Ah, leitor. Não o vi aí nesse canto… como vão as coisas? Hoje não estou aqui para, de maneira humilde e totalmente ex-ce-len-te de sempre, analisar algum jogo para sua possível degustação. Não. Na verdade, venho para debater um pouco sobre um ponto que ando matutando muito ultimamente. Em verdade, digo que pensei por cerca de trinta minutos. Nesse mundo globalizado isso é praticamente uma eternidade! Vamos falar do seguinte pensamento: Jogue bem ou jogue mal. O importante é ser feliz.
Não é surpresa para ninguém que acompanhe um pouco sobre a cena de jogos que Elden Ring foi lançado. E, aparentemente, é um jogo tão bom que o mero ato de o abrir no computador tem o poder de melhorar a vida de um cidadão, curar todas suas tristezas e colocar o samba nos pés novamente. Partindo do pressuposto, claro, que ele rode. Ou não trave, ou não exploda a máquina. Um preço pequeno pelas graças, estou certo.
E eu, assim como muitos de vocês imagino, me aventurei pelos campos verdejantes do título. Com meu humilde tacape fui coletar plantas e pedaços de pedras, enfrentando lobos e cavaleiros errantes. Em um certo momento avistei, na distância, um montado em um cavalo. Corri para cima feito um louco e fui rapidamente amassado. Várias e várias vezes. Lindo!
É um chefe difícil, pensei. Talvez seja como o dinossauro em Final Fantasy XII. Um inimigo de nível baixo em uma área de iniciantes para nos mostrar nosso lugar de novatos. Com a moral renovada segui em frente, e continuei levando solavancos de todos os lados. Será que eu era verdadeiramente ruim no jogo? Me perguntei isso por um bom tempo. E cheguei a uma conclusão do que deveria fazer para evoluir. Escrever sobre isso no Pizza Fria. Genial!
Falando com seriedade (o máximo que consigo, de todo modo), gostaria de levantar um ponto que tenho lido cada vez mais com a ascensão do estilo souslike. Ou, difícil, punitivo e com um custo alto para morrer e retomar o que perdeu. Vejam, esse tipo de jogo já existia, de uma forma ou outra. Diablo no hardcore tinha temáticas parecidas, afinal.
Mas, por qualquer motivo, ser ruim nesse tipo de jogo, ou querer um modo fácil para nenéns, tem se tornado algo estigmatizado no meio. Ah, quem nunca ouviu o bom e velho “get good scrub”. Ou, então, “chegue ao meu nível, é apenas um pequeno bebê. Ou alguma mistura dos dois com palavras de baixo calão que, ao serem reproduzidas aqui, resultariam em um belo puxão de orelha do editor.
Metal Gear Rising, um de meus grandes amores, é um outro exemplo de jogo difícil, ordinário e cativante. Os inimigos não dão trégua ao nosso querido Raiden, e um momento de descuido (principalmente na dificuldade mais alta) pode ser o diferencial entre ter nosso traseiro robótico chutado até o próximo nível ou fazer combos dignos de filmes de ação hollywoodianos.
Podemos falar, também, de Cuphead. As aventuras de Xicrinho e Caneco, mais nova dupla sertaneja de sucesso do Brasil, ficaram conhecidas por sua alta dificuldade. Eu joguei ele, também, e fui destroçado. Mas como me diverti enquanto falhava miseravelmente. Cada erro me ensinava um pouquinho, e cada frustração me deixava mais perto de conseguir avançar. E isso, por si só, já não é algo bom?
Meu ponto aqui é que não temos a obrigação de jogar tudo bem, amado leitor. Nem de ser um ás dos videojogos. Salvo nos casos onde dinheiro está envolvido, o objetivo maior da coisa toda é se divertir, afinal. Não é? A pressão por ser bom em tudo, essa mentalidade do “get good scrub”, realmente nos deprime e suga a alegria do aprendizado.
Do outro lado, temos jogos conhecidos por sua facilidade e pouco desafio. Veja Yakuza: Like a Dragon, por exemplo. Ele não é um JRPG complexo ou difícil como Shin Megami Tensei Nocturne, por exemplo. Mas, por Kiryu, como é divertido! Perdi horas e mais horas me aventurando por Yokohama em Kamurocho, passando como um trem bala enlouquecido por cima de todos que me chamavam para a treta pelas ruas.
Ou Samurai Warriors e Dinasty Warriors, por exemplo. Enfrentamos centenas e centenas de inimigos que oferecem pouca ou nenhuma resistência aos nossos combos e poderes elementais devastadores. É o tipo de jogo que nos convida à desligar a mente e sair apertando um botão loucamente enquanto vemos a magia acontecer diante de nossos olhos.
Esse tipo de jogabilidade também serve como relaxamento e aproveitamento mesmo que seja, em condição naturais de atmosfera e pressão, desprovida de muito desafio ou frustração. Ser fácil não quer dizer que algo seja ruim, muito pelo contrário. O ruim seria pensar, como muito acontece, que apenas a dificuldade e a repetição de ser massacrado constantemente serve como entretenimento.
O mesmo se dá em jogos online. Percebam que uso sempre minhas experiências como exemplo, pois são as que mais tenho conhecimento. Os velhos dedos ainda tem certa destreza, e me permitem tentar a sorte em todo tipo de joguinho de vocês jovens. Um exemplo recente foi o extremamente agradável The King of Fighters XV.
Depois de brincar no modo treino, decidi pegar o grupo de meu casa Terry e pular para o online. Confiante em minhas habilidades, procurei por partidas certo de que iria limpar o chão com todos os novatos plebeus que infestam os lobbies. Mal sabia eu, no fim das contas, que era um deles. Fui jogado de um lado para o outro feito bola de futebol, e consigo contar minhas vitórias nos dedos de uma mão.
Ah, que dia. Me lembrei do tempo que joguei o famigerado DotA 2. Mais de 1600 horas, sendo 100 de alegria e o restante de raiva e frustração. Ali havia a pressão enorme de jogar bem e entregar a nata do creme em cada jogo. E me pergunto: valia a pena? Ou será que tornava algo que deveria ser um lazer em só mais uma obrigação frustrante e estressante da vida?
Abrir mão dessa ideia maluca de sempre jogar bem, avançar e nunca falhar fez maravilhas para meu estado mental. Agora posso dizer, com segurança, que sou apenas moderadamente excêntrico. Que avanço! Veja bem, agora consigo até aproveitar a maravilha moderna conhecida como Sifu. Conhecido pela dificuldade, o título caiu nas graças de todos os fãs de boas pancadarias.
O jogo é difícil, mas raramente injusto. Me lembro de ter ficado frustrado no começo, após ser derrotado inúmeras vezes e ver meu personagem ir do início da carreira até a aposentadoria em um piscar de olhos. E, pasmem, até desisti de jogar por um tempo. Mas pensar que a diversão vinha em primeiro lugar, e que eu ficava fascinado com o jogo mesmo morrendo um infinito de vezes, me fez ver tudo com outros olhos.
Jogue bem ou jogue mal, o importante é ser feliz!
É hora de amarrar o raciocínio, leitor! Trouxe meu melhor laço e fita, pois você merece apenas o mais chique e refinado. Meu ponto com toda essa balela não foi defender minha notável falta de coordenação motora e habilidade com jogos. Não apenas, ao menos. Ela existe, raramente melhora e vai garantir muitos vexames online e offline em disputas de um contra um.
Mas falando sério agora (sim espertinhos, eu consigo falar sério em certas ocasiões), precisamos trabalhar em nossas mentes a ideia de que um jogo só vale a pena ser jogado, ou aproveitado, se for muito difícil, frustrante, ou uma combinação bizarra dos dois. Falhar, reavaliar e evoluir é algo bom e que traz uma satisfação enorme, de fato. Mas nem sempre é a única via.
Ao fim e ao cabo, leitores do meu coração, o que importa é que devemos nos divertir. A vida, por si só, já é difícil e nos cobra demais a todo momento. Então, por quê diabos faríamos isso com algo que deveria ser nossa diversão e escape de toda essa loucura? Faço um brinde, sim, ao fato de jogar mal. De poder fazê-lo e tirar proveito mesmo assim. Agora que escrevi uma postagem toda para justificar minha falta de habilidade irei voltar para meu Elden Ring. E lembrem-se, leitores, da máxima: jogue bem ou jogue mal. O importante é ser feliz!
Pizza Fria
Reviews, notícias e tudo sobre o mundo dos gamesPor Matheus Jenevain, Pizza Fria
Atualizado em 30 Jun 2022.