Nocturnal é um jogo de aventura e ação linear, com foco em alguns puzzles e plataformas, desenvolvido pela Sunnyside Games e distribuído pela Dear Villagers. O título nos coloca no controle de um soldado que retorna ao lar apenas para encontrar tudo tomado por uma névoa bizarra, com monstros e outras aberrações correndo soltas pelo local. Silent Hill? Não, senhor, ela fica para aquele lago, depois do lago com os coelhos com dentes ensanguentados.
E aí, será que vale torrar nosso sofrido diñero com essa belezinha? É o que veremos agora, em mais uma análise quente do Pizza Fria!
Pega fogo, ilhota
Mais um dia, mais um jogo, leitores e leitoras amadas desse website com nome de uma comida deliciosa. E um interessante, de fato, tanto por sua proposta quanto pela forma que a implementa. Quando vi Nocturnal, pensei se tratar de mais um metroidvania. Contudo, estranhei não sentir aquela sensação de borboletas na barriga após iniciar a jogatina. Oras bolas.
Começo dizendo que, de fato, o título é muito mais uma experiência de plataforma, com alguns puzzles bem bolados no meio e um combate competente para selar o contrato. Nada de super diferente, mas o suficiente para nos interessar. Achei interessante começar com isso para podermos conversar na mesma linha, sabendo que o que temos aqui não pode, ou deve, ser comparado a outros como Dead Cells, por exemplo.
Mas, não pensem nisso como um negativo. Ainda que eu tenha entrado nesse mundo de fogo e sombras com um pouco de cuidado, devo admitir que fiquei positivamente impressionado com o que encontrei. Contanto que abramos nossa mente para a forma que o jogo explora seu meio, é possível ver muito do que se agradar aqui. Mas chega de papo (desse tipo, ao menos) e vamos ao que interessa.
Nocturnal é bem leve em se tratando de trama, contando a maior parte de sua narrativa através de curtos diálogos narrando lembranças ou comentário de nosso herói do dia, Ardeshir, enquanto passa por certos locais da ilha. Nosso garotão é um soldado da chama eterna, chamado de volta ao lar para combater uma névoa que domina o lugar, com uma escuridão que suga a vida de tudo que toca.
Além disso, nosso cria precisa encontrar sua irmã, perdida no meio dessa bagunça toda. E temos, aí, praticamente tudo que ficamos sabendo até então. O jogo realmente investe pouco em sua trama, o que julgo ser um desperdício. O universo tem potencial, e os cenários que visitamos mostram sinais de uma treta muito mais interessante e pesada do que o jogo se dispõe a nos contar.
Temos uma gama de outros títulos que conseguem casar um gameplay de plataforma chique com uma historinha maneira que, as vezes, até arranca um suspiro de nossos corações calejados. ENDER LILIES: Quietus of the Knights é um belo exemplo disso. Mas, ao fim e ao cabo, Nocturnal consegue nos dar um motivo para o que está rolando e um caminho para seguir, ainda que o investimento emocional resultante não seja lá essas coisas.
Já a jogabilidade é outro papo. Nocturnal é, basicamente, um jogo de plataforma no qual resolvemos puzzles, pulamos de um lado para o outro e enfrentamos uma série de inimigos usando um sistema de combate simples, porém efetivo. Podemos bater de perto, utilizar uma adaga para acertar de longe e esquivar. Também reunimos pontos que podem ser utilizados, em locais específicos, para melhorar nosso boneco. Padrão, não é?
Seria, não fosse a introdução do fogo. Nosso herói tem a habilidade mágica de tacar fogo na própria espada, utilizando-o para dar mais dano nos inimigos, acender tochas e destruir determinados elementos do cenário. As labaredas também permitem o uso de outras táticas como se curar, por exemplo. A ação consome toda chama restante, e demora, criando uma necessidade tática e um pouco de jeito para usar sem acabar levando mais bordoadas na orelha. Ainda, com a espada em chamas damos um dash para desviar, acabando a necessidade de rolar no chão como um plebeu apagado.
Apagar e acender tochas, também, é parte essencial da solução de puzzles no mapa. A escuridão que envolve a ilha tem o poder de nos matar rapidamente, e a chama na espada não é infinita. Portanto, seguir acendendo toda fonte de fogo pelo caminho, enquanto ficamos ligados para não ficarmos sem e batemos em inimigos, constitui boa parte da experiência.
Isso torna Nocturnal singular, e admito que não me recordo de ver mecânicas similares em tempos recentes. O senso de urgência criado pelo perigo constante da escuridão e do fogo que se apaga rápido, mais a natureza frenética dos embates, fazem com que o jogo seja bem eletrizante e divertido. Realmente me agradou, e acho que é um sopro quente de vida muito bem vindo.
Feito o afago, Nocturnal meu caro, é hora da crítica. O combate é divertido, sim, mas poderia ser um pouquinho mais variado. Quando quebramos os componentes, percebemos que temos mecânicas bem simples e com pouca profundidade. Basicamente, ficamos rolando de um lado para o outro e apertando pular ou bater. Nem as melhorias de personagem ensinam coisas novas, salvo uma ou duas habilidades. A maioria delas se limita a aumentar a vida, o tempo que o fogo da espada queima ou o dano que ele dá.
Além disso, alguns puzzles que necessitam de maior precisão podem ser levemente injustos. O movimento, feito pelo analógico, não é tão preciso. Ao menos, não tanto quanto deveria ser quando preciso acender tochas rápido enquanto demônios soltam bombas em mim, a tela desce sobre minha cabeça para me engolir e a escuridão me envolve mais e mais.
Por fim, o jogo é terrivelmente curto. O que me decepcionou, visto que eu curti o que vi em Nocturnal. Um modo speedrun, com diversas opções, justifica esse tempo e pode ser um atrativo para os que curtirem a modalidade. Mas, sendo sincero, prefiro uma experiência mais longa sempre que possível. Resident Evil 4 Remake, por exemplo, entrega uma quantidade boa de conteúdo que pode ser feito muito rápido se formos em linha reta de A até B.
Sons e Visuais
Não como frisar o suficiente quanto o departamento visual de Nocturnal acertou em cheio no alvo. Desde o cenário, até as cores e personagens, tudo conta uma história viva que mostra a situação desolada da ilha, seus sobreviventes e seus mortos, muito melhor que qualquer texto ou diário que achamos possa fazer. Alguns deles são tão bonitos que tive que parar para apreciar, pensando que até poderia se passar por uma pintura. Realmente, um trabalho muito bem feito.
A trilha sonora de Nocturnal também é estelar, com músicas que passam uma série de sentimentos e sabem como nos deixar com as emoções em alta ou baixa conforme o necessário, e com o que o momento pede. O que me faz pensar como uma história mais encorpada poderia ter brilhado usando a competência dessas duas facetas do jogo. Oh, que pena.
Vale a pena comprar Nocturnal?
É chegada a hora na qual o jogo chora e a desenvolvedora não vê, caros leitores e leitoras. Será que Nocturnal vale o investimento de nossos fundos cada vez mais escassos e difíceis de obter? Bem, vamos dar uma revisada no que vimos até agora. O jogo é uma ação com plataforma competente, com mecânicas envolvendo o fogo bem divertidas, puzzles criativos e um combate que, embora simples, diverte. Além disso, o departamento audiovisual é estelar, garantindo que esses sejam cenários e sons que vamos lembrar para frente.
Contudo, Nocturnal tem uma história muito esquecível e esparsa, além de ter uma duração desesperadamente curta. Speedrunners podem curtir isso, principalmente pelo modo relacionado, mas a mim pouco agradou. Além disso, os controles tendem a se comportar mal sempre que a precisão é necessária, o que torna certas partes do jogo mais chatas do que deveriam.
Agora, se Nocturnal vale a pena? Bom, eu acredito que devo dizer que sim leitores e leitoras do meu coração. Eu praguejei algumas vezes em um ou outro pedaço maldito que tive que passar, e fiquei decepcionado e surpreso quando o jogo terminou da forma que foi. Mas cada momento além disso foi de alegria, e todos foram bonitos de ver. Até considero jogar mais do speedrun para ver o quanto consigo melhorar do meu tempo. Se jogos nessa pegada forem sua praia, pode ir sem medo. Recomendo.
Nocturnal chega nesta quarta-feira, 7, para PC, via Steam e Epic Games Store, PlayStation 5, Xbox Series X|S e Nintendo Switch.
*Review elaborada em um Nintendo Switch, com código fornecido pela Dear Villagers.
Pizza Fria
Reviews, notícias e tudo sobre o mundo dos gamesPor Matheus Jenevain, Pizza Fria
Atualizado em 14 Jun 2023.