Gotham Knights é a nova aventura no universo do Batman desenvolvida pela WB Montreal, mesma desenvolvedora de Batman Arkham Origins. Após provarem no game de origem do homem morcego que conseguiam lidar com aventuras ambientadas neste vasto universo do personagem da DC Comics, finalmente a desenvolvedora teve a chance de criar algo novo. Gotham Knights é um jogo que desde o seu anúncio fez com que os jogadores ficassem receosos em relação ao que seria entregue. Pois, diferente da franquia Batman Arkham, que era focada em ação e aventura, a nova aventura da Batfamilia apresenta elementos de ação e RPG.
Está mudança brusca fez com que vários fãs tirassem conclusões precipitadas sobre o projeto antes mesmo dele ser mostrado de forma mais aprofundada. Entretanto, mesmo com vários trailers divulgados, sempre existia aquela dúvida se o jogo conseguiria entregar uma aventura na mesma qualidade dos jogos anteriores do Batman.
Este é um aspecto interessante, pois, a história da Batfamilia, principalmente nos quadrinhos, sempre apresentou narrativas onde os companheiros do Homem Morcego precisam mostrar o seu verdadeiro valor e sair da sombra do grande herói de Gotham. Coincidência ou não, Gotham Knights tem um objetivo semelhante. Provar seu valor e não ficar apenas na sombra do passado da franquia.
Assim sendo, com a promessa de entregar uma narrativa interessante e cativante, será que este novo game consegue realmente se destacar e voar com as suas próprias asas? Confira agora em mais uma review antecipada do Pizza Fria!
A morte do Batman
Gotham Knights começa mostrando as consequencias da morte do Batman. Vemos os membros da Batfamilia, Barbara Gordon, Jason Todd, Dick Grayson e Tim Drake, tendo que lidar com seus sentimentos e assumir o manto dos protetores de Gotham City. O jogo faz um excelente trabalho neste inicio ao mostrar como cada um destes personagens está lidando com a perda.
Isto adiciona um peso as ações que eles terão ao decorrer da campanha, embora eu sinta que este peso acaba sendo perdido ao decorrer da campanha, principalmente por causa de algumas decisões questionáveis no roteiro. Entretanto, o começo da história consegue realmente impactar, sendo um dos melhores inícios de narrativa presentes em uma história do universo do Batman.
Após assumirem este legado, os heróis precisam investigar crimes pela cidade, lidar com algumas conspirações e ir resolver alguns casos não resolvidos pelo Homem Morcego. Uma destas missões é a investigação da Corte das Corujas, uma suposta sociedade secreta que governa a cidade por anos, influenciando políticos, criminosos e até mesmo a polícia. Assim sendo, os protagonistas devem seguir as pistas e desvendar está grande conspiração. Portanto, assim se inicia Gotham Knights, uma investigação que vai ganhando proporções gigantescas e… nunca chega a lugar nenhum infelizmente.
Faltou desenvolvimento de personagem
Quando falamos de histórias de super-heróis, é normal esperarmos alguns clichês e até mesmo cenas meio cafonas. Entretanto, um aspecto que as histórias do Batman sempre se destacaram, foi no quesito desenvolvimento de personagem. Mesmo que a história não apresente algo muito elaborado, por vermos o crescimento do herói ao decorrer da jornada, já temos uma sensação de aprofundamento.
Entretanto, Gotham Knights não faz isso bem. Estamos falando de uma história em que o maior herói e mentor destes personagens morreu. Logo, embora tenhamos um começo bem emocionante apresente este aspecto, ao decorrer da história parece que os personagens simplesmente esquecem deste acontecimento e não vemos eles sendo afetados por isso mais.
Claro, temos um segmento ou outro em que os personagens citam a morte de Bruce, mas nunca temos um real crescimento destes personagens com este acontecimento. Este é um aspecto decepcionante, pois, os personagens da Batfamilia são muito distintos um do outro e até mesmo nos quadrinhos, quando eles precisam trabalhar juntos, é notável o contraste da personalidade de cada um deles. Isto não acontece em Gotham Knights.
Parece que cada herói está ali simplesmente pela missão e não conseguimos ver sentimento e nem crescimento neles. Para ser justo, existe apenas um momento em todo o game em que consegui ver o humano por trás da máscara. Pois, existem algumas missões opcionais que são focadas neste desenvolvimento e elas são bem interessantes.
Para exemplificar, as missões de Batgirl focam em superar a perda de Bruce e do seu pai, os maiores mentores em sua vida. Infelizmente, mesmo com estes momentos, acaba não sendo desenvolvimento suficiente.
A conspiração da Corte das Corujas
Quando foi revelado que a Corte das Corujas seriam os vilões principais de Gotham Knights, fiquei animado. Pois o quadrinho é um dos meus favoritos do Batman. Temos uma história que envolve uma grande conspiração na cidade, em que o herói não sabe em quem realmente pode confiar. Isto causa um sentimento de mistério e apreensão incrível durante toda a história. E o jogo da WB Montreal não consegue desenvolver isso tão bem quanto poderia.
Embora a corte realmente seja um aspecto importante no jogo, ela não é bem desenvolvida. Não temos um ar de mistério grandioso aqui, sendo que a sensação é que eles são apenas uma gangue qualquer para derrotarmos em Gotham. O game até tenta adicionar alguns plot twists em relação a esta organização, mas elas não funcionam, principalmente pelos acontecimentos serem previsíveis até mesmo para os jogadores que não conhecerem a história original.
Além disso, o jogo acaba não desenvolvendo peças-chave desta história, como a relação direta de Dick Grayson com a corte, um dos aspectos mais legais da história nas HQs. Logo, o sentimento definitivo é que Gotham Knights tinha a chance de entregar uma história cativante de mistério e investigação, mas acaba ficando apenas no raso, entregando algo pouco memorável.
Vilões opcionais
Algo que me surpreendeu em Gotham Knights é que o desenvolvimento de alguns vilões secundários, é mais interessante do que a história original. Para exemplificar, o roteiro apresenta um plot inédito para a Arlequina que realmente funciona em sua quest. Temos uma interpretação da vilã em que ela usa os seus conhecimentos para formar grupos que a apoiem. Sempre apreciei narrativas que mostrem um lado de Harley longe do Coringa e admito que apresentarem ela como uma personagem forte, manipuladora e inteligente neste jogo, me agradou bastante.
Outro vilão que se destacou foi o Cara-de-Barro. Embora ele não fuja muito do que se espera, um monstro gigante, as lutas contra este vilão apresentam algo único no gameplay, o que me agrada por ter adicionado maior variedade, algo que infelizmente, o jogo deixa a desejar.
Pouca variedade na jogabilidade
Uma das maiores preocupações em relação a Gotham Knights era o seu gameplay. Pois, com a adição de elementos de RPG também temos presente muito farming, segmentos no qual precisamos realizar quests repetitivas para aumentar o level do personagem. E bom, eu diria que o jogo se sai bem neste aspecto na maior parte do tempo, mas peca por apresentar pouca variedade. Funciona da seguinte maneira: temos um vilão principal para derrotarmos, logo, devemos buscar pela cidade crimes realizados pela gangue que está apoiando o vilão e interrogar os capangas para descobrir a localização do grande vilão.
Basicamente, este é o loop de gameplay do jogo durante toda a campanha. No começo, este aspecto é muito bom. Pois, temos o sentimento de ter que investigar cenas do crime e interrogar vilões por toda a Gotham City. Entretanto, algumas das quests do game irão obrigar o jogador a repetir várias vezes a mesma coisa, se tornando maçante.
Por exemplo, existe um trecho que devemos encontrar uma juíza em perigo. Logo, devemos ir até uma região pré-determinada do mapa e buscar por crimes em andamento. Assim, se o crime for da gangue correspondente, devemos interrogar um vilão e obter informações. O problema, é que depois disso, devemos ir para outra região e interrogar outro capanga de outra gangue e isso se repete várias vezes. Logo, tive o sentimento que o game quebrava a imersão na história por repetir várias vezes o mesmo tipo de missão.
Um combate divertido e com boa variação
Diferente das quests de Gotham Knights, o combate é um aspecto que me impressionou. Admito que eu estava cauteloso em relação aos elementos de RPG que seriam apresentados no game, pois, se fossem feitos de uma maneira pouco adequada, teríamos problemas em relação à progressão e diversão. Felizmente, o jogo consegue balancear isso muito bem entre todos os quatro personagens jogáveis. Durante a minha jornada, joguei com a Batgirl e a jogabilidade com a protagonista funcionou muito bem.
A personagem pode andar, correr, usar o arpéu para chegar em lugares mais altos e realizar diversos golpes corpo a corpo. Diferente dos jogos da franquia Batman Arkham, aqui não temos o sistema clássico de bater e contra-atacar. Em vez disso, devemos desviar dos ataques dos inimigos no tempo certo e então atacar.
Admito gostei muito deste novo sistema, pois, ele é fluido e exige que o jogador adapte os seus movimentos dependendo do vilão que está enfrentando. Por exemplo, ao enfrentar os Garras, assassinos de alta patente da Corte das Corujas, a protagonista precisa realizar um ataque com o batarangue para atordoa-lo e logo depois atacar de forma precisa. Está mesmo logica de ataques únicas se aplica a maioria dos vilões no jogo, o força os jogadores a sempre estarem variando os golpes em combate.
Além disso, temos um sistema de habilidades aqui. Ao decorrer da campanha, devemos realizar desafios para desbloquear skills únicas para cada personagem. Algumas da Batgirl incluem jogarmos vários batarangues ao mesmo tempo, em vários inimigos, realizar uma sequência de golpes com alto dano em um vilão e até mesmo fazer um grande ataque no chão que dá dano em vários vilões em simultâneo. Todas estas habilidades vão ficando mais poderosas ao decorrer da campanha, na medida que melhoramos os nossos equipamentos.
Progressão de personagem e equipamentos
Uma das grandes novidades de Gotham Knights é que agora podemos construir algumas peças de traje para o protagonista. Logo, podemos melhorar nossa armadura, ataques corpo a corpo e a distância. Para isto, devemos coletar recursos que serão fornecidos quando derrotamos inimigos e presentes em algumas caixas que podemos encontrar pelo cenário.
Além disso, casa vez que mudarmos nosso equipamento, o personagem irá mudar o visual do traje, sendo este um aspecto bem legal. Porém, se os jogadores não gostarem do novo visual, mas querem manter os perks, eles podem simplesmente ir na aba de estilos e personalizar o visual do traje. Falando nisso, o game conta com mais de 15 trajes únicos que serão desbloqueados ao decorrer da campanha.
Embora tenhamos uma progressão por meio de equipamentos, em nenhum segmento de Gotham Knights me senti limitado por isso. Mesmo estando no level 6, por exemplo, consegui facilmente realizar missões do level 10 sem muita dificuldade. Este aspecto me agradou, pois mostra que o jogo prioriza as habilidades dos jogadores e não apenas os status dos equipamentos.
Stealth e elementos de investigação
Outro aspecto que se destaca em Gotham Knights é o uso do stealth. Uma das minhas preocupações neste aspecto era que os jogadores não poderiam realizar ataques furtivos se estivessem leveis abaixo do inimigo. Felizmente, este não o caso, pois, independente do nível, é possível dar ataques silenciosos que nocauteiam o vilão. Embora o game não obrigue os jogadores a recorrer à furtividade, em alguns trechos foi bem divertido derrotar os capangas desta forma.
Além disso, Gotham Knights apresenta alguns trechos específicos em que precisamos realizar investigações. Por exemplo, logo no começo, existe um segmento no qual precisamos descobrir a senha de um cofre. Para isto, é necessário que analisemos com o modo detetive alguns itens presentes na mesa e conectamos os itens na ordem correta. Estes pequenos trechos estão presentes em todo o game e passam o sentimento de realmente estarmos investigando um mistério.
Também existem momentos na campanha, em que precisaremos resolver alguns puzzles mais elaborados. Por exemplo, existe um segmento em que precisamos jogar uma espécie de Sudoku para abrirmos uma passagem secreta. Estes trechos são muito bons, sendo que foi uma pena não termos alguns enigmas mais complexos.
Modo coop
Gotham Knights apresenta um modo coop que pode ser jogado em até 2 jogadores. Durante um segmento da exploração, consegui me conectar com outro jogador e resolvemos algumas das missões opcionais em conjunto. Não tive nenhum problema de conexão neste aspecto e tudo fluiu muito bem. O jogo adapta bem a dificuldade para dois players em tela, sendo que conseguimos avançar muito bem por todos os combates que enfrentamos.
Uma Gotham City fiel aos quadrinhos
O aspecto que mais me impressionante de Gotham Knights é o visual da cidade. Temos presente no jogo várias regiões diferentes em que é possível vermos a influência dos ricos e poderosos em bairros mais luxosos e a decadência em áreas mais afastadas. Além disso, o jogo consegue criar muito bem o sentimento de uma cidade gótica, com grandes arquiteturas, ruas extremante sujas e uma chuva constante. O game também consegue transmitir a sensação de uma cidade viva, pois, temos pessoas nas ruas, carros passando e não apenas uma cidade cheia de bandidos para o herói derrotar.
Logo, temos aqui uma cidade tão grande, que é preciso usarmos uma Batmoto para nos locomovermos por toda a cidade. Também é possível customizarmos a cor deste veiculo, só é preciso cumprirmos alguns desafios durante a exploração. Além disso, Gotham Knights se destaca por entregar vários ambientes variados e extremamente detalhados. Durante a minha jornada, eu sempre parava de jogar para admirar alguns dos cenários belíssimos do jogo e procurar alguns easter eggs. Vale ressaltar que o jogo conta com Ray Tracing em todas as versões, tornando o visual ainda mais impressionante.
Trilha sonora
A trilha sonora de Gotham Knights consegue fazer jus aos personagens aqui apresentados. Ela está fortemente presente durante a exploração e também nas cinemáticas do jogo, sempre com uma excelente variação e se ajustando bem para o que está sendo apresentado em cena. Acredito fortemente que alguns trechos da campanha serão mais impactantes pelas faixas em si e não as cenas que estão sendo mostradas. Tive este sentimento principalmente na reta final do game, em que as coisas acabam indo para uma direção pouco interessante.
Desempenho
Minha experiência foi no Xbox Series S. Embora tenhamos a grande polêmica do jogo ser travado a 30 FPS, isto não me incomodou durante o gameplay. O jogo entrega gráficos muito bons e a jogabilidade flui excelentemente, sem travamentos e nem quedas de frames. Além disso, não tive nenhum problema com bugs durante toda a experiência. A única coisa que me incomodou um pouco é que o jogo faz uso excessivo de telas de loading, algo que não é esperado de um game de nova geração.
Vale a pena jogar Gotham Knights?
Gotham Knights é um jogo que me surpreendeu em vários aspectos, mas em outros, infelizmente foi exatamente o que eu esperava. A história apresenta é extremamente decepcionante e não temos desenvolvimentos de personagens interessantes, o que torna os protagonistas do jogo quase que cascas vazias na maior parte da campanha. O grande destaque com certeza fica com alguns personagens secundários, como a Arlequina, que conseguem apresentar uma personalidade única e marcante. Entretanto, principalmente quando falamos da jogabilidade, Gotham Knights surpreende por entregar algo sólido e que consegue ser divertido. O título evita cair em problemas básicos de jogos que possuem elementos de RPG e isto é algo excelente.
Por fim. Gotham Knights é um jogo que provavelmente dividirá opiniões. Assim sendo, minha recomendação é que os jogadores coloquem na balança o que realmente importa para a diversão neste game, a história, a exploração de Gotham ou a gameplay. Após analisar todos estes aspectos, fica mais fácil deduzir de o jogo será ou não para você.
Gotham Knights foi desenvolvido pela WB Montreal e será lançado no dia 21 de outubro de 2022 para Playstation 5, Xbox Series X|S e PC, via Nuuvem, a maior loja de jogos digitais da América Latina.
*Review elaborada no Xbox Series S, com código fornecido pela WB Games.
Pizza Fria
Reviews, notícias e tudo sobre o mundo dos gamesPor Leandro Paiva, Pizza Fria
Atualizado em 20 Out 2022.