Em menos de um mês, o Nintendo Switch recebeu três jogos Pikmin. Pikmin 1, Pikmin 2 e Pikmin 4. Pikmin 1+2, que são remasterizações de Pikmin 1 e Pikmin 2, foram lançados de surpresa durante a transmissão Nintendo Direct de 21 de junho. Isso aconteceu a exatamente um mês do já anunciado Pikmin 4, cuja demonstração está disponível agora, agorinha na eShop. Se já é um ótimo momento para ser fã de Pikmin, imagine para aqueles que desejam descobrir a franquia e se tornar fãs?
Quando analisei Pikmin 3: Deluxe aqui no Pizza Fria, fins do fatídico de 2020 e numa época bem agitada na minha vida, mencionei que, ao ser relançado no Switch, o terceiro título poderia renovar o interesse em Pikmin para que a série finalmente alcançasse o sucesso merecido. Escrevi ainda que tinha a esperança de possivelmente ver novidades sobre Pikmin 4 e uma coleção com Pikmin 1 e Pikmin 2 para Nintendo Switch. Corta para julho de 2023: sinto como se devesse ter apostado numa loteria a longo prazo. Meu desejo virou realidade. Sou um fã declarado dessa nanoaventura espacial desde o GameCube, mas… Então, agora que temos os dois primeiros jogos, vale a pena jogar Pikmin 1 e Pikmin 2?
O que é a coletânea Pikmin 1+2? Ou melhor, que raios é Pikmin?
Pikmin foi para o Gamecube o que Splatoon foi para o Wii U em tempos mais recentes: o raro nascimento de uma nova franquia da Nintendo. A afirmação acima é muito significativa, mesmo considerando as baixas vendas dos consoles nos quais nasceram, já que tanto Pikmin quanto Splatoon foram abraçados pelo público que sempre espera uma nova IP da Nintendo com muita atenção. Splatoon já se tornou uma febre, e acredito que agora seja a hora de Pikmin também brilhar.
Aliás, talvez você já tenha visto isso na internet, mas sabe como Pikmin nasceu?
Na Space World 2000 – uma feira da Nintendo, praticamente uma E3 de todas-as-coisas- Nintendo -, um projeto chamado Super Mario 128 mostrava exatamente 128 Marios brincando, pulando e rolando na tela ao mesmo tempo. Isso despertou um enorme interesse e especulações, pois era esperado que fosse a continuação de Super Mario 64. O objetivo era demonstrar a potência do GameCube ao ter mais de cento-e-lá-vai-bolinha bonecos em ações diferentes simultaneamente!
Todo fã da Nintendo sabe que Super Mario 128 nunca saiu do conceito. No entanto, embora ele permaneça apenas no nosso imaginário coletivo, Miyamoto declarou em entrevistas que o protótipo serviu como inspiração para aquilo que viria a ser Pikmin. O conceito evoluiu e os jogos são… bem, alguns o consideram como um jogo de estratégia em tempo real, enquanto outros o veem como uma aventura com quebra-cabeças.
A verdade é que Pikmin é um gênero “tudo junto e misturado”: a estratégia em tempo real é fundamental, mas vivemos as aventuras cósmicas dos pequenos alienígenas perdidos num planeta estranho. Para sobreviver nesse ambiente hostil e voltar para casa, o jogador precisa resolver quebra-cabeças usando as diversas habilidades específicas de cada tipo de pikminho (minha mulher e eu chamamos as criaturinhas, evitando citar o jogo propriamente dito).
Entre as peculiaridades, somente exploramos o tal planeta, PNF-404, durante as horas de luz do dia para evitar predadores noturnos sempre com um exército de até 100 pikminhos. Ah! E você não começa com todos os tipos de pikminhos à sua disposição: encontramos cada um aos poucos, o que nos faz ir e vir várias vezes num mesmo cenário, no melhor estilo dos metroidvanias [sic].
No final das contas, Pikmin tem aquele encanto mágico que parte de uma forma muito, muito simples e evolui para desafios mais complexos aos poucos, ainda assim agradáveis a todos, trazendo à tona aquela vibração ao superar as dificuldades por um triz. Ufa!
Confissões de um fã de Pikmin
Todo jogo Pikmin é como se a Nintendo tivesse diluído a diversão em pequenas doses digitais de homeopatia. Como alguém que acompanha a série desde o GameCube, termos todos os jogos no Switch e darmos uma nova chance à série me traz uma alegria indescritível.
Antes de prosseguir, preciso confessar algumas coisas para que você, leitor, possa tirar suas próprias conclusões. Eu (re)joguei Pikmin 1 e Pikmin 2 de forma não oficial uns dois meses antes, me preparando para o lançamento de Pikmin 4 porque queria fazer um vídeo sobre a trilogia.
No início, foi um pouco estranho jogá-los novamente com um controle de Xbox Series X|S, já que um controle de GameCube era bem característico. Pois saiba que acabei me acostumando e aproveitei a jornada com um misto de conhecimento prévio e alguns momentos de nostalgia.
E então, durante o final da minha jornada no terceiro jogo principal, recebi os códigos para as remasterizações exclusivas do Nintendo Switch, e aqui estou eu, com os jogos fresquinhos, dominando-os de ponta a ponta. Consegui finalizar ambos rapidamente no Switch ao longo de uma semana. Se quiser ver qualquer trecho, registrei a jornada inteira nesta playlist no YouTube com direito a alguns rage quits.
No entanto, pode ser que eu tenha deixado escapar algo, talvez esteja tão focado em certos aspectos que acabei ignorando uma explicação mais simples e fundamental para o universo Pikmin. Caso eu falhe em fornecer contexto durante a análise, por favor, deixe um comentário ou me marque no Twitter com perguntas, ameaças e opiniões.
Dito isso, vou tentar detalhar os jogos separadamente, abordando o que eles representaram na época, a visão da Nintendo para Pikmin e as diferenças nas versões remasterizadas. Não há como escapar, há duas possibilidades: ou você já jogou Pikmin antes, ou nunca jogou. Se você está no segundo grupo, leia até o final apenas para descobrir o que te aguarda. Mas sim, Pikmin merece sua total e irrestrita atenção. Aviso dado? Sim, então vamos em frente.
Pikmin 1
Pikmin 1 e Pikmin 2 são jogos muito parecidos e, ao mesmo tempo, muito diferentes. Vem junto para entender meu ponto, mas finja que tô te contando tudo isso numa mesa de amigos.
Esse jogo de quasi-lançamento do GameCube reflete as preocupações crescentes de uma época que seguem pertinentes hoje em dia. Sustentabilidade e preservação ambiental eram pautas já crescentes em nível global, por isso, Pikmin 1 começa fazendo uma alusão jocosa ao que parece a extinção da humanidade enquanto alienígenas nanicos que exploram os confins do espaço sideral redescobrem a Terra (será?!).
O primeiro destes alienígenas é o Capitão Olimar. Ele não é um explorador ou colonizador, mas um motorista de fretes cósmicos exausto com a vida na “estrada” (estrada intergalática, só se for).
[Olimar, aliás, é propositalmente parecido com as sílabas de Mario invertidas, coincidindo até em cores com o principal mascote nintendense. Guarde essa informação.]
A desventura de Olimar, um ser de uns dois dedos de altura do planeta Hocotate, começa quando um asteroide bate em sua nave, a S.S. Dolphin (numa referência ao nome do projeto do GameCube), que se parte em 30 peças. Por sua vez, todas as peças são espalhadas pela superfície do planeta mais próximo, ao que Olimar apelida de PNF-404 numa outra referência temporal com os primórdios da internet: o erro 404 dos navegadores, page not found (página não encontrada), virou planet not found. Olimar comenta que o tal “planeta não encontrado” não consta em seus mapas interestelares e, de cima, bem que lembra a Terra.
Ao aterrissar com certa dificuldade para avaliar os danos na Dolphin, Olimar olha para a nave que mais parece ter passado em um desmanche e percebe que seus mantimentos durarão no máximo 30 dias naquelas condições. Mais do que isso, ele pousou num vale gramado onde as flores silvestres têm pelo menos o dobro de sua altura, as paredes são altas demais para escalar e a única saída está obstruída por uma pesada caixa de papelão. Bom, se você tem dois dedos de altura certamente uma caixa de sapatos seria pesada.
Por sorte do destino, ele encontra imediatamente uma estrutura no fundo deste vale que se acende em vermelho e solta um brotinho com uma folhinha. Curioso, ele corre para colher essa planta inusitada e dali sai uma criaturinha, apelidada de Pikmin (ou como chamo, pikminhos), nome escolhido por Olimar porque o formato delas lembram as cenouras Pikpik, sua comida favorita lá em Hocotate. A estrutura vermelha também é batizada de Onion (cebola), graças ao seu formato peculiar, e serve como abrigo de pikminhos daquela cor.
A criaturinha – ele logo percebe – está disposta a ajudá-lo voluntariamente e segue suas ordens sem contestar. Esse primeiro pikminho vermelho é lançado contra os grandes botões de algumas plantas que liberam fichas vermelhas. O pikminho leva essas fichas até o solo ao redor da cebola, que, por sua vez, cospe mais e mais brotinhos de pikminhos. Em um piscar de olhos, Olimar tem um pequeno exército de ajudantes que levantam coisas, empurram obstáculos, como aquela caixa de papelão, para abrir passagem. Quem diria que, do outro lado, ele encontraria a primeira peça, coisa que os pikminhos também ajudam a carregar pelo cenário e de volta para a nave.
Mas há um porém: assim que a primeira parte volta para a S.S. Dolphin, Olimar se dá conta que somente é seguro explorar PNF-404 durante o dia e, por isso, aproveita a força que resta na nave para ficar em órbita baixa pelas noites. Para sua surpresa, a cebola de pikminhos vermelhos o segue nessas noites e ele logo percebe que os dias de exploração em PNF-404 duram entre 15 e 20 minutos…
Agora que a S.S. Dolphin recuperou um pouco de suas forças, podemos ir mais longe e a uma nova região de PNF-404. Este é o objetivo que acompanha o jogador de início ao fim: encontrar peças e, à medida que devolvemos funcionalidades para a S.S. Dolphin, a nave alcança lugares cada vez mais distantes do planeta.
A duração de um dia pode parecer pouco tempo para se fazer alguma coisa relevante, mas Pikmin 1 é bastante generoso em sua dificuldade. Trinta dias são mais que suficientes para jogadores de primeira missão espacial conseguirem entender a dinâmica do jogo e buscar todas as 30 peças. Vale ressaltar que algumas delas são opcionais, apesar de o jogo não as listar de forma clara.
Quanto aos pikminhos, a singela folha sobre suas cabeças pode virar um botão de flor ou uma flor, dependendo do tempo que passam plantados ou ao beberem o néctar deixado por plantas e animais. As três classes representam as etapas de maturidade da flor (não lembro se existe um nome oficial para isso) e, quanto mais maduro, mais forte e ágil é um indivíduo pikminho.
Ao pousar na segunda região do planeta, que deixa pistas de que estaríamos na Terra a conta-gotas, Olimar é seguido pelos pikminhos vermelhos e vasculha um microclima diferente.
(Repentinamente, Pikmin 1 passa a sensação de ser uma experiência fofa com a angústia de Planeta dos Macacos, o original, de 1968)
Durante a exploração diária em todos os microclimas, cabe aos jogadores coordenarem os pikminhos em tarefas como construir pontes, atacar predadores de diversos tamanhos e abrir caminhos em busca, como você já sabe, das peças faltantes. Com o passar do tempo, Olimar encontrará dois outros tipos de pikminhos, os amarelos e os azuis. Ao todo, o exército no campo tem um limite de 100 pikminhos e qualquer platinha excedente fica guardada na cebola.
Ainda hoje é fascinante, para mim, como tal simplicidade criou um jogo tão dinâmico: pikminhos de cores diferentes têm habilidades diferentes! Ora, ora, quem diria? Outra coisa fascinante é que a fauna e a flora se regeneram aos poucos. Viaje para outra região por uns dois dias e regresse para ver os girinos de anteontem virarem sapos e plantas abertas novamente.
Pikminhos vermelhos são resistentes ao fogo e mais fortes; os azuis sabem nadar; os amarelos são os únicos que carregam bombas e, pelo visto, são mais leves, já que Olimar consegue alçá-los a lugares mais altos.
O mundo a ser descoberto possui ameaças para as criaturinhas como, por exemplo, a fauna (não gosto de dizer inimigos, pois não há antagonismo, apenas a cadeia alimentar). Para se defender, ou melhor, para defender seu exercitinho, ou você foge ou você ataca o predador.
O segredo para não perder dezenas de pikminhos em uma bocada reside em entender as melhores estratégias e abusar das fraquezas: Bulborbs, umas joaninhas gigantescas – tá, pra você, meio que tudo é gigante-, devem ser atacados de surpresa e pelas costas enquanto o ponto fraco de Burrowing Snagrets, um híbrido de pássaro e serpente, é a cabeça, não o corpo escamado. A fauna representa pequenos desafios de combate divertidos numa série de obstáculos pelo caminho para devolver as peças até a Dolphin. Deixe os pikminhos sozinhos carregando o corpo de um animal derrotado ou uma peça e, se esbarrarem com um predador pelo percurso, pá! Já era!
É gostoso limpar passagem a passagem e buscar peça a peça. A sensação de progresso e a satisfação são recorrentes, já que cada um desses dias de 20 minutos presenteia o jogador com algo novo. Os sons dos pikminhos voando para atacar são engraçados e os rugidos dos monstros são alertas que não devem ser ignorados.
Aliás, as partes da nave e os animais abatidos têm pesos diferentes, o que exige uma quantidade diferente de pikminhos para carregá-los. Por isso, equilibrar e sincronizar os ciclos de cultivo e de exploração é essencial. Às vezes, só uma criaturinha é mais do que necessário para transportar algo, outras tantas, precisamos de 40. Enquanto essas 40 voltam para a nave, o jogador deve saber tirar o melhor proveito das outras 60 disponíveis no campo.
Vale lembrar que perigos naturais tampouco devem ser ignorados: geisers com labaredas, lagos, explosões. Sobreviver em PNF-404 até restaurar a nave para voltar para casa depende de escolher o tipo de pikminho certo para a tarefa.
Por fim, ao fechar um dia e voltar para a órbita enquanto esperamos o próximo nascer do Sol, Olimar registra suas descobertas e observações numa espécie de diário de bordo, uma leitura que não ultrapassa a tela, quase sempre com um resumo das ações que o jogador fez. Mesmo hoje, tendo lido esses trechos repetidas vezes, sigo achando graça na riqueza de nuances que moldam a personalidade de nosso pequeno capitão, às vezes bonachão e pai preocupado, às vezes irritadiço, como nas reclamações feitas ao computador de bordo, que parece ter personalidade própria.
Tanto a história quanto o desenvolvimento destes personagens, incluindo o jeito “you only live once” dos pikminhos, são migalhas deliciosamente espalhadas pelo jogo que absorvem qualquer jogador, novato ou experiente.
Charme e espírito de aventura definem Pikmin 1: o minimalismo narrativo e o tom bobo, porém sagaz, passam uma mensagem clara de uma vida dura e parece inspirado em vários exemplos literários de contos com náufragos. Neste caso, um náufrago espacial, não literal, mas ainda assim Olimar está à deriva numa terra desconhecida pelo espaço.
Comentei na análise de Pikmin 3 Deluxe e reforço: a série tem lições criativas tiradas de As Viagens de Gulliver (sem profanidades), Robinson Crusoe e tantos outros. Quem sabe se foi intencional ou não? Contudo, o tamanho diminuto de Olimar tal qual um liliputiano ou o jeito que nomeia as coisas pelo planeta tal qual Robinson perdido na ilha… são indícios cujos paralelos são fortes demais para ignorar. (E muito apreciados para quem gosta de literatura fantástica).
Parte da beleza original, preservada neste remaster e nas sequências, é o contraste entre as texturas fotorrealistas dos biomas e a arte minimalista de Olimar, dos pikminhos, da fauna local e da Dolphin, que mais lembram marionetes de um programa infantil.
Conversando com meu irmão, com todos meus amigos que já jogaram este primeiro capítulo de Pikmin, se me lembro bem, todos estamos de acordo que a única infelicidade de Pikmin 1 é que o jogo termina. Sua duração é… bom, como sabia o que estava fazendo, fechei no Switch pouco abaixo das seis horas, em 22 dias dentro do game. Um reforço: existe um fator replay bem alto, já que dá vontade de otimizar rotas, evitar perdas de pikminhos e bater o recorde pessoal de dias para escapar do planeta.
Além disso, libera-se um modo de desafio cujo objetivo é colher o máximo de pikminhos em um único dia por região – acho engraçado, pois minha maior motivação é não perder criaturinhas, não plantar mais. Enfim!
Pikmin 1 ainda conta com três finais distintos: um para quando se passam os 30 dias sem obter as peças essenciais para voltar para Hocotate; outro para escapar com algumas peças, mas não todas; e, finalmente, o melhor final, o “final feliz”, que surge ao instalar a trigésima parte da S.S. Dolphin.
Pikmin 2
Já disse, vou repetir: Pikmin 1 e Pikmin 2 são jogos muito parecidos e, ao mesmo tempo, muito diferentes. Vamos fazer esta parte mais enxuta, apontando aquilo que faz de Pikmin 2 uma experiência com autonomia própria.
Logo de cara, a abertura deixa claro que esta aventura será uma missão bem diferente da primeira. A sobrevivência agora é financeira, uma vez que a Fretes Hocotate ficou endividada após perder uma carga gigantesca de cenouras Pikpik douradas. O chefe de Olimar e dono da Fretes Hocotate, conhecido como O Presidente, informa que, para amortecer a dívida, foi preciso vender toda a frota, inclusive a nossa estimada S.S. Dolphin. Tudo que restou foi uma nave velha com capacidade para dois tripulantes, a Hocotate Ship, e outro empregado, Louie, que parece um tanto desajeitado.
[Lembra de Olimar ter esse nome por ser próximo a um anagrama de Mario? Pois espero que Louie soe como Luigi, já que ambos são, respectivamente, Luís em inglês e italiano. Pikmin 2 é abarrotado de referências pela história da Nintendo]
Embora tenha vendido quase tudo, ainda resta muita dívida. Então, completamente sem querer, Olimar deixa cair uma tampinha metálica de refrigerante, um presente trazido de PNF-404 para seu filho, algo que faz Louie arregalar os olhos e os sensores da Hocotate Ship dispararem. Neste instante percebemos que a nave também fala muito graças a sua inteligência artificial com uma personalidade… peculiar.
Por que os sensores dispararam? Porque a nave detectou valor econômico nessa tampinha: 100 pokos (pokos é o nome da moeda usada em Hocotate). O potencial não passa despercebido do Presidente, que inaugura uma nova missão: voltar a PNF-404 em busca de tesouros, que, na maioria das vezes, seriam coisas que consideramos lixo, para limpar o nome. Assim, Olimar e Louie partem numa viagem para encontrar 10 mil pokos em tesouros largados. Vamos lá!
Chegando de volta ao planeta, Pikmin 2 explicita que se trata da nossa conhecida Terra (não é um spoiler, afinal, está na abertura). Não tem nenhum asteroide e ninguém está à deriva: o pouso truculento até separa nossos protagonistas por um tempinho, mas tudo corre bem no primeiro dia.
O primeiro ponto alto para os jogadores que chegam de Pikmin 1 é que o limite de 30 dias é coisa do passado. Olimar e Louie recuperam tesouros no ritmo deles, sem aquelas limitações impostas para fechar o jogo dentro de um prazo.
Em seguida, tenho que destacar o fato de termos dois tripulantes, permitindo-nos dividir o exército de pikminhos como quisermos e trabalhar alternadamente em cantos diferentes de uma região. Infelizmente, Pikmin 2 não tem um modo cooperativo assim como Pikmin 3 Deluxe. Seria demais se essa coleção tivesse sido retrabalhada para aceitar essa possibilidade, ainda que por rede ou online.
Finalmente, os três tipos básicos – vermelho, azul e amarelo – estão de volta e a dupla descobre dois novos pikminhos com características muito diferentes. São eles: roxo e branco.
Pikminhos roxos têm um porte físico meio… parrudinhos. O biotipo deles faz com que sejam mais lentos, porém mais fortes, ou seja, um roxo vale por 10 de outro tipo. Por serem mais pesados, nem Olimar nem Louie conseguem jogá-los muito longe ou muito alto, mas quando os lançam, a pancada de um pikminho roxo quase sempre tonteia um predador.
Por outro lado, os brancos são quase o contrário: são pequeninos e rápidos para transportar coisas leves. São certamente mais velozes e têm outras duas características muito importantes. A priemira é que pikminhos brancos são venenosos e, por isso, imunes às nuvens tóxicas. Ao serem devorados, o veneno machuca os predadores. Claro, se quiser abusar desta tática, será necessário sacrificar com frequência, mas é muito legal e oportuno, como jogador, se adaptar e improvisar com estes recursos sempre que possível. A outra habilidade específica é cavar em busca de tesouros.
Ah! Já ia me esquecendo de comentar: recebemos um detector de tesouros, como aqueles detectores de metais, com um ponteiro que se move e com um som mais frequente à medida que nos aproximamos de um objeto de valor. Como eles estão em lugares muitas vezes inalcançáveis, enterrados ou foram engolidos por bichos, cabe mais uma vez ao jogador entender a melhor dinâmica para recuperá-los. Aí entra outra vez o ponto de Pikmin 1 sobre a constante sensação de descoberta e de recompensas – você não passa um dia sem fazer progresso.
Com mais tipos de pikminhos, os desafios e obstáculos nesta continuação são mais inteligentes e diversificados.
A continuação ainda tem alguns truques na manga: a jornada é muito mais duradoura e por vários bons motivos. Desta forma, mesmo jogadores experientes devem abordar com cautela.
Uma das causas é a adição de cavernas – lugares onde o jogador salta com o exército inteiro e os dois comandantes e desce, piso a piso do subsolo, até encontrar a saída. Pelo trajeto, tesouros e predadores não faltam. Para piorar, os espaços abertos da superfície são substituídos por estreitos corredores, inibindo muitas táticas de combate e a evasão de conflitos.
Nestas cavernas, a progressão do dia pára e o jogo salva automaticamente a cada andar superado. Ufa! Ainda bem, pois poderia ficar muito brutal muito rapidamente. Algumas possuem tantos andares que duram mais de hora e, ainda por cima, elas contam com uma armadilha: saia delas na metade e, ao voltar, descubra que os andares são gerados aleatoriamente a cada visita.
Ao todo, são 14 cavernas, uma delas condensando com todos os “chefes” encontrados pela aventura.
A maior dificuldade vai além. Pikmin 2 certamente é bem mais difícil. Ponto. Um dos motivos é que naturalmente dividir o exército por cinco tipos de pikminhos ao mesmo tempo em vez de três complica a progressão. Veja bem, pikminhos são meio tontos e, por exemplo, se não são azuis, se lançam na água do mesmo jeito, se não são vermelhos, se jogam no fogo. Pikminhos têm zero instinto de sobrevivência.
Sabe aquela frase dita por pais, “Se fulano pular no buraco, você pula atrás?” Se você fosse um pikminho, sim, você pularia atrás. Você iria pro buraco sem saber o que estava fazendo. Você ia mirar e dizer, “Opa!”
E, por isso, em vários momentos, a jornada de Olimar e Louie se torna muito mais frustrante que a aventura solitária de Olimar justamente por ser mais árdua. O nome do jogo é adaptação, pois tudo que um jogador mordido pela franquia Pikmin quer se resume a ter mais desafios e Pikmin 2 os traz em abundância.
Aliás, algumas medidas paliativas ampliam a proposta estratégica e evitam a frustração acima: neste jogo, foram introduzidos dois tipos de frutos, um ultrapicante (vermelho) e outro ultra-amargo (roxo), que produzem sprays com efeitos limitados por alguns segundos.
O spray ultrapicante é usado nos pikminhos, deixando-os brilhantes e turbinando força e velocidade. Eles lutam com mais ferocidade e constroem mais rápido assim como destroem coisas mais rapidamente. O spray roxo é uma baforada cuspida pelo capitão ativo e petrifica os monstros, abrindo oportunidades para atacar ou para passar com o exército ileso.
Garimpar essas frutinhas toma tempo em um dia normal de exploração, por isso, jogadores devem usar o recurso com certa sabedoria e paciência. O fantástico de jogar Pikmin 2 seguido de Pikmin 1 duas vezes em sequência foi notar o gigantesco salto evolutivo da série, deixando o segundo jogo muito mais próximo do terceiro, em termos de profundidade, que do ensaio inicial.
Um trunfo que vale a pena citar é a extensão da aventura, que revisita algumas das mesmas localidades do primeiro jogo, com modificações, e mostra a imensidão do planeta. Especialmente quando se é um ser nanico. Pikmin 2 ainda conta com dois finais consecutivos, ou seja, não é um ou outro, mas, depois de muitas horas, você conclui um objetivo para ver os créditos e depois volta para um epílogo de boa duração. Jogadores de primeira viagem que buscarem 100% facilmente passarão das 20 horas de jogatina.
Em vez termos um diário de bordo, temos emails diários dos familiares da tripulação e do Presidente, o que cria paralelos entre o que vivemos no planeta e o que as pessoas imaginam que estamos vivendo. O texto de esposa, filhos, avó e Presidente são engraçados, diretos ao ponto e mostram um certo desconhecimento do trabalho que temos que fazer. Talvez alguém tenha contado uma mentira por aí?
Assim como no primeiro jogo, Pikmin 2 tem ainda um modo desafio. Contudo, a regra é diferente desta vez: jogamos variações especiais das cavernas nas quais o objetivo é encontrar um dos tesouros, uma reprodução tridimensional da chave de Super Mario World, para liberar o próximo andar antes do tempo acabar. Neste modo é possível jogar em cooperação – um jogador controlando Olimar; outro, Louie – com a tela dividida.
Não fosse o bastante, temos outro modo para dois jogadores, mas desta vez é uma batalha para ver quem recolhe mais bolinhas de gude (são tesouros) nas cavernas, sendo possível ter um confronto entre exércitos de pikminhos.
Pizza Fria
Reviews, notícias e tudo sobre o mundo dos gamesPor Carlos Maestre, Pizza Fria
Atualizado em 5 Jul 2023.