Like a Dragon: Ishin! é um título de ação, aventura e porradaria que transporta toda a maravilha do universo Like a Dragon (antigo Yakuza) para o final do período Edo, que compreende dois séculos da história japonesa, e terminou em 1867. Lançado originalmente em 2014, o jogo finalmente foi trazido para o lado de cá do mundo, totalmente em inglês, com novas mecânicas e melhorias.
E aí, será que vale a pena conferir essa pérola que, até então, estava fora do alcance daqueles que não compreendiam japonês? É o que veremos agora, em mais uma análise do Pizza Fria!
Sonhos realizados
Me sinto completamente maravilhado, leitores e leitoras. Por anos pensei como seria bom poder jogar Like a Dragon: Ishin!, embora sempre esbarrasse na pequena e insignificante questão de que não falo japonês. Ou que, via meios digitais específicos, era consideravelmente enjoado conseguir uma cópia física para o bom e velho PS4. Imaginem então a alegria que sinto ao me ver agora, em pleno 2023, conferindo toda sua glória em inglês. Que dia para se estar vivo, não é mesmo?
Like a Dragon: Ishin! foi lançado originalmente em 2014 como continuação de outro título da série, chamado Kenzan, utilizando toda ginga e magia da série para contar uma versão muito, muito, ficcionalizada dos últimos anos do período Edo no Japão, e da figura de um importante personagem da história chamado Sakamoto Ryoma. Este representado por nosso querido Kazuma Kyriu, Deus o abençoe.
Devo dizer que essa mistura ficou bem melhor do que imaginava, mesmo que não possa ser utilizada como argumento nem fonte de pesquisa para nenhum aspirante a estudante dos diversos períodos que compõe a rica e longa história do país. Sim, leitora, dizer que uma das figuras históricas nacionais lutou pelado em uma casa de banho com um capitão muito parecido com o Ryuji, de Yakuza 2, não vai te render nenhuma adoração pela academia.
Like a Dragon: Ishin! conta a história de Sakamoto Ryoma, interpretado por ninguém menos que meu praça Kazuma Kiryu, um espadachim que retorna para casa após uma temporada de confusões e treinamentos em Edo. Como todo bom filho, ele se reúne com seu pai e irmão para colocar o papo em dia. Acontece que a conversa, na verdade, gira em torno de um plano que os dois possuem para utilizar seu grupo de compadres para fazer uma revolução visando alterar o esquema de classes do Japão. Impossível não terminar em lágrimas, não é mesmo?
Mas, como em todo Like a Dragon, algo dá errado. Um assassino mascarado, com um estilo de espada peculiar, invade uma reunião do trio, matando o pai de Ryoma e ferindo seu irmão. Acusado pelo crime, nosso intrépido protagonista se vê fugindo das autoridades enquanto procura pelo elusivo meliante a fim de poder vingar o assassinato de seu patriarca e limpar o próprio nome.
Um personagem representando Kiryu, acusado de um crime que não cometeu e fugindo enquanto tenta provar sua inocência. Posso pensar em mais de um Like a Dragon em que isso acontece, facilmente. Mas, de todo modo, a trama de Like a Dragon: Ishin! é redondinha. Os personagens são maravilhosos, sejam os baseados em veteranos da série como o clássico Majima ou um mero coadjuvante. Fiquei bem envolvido por tudo, querendo descobrir a razão de todo rolê e me surpreendendo e rindo de tudo que acontecia. Clássico Like a Dragon, como não amar?
Like a Dragon: Ishin! nos dá muito para fazer. Podemos seguir a história principal, claro. Ver rapidamente todo o drama, intrigas e traições. Mas onde está a graça nisso, não é mesmo? A verdadeira diversão da série, afinal, está em tudo que contorna o caminho das pedras. Podemos ver várias substories, pescar, criar uma roça, brigar na rua, cantar, dançar, vender coisas e fazer amigos. Nossa! Vejamos alguns desses.
Comecemos pelas clássicas substories. Elas são pequenas missões paralelas que aparecem ao acaso, enquanto exploramos a cidade em que se passa o jogo. Podem acontecer, inclusive, em momentos inusitados. Estamos andando na rua e vemos um cachorro chorando. Ou um chef pedindo comida para experimentar comidas caseiras feitas com amor. Ou um entregador chorando. Ou um ninja roubando as pessoas e fugindo na noite. Enfim, o repertório é vasto. Todas são bem divertidas e recompensam com dinheiro, itens e por vezes até novas coisas para se fazer. São bem escritas e divertidas, fazendo com que andar pelas ruas de Kyo nunca se torne algo enfadonho
Também temos uma quantidade bem legal de minigames, que vão de cozinhar até cantar e dançar. Inclusive, o clássico Baka Mitai foi transposto muito bem para a era, com uma versão acompanhada de instrumentos de percussão que ficou um mimo. Like a Dragon: Ishin! soube, como em seus predecessores, colocar distrações que servem tanto para melhorar a experiência quanto para aumentar nosso tempo de jogo.
E temos a maior distração de todas: Another Life. Nela, ajudamos a encarnação atual da Haruka, personagem chave nos títulos anteriores e filha adotiva de Kiryu, a cuidar de uma pequena propriedade. Nossa amiga está com uma dívida considerável, e apenas nosso trabalho duro plantando vegetais, pescando e cozinhando poderá ajudá-la a deixar as contas em dia.
Esse modo tomou boa parte de meu tempo de jogo, e fez com que nosso assassino mascarado pudesse fugir facilmente se o desejasse. É tão divertido plantar, colher e mandar os pedidos para que Haruka venda. As mecânicas são simples, mas prendem nossa atenção e fazem com que sempre tenhamos algo para desestressar após os momentos mais pesados da experiência.
Um outro ponto interessante de Like a Dragon: Ishin! é que ele nos recompensa por quase tudo que fazemos. O título possui uma moeda chamada Virtue, que é nos dada quando realizamos pequenas ações, ajudamos os outros ou alcançamos marcos no guia de coisas a se fazer. Ela pode ser usada tanto para melhorar aspectos do personagem quanto da nossa fazendinha. Parece bobo, mas ajuda a vermos que sempre estamos avançando um pouco.
Enquanto não estivermos ajudando estranhos e vivendo do campo, estaremos caindo no braço com todo tipo de gente. Like a Dragon: Ishin! segue a tradição da série de contar com um combate divertido e simples, que é tão acessível quanto aprofundado e recheado com opções e estilos de combate diferentes. Neste, por exemplo, contamos com 4.
O primeiro estilo utiliza a boa e velha briga de rua, com foco em agarrões e aparos de ataque. O segundo utiliza a espada, e foca em golpes fortes que podem utilizar finishers carregados e quebrar guardas. O terceiro usa um revólver, e foca em ataque a distância e uso de munições com efeitos especiais. O último usa espada e revólver, e foca no combate com grupos de inimigos.
Todos os estilos possuem uma árvore generosa de habilidades e heat actions, golpes cinematográficos maravilhosos que usamos gastando uma barra de poder que enche ao longo da luta, seus próprios níveis e treinadores que desbloqueiam mais opções de evolução para nosso herói. Podemos trocar a qualquer momento, mesmo no meio da confusão. Isso faz com que sempre tenhamos algo novo para testar e tentar, e ajuda muito a evitar o tédio que poderia vir das várias confusões em que nos metemos.
Por fim, temos os chamados trooper cards, que são cartas utilizadas na hora da bagunça para nos dar efeitos positivos como dano aumentado e cura. Quebram um galho muito bom, principalmente naquelas lutas mais pauleiras que aparecem vez ou outra.
Uma coisa importante de notar é que Like a Dragon: Ishin! utiliza o modelo antigo de combate da série, um pouco mais travado e com um sistema de rating. Isso pode soar diferente para aqueles que jogaram Yakuza: Like a Dragon ou os jogos da série Judgement. Eu, particularmente, acho esse melhor. Salvo algumas chatices como precisar usar menus para mudar a munição da arma, as lutas são mais impactantes e pesadas. Mas, enfim, vai ao gosto do freguês.
Sons e Visuais
Like a Dragon: Ishin! conta com uma trilha sonora muito boa, que vai de músicas clássicas do período até algumas que tomam mais liberdades, geralmente utilizadas em momentos mais tensos. Além disso, temos as músicas do karaokê que, embora não sejam tão do período assim, ficaram boas de ouvir. A joia da coroa, em minha opinião é a dublagem dos personagens. O trabalho feito pelos dubladores de Ryoma e Okita, Kiryu e Majima no original, são simplesmente sensacionais.
Os visuais são legais, com as cidades parecendo vivas e os modelos de personagem muito bem feitos e animados, na maior parte do tempo. Algumas texturas são levemente castigadas, mas colocaria mais na conta do jogo ser portado de consoles mais antigos, ainda que tenha recebido um retoque antes de seu lançamento final.
Vale a pena comprar Like a Dragon: Ishin!?
O negócio é o seguinte, leitores e leitoras. Não me sinto nem um pouco decepcionado depois de jogar Like a Dragon: Ishin!. Geralmente, tendo a pensar que quanto mais hype colocamos em uma coisa, maior fica a dor de notarmos que ela nunca ia poder nos satisfazer. Mas, graças ao bom calvo nórdico, Like a Dragon: Ishin! quebrou a banca.
Uma infinidade de coisas a se fazer, sistemas que nos recompensam constantemente, uma história maneira, personagens bem escritos, sistemas de amizades com NPCs, nossa própria fazendinha, um esquema de combate profundo e com quatro estilos diferentes, uma dublagem espetacular, substories bacanas e divertidas. Enfim, é muito a ser elogiado. Salvo uma ou outra coisa que se releva pela data de lançamento original, como o que falei da chatice em se trocar de munição e alguns bugs, nem sei bem do que reclamar.
Ao fim e ao cabo, posso dizer que os fãs da série nem precisam pensar em Like a Dragon: Ishin!. A resposta é óbvia, não é mesmo? E, diria eu, até os que nunca viram nada das estripulias de Kiryu e companhia encontrariam uma boa porta de entrada no título. Seja qual for sua praia, na real, não tem como errar. Like a Dragon: Ishin! é essencial para todos. Agora, só falta rezar para trazerem os de PSP também.
Like a Dragon: Ishin! foi lançado no dia 21 de fevereiro e está disponível para Xbox Series X|S, Xbox One, PlayStation 4, PlayStation 5, e PC, via Windows Store e Steam.
*Review elaborada em um PC equipado com uma GeForce GTX, com código fornecido pela SEGA.
Pizza Fria
Reviews, notícias e tudo sobre o mundo dos gamesPor Matheus Jenevain, Pizza Fria
Atualizado em 3 Mar 2023.