Você talvez nunca tenha ouvido falar de Gimmick!. E tá tudo bem por isso, afinal, o jogo, lançado em 1992 pela Sunsoft, nunca chegou oficialmente ao Brasil, sendo lançado apenas no Japão e na Escandinávia, com o nome de Mr. Gimmick. Agora, 31 anos depois da sua estreia, a Bitwave Games, em parceria com a desenvolvedora City Connection, lançam hoje o game, com um toque mais moderno e, claro, em âmbito global, através da Gimmick! Special Edition.
E se você quer descobrir se o título vale o seu tempo e o seu dinheiro, você veio ao lugar certo. Pois eu vou te contar tudo e mais um pouco sobre esse clássico esquecido, mas que retorna para as plataformas modernas agora, em mais uma análise antecipada do Pizza Fria!
As aparências enganam…
Eu também nunca tinha ouvido falar de Gimmick! até maio, quando a Bitwave Games fez o anúncio da Special Edition. Minha atenção foi fisgada pelo trailer e, em seguida, quando veio o convite da publisher para escrever uma review, abracei o desafio, principalmente para conhecer um pouco mais sobre um estilo que eu gosto – plataformas de precisão em jogos retrô.
Gimmick! conta a história de um boneco verdinho, chamado Yumetaro, que foi um presente para uma garotinha chamada Mary. No entanto, nosso fofo herói é deixado de lado quando a menina recebe novos brinquedos. Um dia, a menina, e seus novos brinquedos, desaparecem e apenas Yumetaro fica pra trás. Com a missão de resgatar sua antiga dona, o herói parte em uma aventura por diversos níveis desafiadores cumprir sua missão.
Sim, a narrativa não é o forte do jogo. Na verdade, é quase como se ela inexistisse. Isso porque os detalhes que revelei acima são mostrados como uma cutscene simples, antes mesmo de apertarmos Start para começarmos nossa aventura. Para saber porquê sofreremos em nossa aventura, ou mesmo o nome dos personagens, é preciso consultar os manuais originais in-game disponíveis, mas com uma observação importante: eles só estão disponíveis em japonês e… sueco. Logo, caso você não domine nenhum desses idiomas, é um goodie meio méh disponível no pacote. Eu mesmo recorri para amigos e ao bom e velho Google.
E quando comecei a falar sobre aparências enganarem, isso é porque Gimmick! parece ser um jogo fofinho. Parece. A realidade é bem diferente! Apesar de ter gráficos bem interessantes para a época (o game foi lançado para o Nintendinho, o NES), o foco aqui é em uma gameplay complexa, interessante e, por vezes, bem injusta, já que nem sempre conseguimos ter o controle do que o personagem faz.
Desafios de alto nível
Gimmick! traz um alto grau de dificuldade, muito por conta da única mecânica disponível no jogo. Os jogadores têm que aprender a usar a estrela que Yumetaro produz não apenas para combater inimigos, mas também para alcançar áreas que não podem ser acessadas de outra forma. Esse elemento, embora inovador, também aumenta bastante a dificuldade do jogo, pois exige precisão e timing no uso da estrela. Fora isso, além de mover o personagem lateralmente, podemos pular. E só. Não há mais nenhum tipo de mecânica ou movimento diferente no game.
Essa simplicidade se torna complexa ao exigir habilidade e pensamento estratégico. Ao mesmo tempo em que pode ser frustrante e difícil de dominar, já que você vai falhar muitas vezes. E não só no uso da estrela, bem como os inimigos são difíceis, pois conseguem mudar rapidamente a direção de um movimento e irem ao encontro de Yumetaro.
Por “sorte”, e prevendo o caos que isso poderia gerar em pleno 2023, a Bitwave Games lançou uma versão com alguns dos recursos interessantes que temos visto em relançamentos de clássicos em plataformas modernas. O jogo conta com uma função de Rewind (rebobinar), simplesmente ao pressionar o ZL, que simplesmente transforma todo o jogo, dando chance aos jogadores de corrigir seus erros imediatamente, e bolar novas estratégias para vencer. Confesso que gastaria muito mais tempo para finalizá-lo, não fosse essa opção.
No entanto, isso também transforma a experiência, deixando-a consideravelmente mais curta. Cada fase é única e oferece seus próprios desafios e obstáculos. Além disso, há também uma fase bônus secreta que só pode ser acessada se o jogador coletar todos os itens especiais e não usar nenhum Continue no gameplay. Se na proposta original os jogadores treinariam para superar os desafios de gameplay, com o Rewind superar as seis fases principais do jogo, mais a fase secreta, ficou uma tarefa mais fácil, e rápida também.
Outra curiosidade sobre o gameplay de Gimmick! é que, apesar de ser um jogo simples, há uma variedade aceitável de inimigos, todos originados dos brinquedos de Mary. A maioria se move em padrões previsíveis, indo para frente e para trás em uma plataforma específica ou pulando em um ritmo constante. Outros têm um comportamento mais complexo, como perseguição ativa de Yumetaro, ou atirando projéteis. E são esses os que dão mais trabalho.
Além disso, uma característica interessante do jogo é que os inimigos não são derrotados ao serem atingidos por Yumetaro, como acontece em muitos outros jogos de plataforma, quando pulamos sobre eles, por exemplo. Em vez disso, é preciso gerar uma estrela e acertá-la nos adversários para derrotá-los. Isso cria uma dinâmica ainda mais interessante e desafiadora, já que os jogadores precisam usar a estrela tanto para navegação quanto para combate.
Além disso, temos inimigos que oferecem um grau ainda maior de dificuldade, como um escudo, ou exigem serem acertados mais de uma vez para serem derrotados. Isso acontece em especial nos chefes, disponíveis ao fim de cada fase, que requerem estratégias específica para serem derrotados. Esses chefes podem variar de criaturas gigantes a máquinas complicadas, cada uma com seu próprio padrão de ataque e defesa.
Além do Modo Normal, Gimmick! Special Edition chega ao mercado com outros dois modos, voltados para jogadores que apreciam desafios. O SpeedRun Mode, que oferecerá uma classificação online sobre quem termina o jogo em menos tempo, e o Serious Mode, que traz conquistas, mas desativa o Rebobinar. O game ainda conta com uma galeria, que oferece os manuais da época, arte da capa, e até uma visão dos cartuchos.
Audiovisual avançado
Eu confesso que fiquei surpreso quando comecei a testar Gimmick! por dois motivos. O primeiro foram os gráficos, coloridos e um tanto diversificados, que lembraram um tanto os primeiros jogos da franquia Wonder Boy. Em seguida foi a trilha sonora, que é agradabilíssima. E eu fui pesquisar sobre, pois achei ela realmente diferenciada, em especial, para a época que foi produzida.
Composta por Masashi Kageyama, descobri que a trilha, que conta com uma variedade de músicas que vão desde melodias alegres até temas mais melancólicos e sombrios, só foi possível porque o jogo utiliza um chip de som especial, presente na versão japonesa do NES, conhecido por aqui como Nintendinho. Este chip, chamado Sunsoft 5B, permitia uma maior qualidade de som e uma maior variedade de notas musicais do que o hardware padrão do NES. Como resultado, a trilha sonora tem uma qualidade de som superior à maioria dos outros jogos da época e é capaz de incorporar uma gama mais ampla de estilos musicais.
Particularmente, achei a música em Gimmick! de alto nível e, ao melhor estilo de chip tune, complementando perfeitamente a estética do jogo, criando um ambiente único para cada fase e contribuindo para a atmosfera geral do jogo.
Vale a pena comprar Gimmick! Special Edition?
Gimmick! Special Edition é uma obra prima resgatada, que oferece um importante capítulo da história dos videogames. Apesar do seu lançamento ter sido esquecido em quase todo o mundo, o título traz uma gameplay agradável, em especial por conta das mecânicas de Rewind, gráficos à frente do seu tempo e uma trilha sonora memorável. Peca por não oferecer uma história razoável, mas compensa em outros aspectos de seu gameplay.
Gimmick! Special Edition chega nesta quinta-feira, 6, para PlayStation 4, Nintendo Switch, PC, via Steam, e Xbox One, e está disponível em versões a partir de R$ 46,45, um preço bem justo pelo que oferece.
*Review elaborada em um Nintendo Switch, com código fornecido pela Bitwave Games.
Pizza Fria
Reviews, notícias e tudo sobre o mundo dos gamesPor Lucas Soares, Pizza Fria
Atualizado em 6 Jul 2023.