Um dos primeiros jogos que fiz no meu primeiro ano aqui no site foi Ghostrunner, que se tornou uma surpresa agradável e um dos meus jogos favoritos desses últimos 3 anos; agora, estamos cara-a-cara com a continuação Ghostrunner 2, e com ela chega o questionamento: é uma boa sequência?
Venha descobrir mais sobre essa ciber-aventura agora, em mais uma review antecipada e com spoilers aqui do Pizza Fria!
História
Após um ano dos eventos de Ghostrunner, em Ghostrunner 2 voltamos à Torre Dharma. Com a queda do ditador Keymaster e do Arquiteto (ambos derrotados por nós, jogadores), a torre enfrenta uma lacuna de liderança, impactando o direcionamento da comunidade.
Neste cenário, surgem novos desafios e ameaças, ansiosos para dominar a Torre Dharma. Cabe a nós, o Ghostrunner, e ao Interface Council, impedir a ascensão de uma nova e sinistra liderança, especialmente com o perigo de ver um antagonista do primeiro título retornar.
Aqui começa a se tornar inevitável a comparação: no primeiro jogo, a história foi contada com muito mais charme e carisma, algo que em Ghostrunner 2 parece se perder em troca de um storytelling muito mais frenético, lotado de informações para serem absorvidas desde o primeiro momento e, em alguns momentos, até confusa.
Isso se torna um reflexo da gameplay (mais sobre isso abaixo), mas a história de Ghostrunner 2 parece não sustentar a existência dessa sequência – já que o primeiro jogo estava ligado ao ideal de libertação tanto de Jack, o Ghostrunner, quanto dos personagens que o acompanharam e ajudaram pelo caminho.
Jack está livre, a Torre Dharma está segura até os acontecimentos desse novo título; havia mesmo a necessidade de todo um segundo jogo para contar sobre uma ameaça? Até mesmo a trama do primeiro jogo foi condensada em um breve cartoon para os navegantes de primeira viagem. O que nos faz acreditar que essa história, muito mais simples e rasa do que o Ghostrunner original, não funcionaria em outro formato se não de jogo?
Há uma tentativa exagerada de criar uma sequência natural para uma história que já se demonstrava completa, mas feita de forma corrida e sem muitas explicações – como a da criação do Interface Council, os novos personagens que nos são introduzidos muitas vezes em meio de batalhas e pulos intensos, apenas por meio de chamadas de rádio, ou o retorno de personagens como Bakunin, da DLC Project HEL, que não acrescenta muito mais do que um novo personagem ou NPC aleatório fariam.
“Infelizmente, (…) é o subproduto de um jogo bom demais para uma história separada. E, talvez, bom demais para haver a necessidade de uma sequência.” Sobre Ghostrunner 2 na review de Ghostrunner: Project HEL
Gameplay
Como mencionado anteriormente, Ghostrunner 2 conta com uma história frenética para acompanhar uma gameplay incansável, exagerada e pouco amigável para novos jogadores.
No primeiro jogo, a curva de aprendizado era mais gentil e permitia que nós, jogadores(as), pudéssemos experimentar cada mecânica e cada nova descoberta com uma certa calma, apesar da natureza caótica do título.
Já em Ghostrunner 2, nós não temos sequer uma área de treino como o Cybervoid, que aqui se tornou apenas uma área de desafios cansativos e pouco interessantes, além de também perder sua função como uma das áreas dos melhores e mais criativos puzzles do primeiro Ghostrunner.
A falta do Cybervoid como área de treino se mostra crucial em momentos como a obtenção da primeira ultimate, uma nova mecânica de Ghostrunner 2 que em conceito se assemelha muito às habilidades ultimates de jogos multiplayer como Overwatch e VALORANT, e você precisa descobrir o seu funcionamento ali, em meio ao combate. Se torna muito pouco intuitivo.
Os puzzles, inclusive, foram praticamente quase todos removidos do jogo – também para dar mais espaço à um combate frenético e com uma dificuldade muito aumentada. Ghostrunner chamou a atenção por ser, na época, um dos poucos jogos que sabia balancear bons puzzles, que instigavam a imaginação, com uma gameplay que desafiava os jogadores a realmente aprimorarem suas habilidades.
Agora, Ghostrunner 2 abre mão de todo esse charme e aposta em uma gameplay que lembra muito um souls-like, onde o seu objetivo é apenas matar e evitar morrer pela menor quantidade de vezes possível. A dificuldade, que era apenas uma das características do jogo, se tornou a principal delas. E de forma desbalanceada.
Isso pode – e vai – afastar os jogadores que buscavam um jogo desafiador na medida ideal, que recompensava aquele que aprimorasse a sua gameplay. Será que vale mesmo a pena deixar os jogadores casuais de lado e fazer tudo para os jogadores hardcore?
Gráficos e Performance
O que aconteceu nessa Torre aqui?!
Ghostrunner 2 continua funcionando tão bem quanto o jogo anterior, e funciona liso como manteiga quando instalado em um SSD – mas conta com uma quantidade considerável de bugs, como personagens emitindo luz própria (o que seria inspirador se não fosse apavorante) e até um erro fatal que encerrou o meu jogo no meio de uma luta e me assustou, me fazendo imaginar que seria impossível continuar o progresso. Felizmente, esse crash não aconteceu novamente!
É notável a falta de polimento em comparação ao primeiro jogo, que apresentava quase nenhum bug, a Ghostrunner 2.
Nota-se também a falta de inspiração ao criar as ambientações desse novo jogo, que peca em abrir mão das grandes paisagens tecnológicas, iluminadas e abertas por espaços fechados e escuros. Para uma comunidade recém-libertada como a Torre Dharma, ela está assustadoramente triste. São poucos os momentos em que o bom trabalho da engine é colocado à prova em ambientes bem planejados e com visuais de tirar o fôlego – algo que era a norma no primeiro Ghostrunner.
Novamente, o potencial de termos algo mais grandioso e melhor foi desperdiçado em troca de cenários pouco memoráveis.
Vale a pena comprar Ghostrunner 2?
Se você acompanha a indústria de jogos há algum tempo como eu, sabe que havia um tempo em que as sequências de muitos jogos eram anunciadas e, quando eram lançadas, chegavam como títulos quase perfeitos – aprimorando quase tudo que era bom no primeiro jogo, polindo o que não funcionava e adicionando elementos que abrilhantavam ainda mais os títulos.
Cito como exemplo sequências que superaram os originais em todos os sentidos como Resident Evil 2, Tomb Raider 2 e Uncharted 2: Among Thieves, entre muitos outros dessas gerações passadas, onde ter uma sequência significava ter uma melhora de fato.
Já nas gerações mais atuais, é perceptível que ao anunciarem uma sequência de algum jogo que deu muito certo, vem junto uma onda de incertezas e questionamentos. Essa continuação era realmente necessária? Os estúdios vão conseguir manter a qualidade que mostraram no primeiro jogo e mais, vão conseguir adicionar algo que aumente o brilho dessa sequência?
Tenho certeza de que você pensou em muitos jogos recentes que receberam continuação, e as mesmas dúvidas eu levantei ao saber que Ghostrunner 2 seria lançado. Apesar da felicidade em saber da continuação, também fiquei preocupada.
E, aqui, infelizmente, temos mais um caso onde a sequência não se justifica. Muito pouco do que fez Ghostrunner um jogo tão charmoso e cativante é replicado ou melhorado em Ghostrunner 2, e o que se vê é uma tentativa de criar uma franquia em cima de uma história que não precisava de continuação – algo que já estava vendo acontecer com o lançamento da DLC Project HEL, que também não fez jus ao ótimo trabalho do primeiro jogo.
Tínhamos o título perfeito, e agora Ghostrunner caminha para um local perigoso – o de se tornar uma franquia sem personalidade, apenas para acompanhar o hype de ser mais um “jogo difícil” em um mar de títulos com a mesma premissa.
E mesmo assim Ghostrunner 2 não tem hype o suficiente para o preço que cobra no lançamento. Aguarde uma promoção e veja por si mesmo a falta de charme e inspiração desse título.
Ghostrunner 2 será lançado em 26 de outubro para PC via Steam, GOG.com, Epic Games Store e para PlayStation 5 e Xbox Series X|S.
*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce RTX, com código fornecido pela 505 Games.
Pizza Fria
Reviews, notícias e tudo sobre o mundo dos gamesPor Flávia "Cassiopeia", Pizza Fria
Atualizado em 22 Out 2023.