Difícil de definir, Gord é um excelente jogo, pelo menos aos meus olhos. Trata-se de um jogo de Estratégia em Tempo Real (RTS), com elementos de gerenciamento, sobrevivência e construção de cidades. Além disso, oferece uma narrativa de tirar o fôlego, perfeita para quem aprecia histórias macabras.
Gord é a primeira produção do estúdio Covenant.dev, composto por profissionais experientes que participaram da criação do aclamado The Witcher 3: Wild Hunt. A narrativa, cutscenes, ambientação e trilha sonora de Gord remetem ao universo da CD Projekt Red, o que é um grande elogio.
Os desenvolvedores habilidosamente misturaram diversos gêneros e ideias em Gord. Mas será que há conteúdo suficiente para destacá-lo em um nicho tão competitivo? Vamos debater isso nesta análise antecipada do Pizza Fria!
O que é Gord?
O primeiro passo para explicar o que, de fato, é Gord, é entendermos quais são as principais inspirações dos desenvolvedores para esse título e nas palavras da própria desenvolvedora, é uma mistura de Northgard, Rimworld e Darkest Dungeon, tudo isso numa ambientação que herda muito da cultura e do folclore eslavo, como a franquia The Witcher. Então, se você conhece esses jogos, com certeza deve estar tentando juntar todos eles na sua cabeça e tentando entender como essa mistureba toda deu em um jogo.
Bom, podemos dizer que Gord herda o combate e os controles de um RTS como Northgard, herda as características e o sistema de personagens de Darkest Dungeon, a ambientação de The Witcher e o gerenciamento de Rimworld. Sei que parece uma mistura estranha e complexa, mas pretendo explicar com mais detalhes o funcionamento de cada um desses tópicos. Antes, vamos falar da história de Gord.
O jogo se passa em um universo de fantasia medieval sombria, onde o mundo já não possui mais Sol e todas as criaturas vivem e sobrevivem na escuridão eterna. E você como jogador assume o papel do líder da “Tribe of Dawn”, um pequeno povoado humilde que vive numa zona isolada do reino, cheia de criaturas selvagens e tudo mais que a escuridão consegue esconder. Como líder, seu papel é garantir que seu povo sobreviva, e, principalmente, não enlouqueça no processo.
Gord tem uma narrativa linear, funcionando como um extenso tutorial que introduz sistemas, personagens e perigos. Embora chamar de tutorial possa parecer rebaixar sua importância, asseguro que é envolvente e, sem revelar demais, está à altura do mencionado The Witcher 3: Wild Hunt.
É um jogo de RTS?
Gord não é puramente um jogo de RTS, mas incorpora muitos desses elementos. Durante a gameplay, você controla aldeões individualmente, designando tarefas específicas. Este microgerenciamento se assemelha a jogos como Age of Empires ou Northgard. Cada aldeão possui atributos únicos, o que torna crucial reconhecer os talentos individuais para otimizar sua estratégia. Então, é de extrema importância entender os pontos fortes de cada um dos seus personagens para otimizar a sua estratégia.
O combate é em tempo real, exigindo táticas rápidas e considerações sobre os pontos fortes e fracos de cada personagem. Esse nível intenso de gerenciamento pode ser desafiador para novatos, mas Gord ensina progressivamente, tornando a aprendizagem gratificante.
É um jogo de gerenciamento?
Gord também é um jogo de gerenciamento, e eu diria que essa é a parte principal, onde você vai passar a maior parte do tempo. Você assumirá a responsabilidade de um assentamento e deverá cuidar de todos os aldeões sob sua responsabilidade, coletando recursos, comida, ouro, entre outros, enquanto tenta sobreviver dos perigos que a noite guarda.
O jogo utiliza a “Névoa de Guerra” para limitar a visão, simbolizada pela escuridão em Gord. Logo, para você ganhar visibilidade, deverá construir braseiros, andar com tochas ou colocar armadilhas para se prevenir de ataques vindos do escuro.
Gord também se inspira em jogos de gerenciamento detalhados, como Rimworld, dando individualidade a cada aldeão. Esta característica se integra perfeitamente ao sistema de sanidade do jogo.
Como se manter são?
Em Gord, a sanidade é, de longe, o recurso mais importante do seu assentamento. Ela é uma média da sanidade de todos os aldeões sob seu comando. Cada aldeão fica estressado ao executar atividades em que ele não é tão bom, ao trabalhar no escuro, ao ser atacado, e caso ele for um militar, ficará indignado caso não receba o salário em ouro. Esses são apenas alguns exemplos de coisas que afetam a mente dos personagens, e você pode mitigar esses problemas oferecendo bebidas, comidas, segurança e iluminação para eles.
Como cada uma das suas tropas possui uma barra de sanidade própria. Microgerenciar cada uma delas pode ser um pouco frustrante às vezes, mas boa parte da graça é dominar aos poucos todos os sistemas do jogo para lidar melhor com as situações.
Outro ponto interessante que afeta diretamente a mente dos personagens é a presença de algumas criaturas mágicas, que funcionam aqui como Chefes. Esses chefes ficam pelo mapa lhe concedendo algum malefício como afetar os rios, atrair mais monstros ou apenas manipular a mente dos seus subordinados. Esses chefes podem ser derrotados através da porradaria, mas em geral eles são bem fortes e você provavelmente perderá alguns personagens no processo, ou no mínimo, perderá muitos recursos. Entretanto, essas criaturas oferecem alguns pactos para você se livrar delas, que obviamente exigem um preço, como por exemplo sacrificar uma criança!
Uma aventura para compensar a monotonia!
Um problema que, em geral, jogos de gerenciamento e RTS singleplayers têm são o fato de que, em alguns momentos, somos obrigados as tropas coletarem recursos ou construírem alguns edifícios. Isso sempre me incomodou, mas em Gord isso não ocorre, visto que os mapas são relativamente grandes e você precisará tomar um certo cuidado e escolher quais brigas poderá comprar no meio da floresta. Em outras palavras, no jogo sempre há algo a se fazer enquanto seus trabalhadores estão ocupados, pois os mapas são vivos, cheios de conteúdo e te instigam a montar um pequeno grupo de aventureiros (com a terapia em dia) como um patrulheiro, um guerreiro ou um arqueiro.
Então, essas pequenas aventuras que acontecem em paralelo com a vida do seu assentamento, são geralmente muito divertidas e geram histórias emergentes interessantes, como ser emboscado por um grupo de selvagens, ou ir parar sem querer num acampamento abandonado. E essas pequenas aventuras são divertidas por si só de se jogar, dado ao excelente combate que Gord tem e esse microgerenciamento das unidades, somado a variedade de magias e classes que o jogo oferece. No somatório, temos quase um “dungeon-crawler” que acontece em paralelo ao gerenciamento da sua vila.
Vale a pena comprar Gord?
Gord é um excelente jogo, que entrega de forma excepcional o que oferece. Ele é bem diferente dos demais títulos do gênero, justamente por entregar essa mistura de gerenciamento, RTS, tower defense, narrativa e aventura de uma forma singular. Então, por ser um jogo que foge dos padrões dos jogos de estratégia que vemos no mercado, é difícil não recomendá-lo para todos aqueles que tiverem o mínimo de interesse em explorar e se aprofundar pela noite.
Entretanto, acho importante ressaltar que o game aborda temas bem pesados o que pode ser um incômodo para algumas pessoas. Além disso, Gord também é um jogo bem denso e difícil, e essa dificuldade pode ser frustrante para jogadores mais alheias ao gênero de estratégia. Porém, caso você já seja um veterano em criar colônias, esse jogo pode facilmente te consumir centenas de horas.
Gord foi desenvolvido pelo estúdio Covenant.dev, e será publicado pela Team17 para PC, via Steam e GOG.com, PlayStation 5 e Xbox Series X|S no dia 17 de agosto.
*Review elaborada em um PC equipado com uma Geforce RTX, com código fornecido pela Team17.
Pizza Fria
Reviews, notícias e tudo sobre o mundo dos gamesPor Matheus Feldmann, Pizza Fria
Atualizado em 15 Ago 2023.