Gunbrella é um metroidvania (lembrem de Castlevania) com uma pegada noir, e uma boa dose de dificuldade, desenvolvido pela doinksoft e publicado pela Devolver Digital. O título nos coloca no controle de um lenhador em busca de vingança, que utiliza uma arma nada convencional para entregar a justiça na cara dos malfeitores, uma bala de cada vez.
E aí, será que vale a pena acompanhar esse conto de um vingador de seu balachuva? É o que veremos agora, em mais uma análise antecipada do Pizza Fria.
Engenhosidade total
Um dos grandes trunfos no baralho dos seres humanos, caros leitores e leitoras, é a capacidade inata que todos possuímos de fazer gambiarras. Colocar pregos no chinelo, caixas de leite no sapato. Utilizar uma garrafa de refrigerante furada e uma vela acesa embaixo do cano como chuveiro. Ah, o que seria de nós se não fossem as soluções criativas, não é mesmo? Sem as churrasqueiras feitas com panelas de pressão velhas ou tambores furados?
De fato, é uma habilidade essencial para o funcionamento da sociedade. Tive essa revelação após de terminar meu tempo com Gunbrella, um dos nossos jogos da semana, que nos fornece um dos gatos mais mágicos que vi em tempos recentes: a titular Gunbrella. Algum ser evoluído decidiu unir uma arma de fogo de calibre grosso com um guarda-chuva, criando uma relíquia de valor inimaginável. Podemos explodir inimigos e nos cobrir para não sujar a roupa com o resultado. Mágico!
Não obstante a arma singular, Gunbrella também me atraiu em outros pontos. Esse jeitão noir e deprimido, com uma paleta de cores escura e uma atmosfera opressiva e deprimida. Esse ar meio velho oeste, misturado com um bocado de steampunk. A jogabilidade com exploração e pancadaria em 2D. Tudo que um humilde cidadão brasileiro podia querer.
A história de Gunbrella é mais ou menos assim: um lenhador, nosso protagonista, estava na paz do Senhor pegando frutas e outras necessidades no bosque, para levar pra casa. Contudo, seu doce lar é atacado por pessoas desconhecidas que chacinam sua família, destruindo o lugar e deixando como lembrança uma mistura de guarda-chuva com arma de grosso calibre.
Com sede de vingança e um objetivo na mente, nosso herói segue para a cidade mais próxima com sua Gunbrella em mãos, buscando por alguém que conheça a arma ou seus criadores. Talvez eles possam lhe dizer o motivo de terem o atacado. E após isso, obviamente, pagarão com as vidas por perpetrarem um ato tão vil e sem sentido.
Daí para a frente as coisas se desenvolvem de maneiras inesperadas, com cultos e outras bizarrices caindo de cabeça no meio da confusão. Eu curti a trama de Gunbrella e seus personagens, por mais que o jogo não desenvolva de maneira prolongada. Contudo, a maçã dos olhos da experiência é a atmosfera, muito bem construída e mantida pelos esforços dos personagens, da trilha sonora e dos cenários. Chique demais.
Em Gunbrella, dividimos nosso tempo entre explorar os mapas, conversando com pessoas e realizando objetivos, e trocar tiros, bombas e granadas com toda sorte de malfeitores e aberrações. Comecemos pelo primeiro. Podemos explorar livremente os mapas, utilizando tanto das habilidades do nosso herói quanto da nossa arma para alcançar lugares novos.
A parte de guarda-chuva da arma pode ser aberta, nos lançando para frente e para os lados em alta velocidade ou nos fazendo planar como uma Mary Poppins barbuda e cheia de raiva no coração. Essa foi uma grande sacada, porque integra muito bem as habilidades de exploração e combate, além de tornar o jogo muito mais dinâmico e frenético.
Enquanto não estivermos voando por aí, ficamos por conta de uma série de missões, principais e secundárias, que devemos dar conta. O jogo possui muitas, e a grande maioria é muito legal de acompanhar. Levando em conta do tom da obra, é de se esperar que muitas terminem em lágrimas, ou com alguma resolução que nos faça questionar conceitos e pensar sobre o peso de nossas ações.
O único negativo é que Gunbrella não oferece, ao menos que eu tenha visto, um mapa compreensivo de seus cenários nem um guia adequado de suas missões. Podemos ver uma listagem de objetivos gerais, mas nada que ajude muito a nos lembrar caso fiquemos um tempo longe do jogo e acabemos nos esquecendo de quem era fulana e onde ela mandou buscarmos beltrana.
O segundo lado de Gunbrella lida com a velha arte de sentar o pipoco em geral e ver os pedaços voarem pelo céu. Nossa arma possui uma série de funcionalidades interessantes. Por exemplo, temos uma munição básica e infinita, de escopeta, que tem um dano aceitável de perto e um coice porreta. Podemos usar tiros de automática, lançar granadas, serras e muito mais. Sempre teremos a ferramenta correta em mãos, contanto que nos preparemos primeiro.
Além disso, podemos abrir o guarda-chuva para refletir tiros dos inimigos, aparar investidas ou evitar perigos que surgem pela frente. Isso é muito importante, visto que tomaremos chumbo grosso de todo lado e poder lançar uma bala de volta na cara de um cultista é essencial. Saber abrir e fechar a Gunbrella para pegar velocidade é outro salva-vidas, pois ficar parado é receita certa para uma vida curta e bruta.
Por fim, podemos abrir o guarda-chuva para, e é melhor se sentar para ler isso, nos proteger da chuva. De longe a melhor funcionalidade da parada. Sério agora, Gunbrella possui uma jogabilidade bem gostosinha, integrando muito bem todas as particularidades de sua arma curiosa e original para elevar o momento-a-momento do jogo para patamares que não seriam possíveis de outra maneira.
Sons e Visuais
Gunbrella possui visuais muito bonitos, com um estilo visual bem marcante e legal de se ver. Combinando um ar noir com faroeste e steampunk para gerar uma atmosfera única e carregada. Excepcional. Além disso, os modelos são bem animados, as cores bem pronunciadas e temos uma boa variedade de inimigos e aliados sendo apresentados.
A trilha sonora é muito boa, com músicas impactantes que possuem o poder de nos colocar no clima com facilidade, nos mantendo amarrados durante toda a sessão de jogo. Como esperado dos jogos publicados pela Devolver, o que temos aqui não decepciona e realiza seu papel com maestria.
Vale a pena comprar Gunbrella?
É tempo, leitores, de respondermos duas perguntas. Primeiro, vale a pena gastar nosso tempo e curto muneeey com Gunbrella? E será que consigo criar uma gambiarra do tipo? Seria legal? Explodiria em minha cara? Dúvidas, dúvidas e mais dúvidas. Contudo, a primeira pode ser respondida com base no que papeamos até o momento. Vamos lá?
Gunbrella entrega um universo interessante, com uma pegada western noir muito competente e uma arma singular. A titular Gunbrella ficou muito maneira, integrada perfeitamente na jogabilidade tanto pelo lado da exploração quanto pelo lado do tiroteio honesto e frenético. Explorar e lutar é uma delícia, e temos muito para ver e quebrar. O único ruim é faltar um mapinha maroto, e o log de quests ser um pouco mais simples do que deveria.
Mas, no fim das contas, Gunbrella é um jogo bom por demais da conta. É legal explorar, a arma é original e curiosa, a trama vale a pena acompanhar e tudo tem uma atmosfera que nos pega no laço e não solta mais. Esse lance do mapa e do diário de missões pode fazer raiva aqui e acolá, mas nada que tire o brilho da coisa. Se gosta de jogos de ação em 2D, metroidvania ou não, pode ir na fé. Não irá se arrepender.
Gunbrella chega nesta quarta-feira, 13 de setembro, para Nintendo Switch e PC, via Steam.
*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce GTX, com código fornecido pela Devolver Digital.
Pizza Fria
Reviews, notícias e tudo sobre o mundo dos gamesPor Matheus Jenevain, Pizza Fria
Atualizado em 13 Set 2023.