspecto que merece destaque é a melhora dos gráficos na chuva, com uma maiores detalhes da água no asfalto, o que garante mais realismo. Nesse aspecto, não podemos esperar grandes mudanças, ainda mais em um cenário de troca de geração nos consoles. Podemos perceber que a Codemasters consegue oferecer o máximo possível, o que já é muito bom.
Um destaque positivo para o jogo foi a melhora no som dos motores dos carros. Essa melhora é facilmente perceptível e ajuda na imersão, especialmente para aqueles que acompanham a temporada e se preocupam com esses detalhes técnicos. É perceptível como foi feito um ótimo trabalho nesse campo, o que agrada ainda mais a satisfação com a experiência do jogo.
Vale a pena comprar F1 2020?
Enquanto poderia se colocar em uma posição confortável de realizar algumas melhoras pontuais com a justificativa de focar na nova geração, a Codemasters entrega um jogo que avança bastante e oferece diversas novidades que vão aprofundar a experiência do jogador. Alguns “erros” são perfeitamente compreensíveis por conta do atraso no início da temporada.
O que temos em mãos é um jogo que consegue trazer novidades. E ainda garante uma série de novos desafios, o que é bom para quem já conhece a franquia e para aqueles que estão chegando agora. Alguns elementos do jogo continuam como uma incógnita, já que não foram revelados enquanto escrevíamos esse texto. O principal desses elementos é o modo multiplayer online, o que impede uma análise mais precisa desse modo de jogo como um todo.
A Codemasters conseguiu entender que o foco do jogo deve ser a diversão e a satisfação do jogador. Isso possibilita uma experiência agradável tanto para os experientes, como para os iniciantes. Ainda que deslize em alguns pontos menores, F1 2020 consegue ser um grande jogo, melhorando o que já era ótimo. O jogo que será lançado para PlayStation 4, Xbox One, Google Stadia e PC, nesta semana, certamente se estabelecerá como o melhor de Fórmula 1 já criado até então. E este é um grande feito, dada a qualidade dos jogos anteriores produzidos pelas mesma produtora, que conseguiu se superar mais uma vez.
*Review elaborada no PS4 padrão, com código fornecido pela Codemasters.
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Atualizado em 6 Jul 2020.