Às vezes, tudo que queremos é um jogo para jogar sem compromisso com amigos e visitas – algumas dessas pessoas nem têm videogame. Agora, Moving Out 2 promete apagar a chatice de uma das tarefas mais cansativas na vida: fazer mudança.
Em meio ao enorme catálogo de jogos casuais e cooperativos que vieram na esteira do sucesso de Overcooked, será que a continuação de Moving Out (2020) figura entre as melhores escolhas para dividir o sofá numa jogatina de mudança?
O review de Moving Out foi feito no fatídico 2020 e em um contexto de mundo muito específico. Três anos depois, vamos descobrir nesta análise para o Pizza Fria se Moving Out 2 vale a pena ou se continuamos na cozinha maluca de Overcooked.
Visão geral de Moving Out 2
Vamos lá! É impossível não traçar paralelos com Overcooked, portanto peço paciência. Além disso, joguei Moving Out no ano pandêmico. Dois e quatro jogadores. No Xbox. Agora, joguei no Switch, tanto sozinho quanto em dupla, além de testar o modo online.
Sim! Ao contrário de Moving Out, Moving Out 2 traz um modo online para até quatro jogadores simultâneos – seguindo os mesmos passos de Overcooked 2 (2018), que teve multiplayer online e veio maior, mais rápido e mais completo que seu antecessor.
Mesmo assim, o jeito mais divertido de jogar é fazer mudanças com amigos dividindo o mesmo sofá, e o jogo aceita até quatro jogadores locais numa só tela e ainda traz novos estilos de jogo e muitos desafios, como as fases “Leva pra dentro”, nas quais descarregamos o caminhão para organizar os objetos na casa em vez de retirá-los.
Outro ponto a ser destacado é a tradução para português do Brasil: embora as legendas tenham falhado em aparecer corretamente durante algumas cenas faladas e todas as fases tenham nomes em inglês (nota: joguei antes do lançamento), os tradutores fizeram um trabalho precioso ao adaptar referências para o público brasileiro.
Por falar em Brasil, Moving Out 2 recebeu classificação etária de “livre”, portanto é um ótimo passatempo para todas as idades. Por fim, assim como no primeiro jogo, os criadores se preocuparam em colocar algumas opções de acessibilidade que ajudam a formatar a dificuldade entre os jogadores sem comprometer a experiência.
Publicado pela Team17 (também editora da série Overcooked) e desenvolvido pelos australianos da SMG Studio com ajuda da sueca DevM Games, Moving Out 2 chega 15 de agosto para Nintendo Switch, PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X|S e PC, via Steam. O título também estreia no Xbox Game Pass no dia de seu lançamento.
Precisa de ajuda com a bagunça?
Neste nicho específico e querido de jogos indies de cooperação caótica, acredito que seja seguro dizer todo mundo conhece o Overcooked. O sucesso foi tamanho que tivemos toda uma leva de games com conceitos parecidos, alguns melhores, como o próprio Moving Out, outros nem tanto, como Shakes on a Plane.
Moving Out 2 segue bebendo muito na fonte de Overcooked – talvez para criar um ambiente de conforto para jogadores casuais. Comece um save e veja em seguida que as fases são acessadas ao visitar casas num mundo principal que exploramos com um ônibus.
Basta mirar nas casas com novas mudanças e começar uma fase nova.
Uma coisa que distingue o título de mudar daquele de cozinhar é o uso de uma física solta para os objetos, com personagens que se movimentam como se fossem os filhos de bonecas de pano com bonecões do posto. Neste instante, o jogo nos apresenta seu caos, sua diversão e a origem de todas as frustrações.
A dinâmica é simples, ao menos no papel: seja sozinho, seja entre quatro pessoas, a mudança requer recolher objetos de dentro da casa e colocá-los no baú do caminhão. Soa fácil, né?
Na prática, devemos conseguir levar itens da caixa, como caixas, geladeiras, camas, ao mesmo tempo que dividimos corredores e desviamos de obstáculos, como piscinas e portas automáticas, tudo isso dentro de um tempo limite.
Não só isso, já que tudo deve caber empilhado no caminhão, sem nada caindo pros lados. Para facilitar (!), jogadores pulam e têm a opção de lançar tudo que carregam, inclusive carregar coisas pesadas, como geladeiras e camas, em conjunto. Claro, arremessar esses trambolhos exige sincronia e comunicação.
Mercado de mudanças tá aquecido
Se da primeira vez as fases ficavam mais loucas e arbitrárias, mas ainda dentro de um tema, Moving Out 2 aumenta a aposta.
Desta vez, um acidente com um computador cria um multiverso de mudanças com gnomos envolvidos numa trama de… monopólio de fretes e objetos transdimensionais desaparecendo. Mas hein?
A mera existência desse multiverso faz o jogo sair de casas do subúrbio, por mais loucas que sejam, e abre três portais que levam para novos mundos, um mágico, um segundo onde tudo é feito com doces e outro num futuro com coberturas acima das nuvens.
E aquela física soltona que citei existe agora em situações muito mais extraordinárias e extravagantes: são portas automáticas, robôs transportadores, paredes mágicas falsas, objetos presos nas massas de biscoito.
Uma das fases no mundo mágico (Terras Caixas), por exemplo, é um Ouroboros sobre a arena circular com paredes concêntricas giratórias e um portal mágico que transporta objetos automaticamente magicamente para o caminhão.
Ei! Todo esse progresso é cumulativo, isso significa que avançar depende do desempenho nas fases anteriores. E, para ajudar, cada uma conta com cinco objetivos, sendo eles:
- Superar o nível dentro do tempo limite
- Fazer um tempo de profissional
- E mais três objetivos criativos e diferentes a cada nível, como alimentar o Ouroboros da fase acima
Em algumas fases, esses objetivos diferentes são coisas como “leve as vacas primeiro” (sim, as vacas) ou “não quebre nenhuma janela” (é mais difícil do que parece, especialmente com mais pessoas).
Ainda bem que Moving Out 2 tem remédios contra as frustrações que vêm com o caos da física.
Acessibilidade e opções extras
Não vou dizer que são as melhores opções de acessibilidade, mas para moldar o jogo a uma dificuldade ideal, jogadores têm a chance de mudar algumas regras em Moving Out 2.
E fico muito feliz em dizer isto, pois as usamos em 2020 e agora novamente! Entre elas, julgamos que o modo padrão de itens entulhando o caminhão atrapalhava nossa diversão. Por isso, ligamos “objetos desaparecem na entrega” e toda caixa, TV, cama e geladeira sumia assim que colocada no caminhão. Objetos pesados com peso reduzido? Sim, por favor!
Isto serve como um reforço de que as configurações normais não são necessariamente um erro ou um acerto, mas são, sim, uma dádiva ao nosso alcance. Depois de algumas rodadas, vale muito a pena visitar este menu e negociar com todos os jogadores envolvidos se vocês querem mudar algumas regras.
Mais novidades em Moving Out 2
O que seria uma continuação sem mais conteúdo? Sem mais, mais, mais tudo?
Ao seguir essa lógica, Moving Out 2 se tornou um jogo maior. Pra começar, as novas fases, como citei, “Leva pra dentro”, são absurdamente divertidas e estão entre as melhores do jogo inteiro.
Elas têm a mesma quantidade de objetivos e limites de tempo similares, nada novo aí. Só que existe algo em ter que organizar a casa em vez de desmontá-la que estimula mais o trabalho em equipe.
Não que organizar as coisas todas no caminhão de mudança seja desmontar, descontruir, mas esse ponto está longe do ideal do jogo, que recorrentemente mais parece correr pra dentro da casa numa corrida para tirar as coisas quanto antes de um incêndio.
As fases “Leva pra dentro” são os momentos mais próximos da sensação de trabalho em equipe em busca de objetivo em comum: você negocia fora do jogo as tarefas e a ordem de execução e, por incrível que pareça, isso é divertido sem configurar um trabalho.
Além disso, o multiverso coloca uma roupagem fresquinha e parece que despertou a criatividade dos desenvolvedores: as fases nos mundos novos vão além da capa de doces, mundo da magia e coberturas de luxo na estratosfera do futuro, elas ganham mecânicas únicas e quebra-cabeças.
Em uma das fazes do futuro, por exemplo, jogadores precisam acionar os robôs para levar outros jogadores até cômodos inacessíveis e decifrar a ordem de botões para abrir portas e levar a tralha para fora. Fases assim são doses homeopáticas de um templo de Zelda e, mais uma vez, comunicação é fundamental.
Há, certamente, o modo online cross-platform. Jogando antes do lançamento, não tive muito sucesso com o matchmaking, um cenário que deve mudar a partir do lançamento, em especial, com a presença do jogo no Xbox Game Pass.
Mesmo assim, aposto tranquilamente que será uma excelente alternativa para chamadas por vídeo para amigos e familiares que jogam juntos e moram longe uns dos outros.
O caminhão do senso de humor passando na sua rua
É, humor vem em todos os tamanhos e estilos. Com este indie não seria diferente.
E… se o primeiro tenta ser engraçadinho, próximo aos trocadilhos pontuais de Overcooked, ficamos com a impressão de que alguém se empolgou na hora de escrever e passou do ponto.
OK, OK… talvez os criadores tivessem uma pessoa diferente em mente e não a mim. Existe um exagero textual e explicativo (na trama mesmo) que faz parece que Moving Out 2 se leva um pouco a sério demais enquanto faz o próprio show de stand-up comedy.
É constantemente bobo e sem nexo, atrasando a transição entre fases ao desenvolver demais a história de cada casa com conversas entre os personagens dos jogadores.
A sorte de quem vai jogar em português do Brasil é que a sagacidade dos tradutores lhes permitiu adaptar o texto com trocadilhos vindos do funk carioca e que vão até memes nacionais – do “tapinha não dói” ao “segura o forninho”.
Nessa hora dá pra falar: Party game?
O melhor do humor “nativo” de Moving Out 2 é o quão metarreferencial ele pode ser: em todas as fases, os jogadores verão detalhes que remetem a jogos e filmes, de Untitled Goose Game a Overcooked a Super Mario, ou de Esqueceram de Mim a Curtindo a Vida Adoidado a Harry Potter. Basta perceber e rir de leve, não precisa explicar a piada (que rola no diálogo)!
Visuais e sons
Um trunfo de Moving Out 2 em meio ao caos de cada empreitada é a direção de arte. Quem não está acostumado a jogar não deve sofrer para entender o que acontece na tela.
Atenção! Ela não vai chocar jogadores nem mudar tendências no mundo dos games, mas vale ressaltar que a simplicidade gráfica com texturas chapadonas facilita o reconhecimento visual dos diversos objetos espalhados.
Mais que acessibilidade, a direção de arte é limpa e harmônica, lisa como um desenho animado do Cartoon Network dos 2010. As cores vibrantes do joguinho de mudança me encantam mais que aquelas de Overcooked.
O Nintendo Switch se comportou muito bem e o jogo roda liso, com nitidez e sem quedas notáveis, mesmo quando há caixas sendo lançadas e chutadas para todos os lados.
O outro critério, tratamento de som, é meio a meio: efeitos sonoros são diversificados, ao contrário da seleção musical, que rapidamente fica repetitiva. Pode ser que no meio da fuzarca um couch co-op nem precise de tanto requinte musical, MAS, CÉUS, COMO DÁ NOS NERVOS quando jogando sozinho ou de duas pessoas.
Vale a pena comprar Moving Out 2?
Se você gosta de experiências cooperativas de multiplayer descontraídas que priorizam a diversão e as risadas, este jogo provavelmente vai trazer boas horas de entretenimento.
A criatividade aplicada ao design de níveis supera aquela vista no primeiro jogo e a jogabilidade caótica o tornam uma excelente opção para noites de jogos com amigos ou familiares.
Pode ser que a dificuldade “de fábrica” não seja tão intuitiva como a de Overcooked, mas isso é facilmente solucionado com as assistências que os desenvolvedores sabiamente disponibilizaram.
Embora seu humor seja muito específico, o foco na diversão casual é um prato cheio e, graças ao seu charme e desafio, Moving Out 2 retém a medalha de prata dos couch co-ops (ou, em bom português, dos jogos cooperativos de sofá).
*Review elaborada em um Nintendo Switch, com código fornecido pela Team17.
Pizza Fria
Reviews, notícias e tudo sobre o mundo dos gamesPor Carlos Maestre, Pizza Fria
Atualizado em 11 Ago 2023.