Estes dias andei pensando, leitor, como podemos ver tendências claras no maravilhoso mundo dos videojogos. Façamos uma comparação desses últimos vinte anos, por exemplo. Poderíamos ir até mais longe, porém isso me lembraria cada vez mais de minha idade, e mortalidade, e não é momento para isso. Em frente!
Tenho a vívida impressão de que parte do início dos anos 2000 viu um nascimento absurdo de jogos no estilo de tiro em terceira pessoa, principalmente aqueles com a câmera por cima do ombro. Veja bem, era uma época em que Resident Evil 4 acabara de ser lançado revolucionando o cenário dos jogos de ação, além da própria franquia. Aliás, o recente lançamento de Resident Evil Village me fez lembrar daquela doce época. Todos reunidos na locadora jogando, sem entender o que os inimigos falavam por estar em espanhol. Aqueles gráficos que pareciam ser os melhores do mundo. Ah, os bons tempos.
Iterando no gênero veio Gears of War, lançando a ideia de que seria legal passar o jogo todo colado em paredes e atirando o tempo todo. À época, o gênero de cover shooters explodiu consideravelmente, sendo representado em diversas franquias diferentes. Inclusive, a própria série Resident Evil viria a implementar a mecânica em alguns de seus jogos, mais notadamente em Resident Evil 6. Contudo, falar sobre ele me traz lembranças ruins e costumo evitar. A dor da decepção ainda me corrói lentamente por dentro.
A última tendência que vi claramente, e estava conversando sobre com alguns amigos recentemente (cara popular que sou, veja bem), foi a dos battle royale. Ainda que seja um conceito antigo, e já houvesse sido explorado em alguns mods e jogos mais simples antes, foi com o lançamento de PUBG que o modelo realmente atingiu as massas. Mais ainda, depois, com a versão criada pela Epic Games com Fortnite.
Agora, tudo tem sua versão battle royale. Call of Duty é um dos casos de sucesso recentes, com seu modo Warzone. Até o mercado aqui perto de casa implementou sua versão do lendário modo. Agora, ao invés de fila, os compradores em potencial precisam lutar com carrinhos e sacolas até que sobre apenas um, que terá o direito supremo de passar suas compras primeiro. Vida de cão, tempos modernos.
Porém, e mais surpreendente, agora parece que o gênero de roguelike começou a ter seu lugar ao sol. O lançamento de alto perfil de Returnal, nova aposta da Sony para a nova geração, deixa bem claro que o estilo está deixando de ser algo visto majoritariamente em jogos indies ou de empresas menores.
Muito devido, acredito eu, ao sucesso do totalmente excelente Hades. Um dos maiores queridinhos de 2020 e vencedor de uma penca de prêmios. Recentemente tive a oportunidade de jogar vários títulos no mesmo gênero, como Dandy Ace, que mostram todo potencial de diversão e interpretação que ele tem.
Mas, afinal, o que define um roguelike ou roguelite?
Mas, afinal, o que define o gênero roguelike? Em verdade, temos dois tipos: rogueLIKE e rogueLITE. Basicamente, ambos são estilos de jogo nos quais os mapas são randomizados. A maior diferença é que no LIKE não há forma de manter nada que se tinha ao morrer. Suas habilidades e armas serão as mesmas, independente se está na tentativa um ou mil.
Já no LITE o jogador tem habilidades e poderes diferentes a cada ciclo (ou run). A ideia básica é a seguinte: a cada rodada você passa por mapas, ou telas, randomizadas. Os itens que coleta, poderes ou armas por exemplo, também são aleatórios. Ao morrer, geralmente, você perde tudo. Mas mantém alguns recursos que são usados para aprimorar as habilidades básicas do personagem.
Em Hades, por exemplo, Zagreus conta com algumas habilidades e atributos básicos que se mantém em qualquer tentativa de fuga. Contudo, os poderes aos quais tem acesso são gerados dinamicamente em cada uma delas. Sendo assim, em tese, o gameplay é sempre diferente e com combinações diversas. A diversão maior, então, é tentar chegar até o final sem morrer ou morrer muito e ir notando seu progresso.
Eu, particularmente, curto bastante roguelikes e lites. Motivo esse, inclusive, que faz com que eu sempre os avalie bem. Tem algo nesse ciclo insano de tentar, falhar e recomeçar que me fascina. Talvez seja por reforçar, na minha cabeça, a noção de que se atirar diversas vezes com vigor renovado em um problema vai levar, eventualmente, a sua solução.
Assim como no exemplo acima, tentativas subsequentes de terminar um roguelite vão fazer seu personagem ficar tão forte que ao final todos os inimigos serão uma piada. Em partes, sim, graças a sua habilidade incrível de falhar e aprender com seus erros. Parabéns! Mas, também, porque ganhar recursos e aplicar em melhorias faz uma diferença enorme. No caso dos roguelikes, a familiaridade com o jogo e suas mecânicas vai falar mais alto.
Os dois modelos são muito parecidos, mas com focos diferentes. De qualquer modo, são divertidos, rápidos e um ótimo passatempo. Alguns tendem a ser mais punitivos que os outros, como é com Returnal. Mas, dependendo de seus gostos pessoais, isso acaba sendo mais um ponto positivo da experiência.
Por fim, não me sentiria mal em ver mais jogos desse estilo surgindo. Roguelite ou roguelike, as experiências sempre são divertidas e a satisfação de ver que chega cada vez mais longe ao errar e aprender é sensacional. Acredito que pessoas que prefiram experiências mais lineares ou com menos variáveis torçam o nariz para esses tipos de jogos, mas sempre é valido experimentar.
Por isso, sempre que possível, recomendo fortemente a todos vocês leitores queridos que joguem algum dos títulos que vim citando. Além de serem ótimos, pode ser que venham a despertar em vocês o mesmo apreço que eu tenho. Afinal, quem não gosta de uma sofrência? E nada melhor para despertar esse sentimento em seu coraçãozinho do que morrer mil vezes em um mesmo chefe. Que coisa!
Pizza Fria
Reviews, notícias e tudo sobre o mundo dos gamesPor Matheus Jenevain, Pizza Fria
Atualizado em 17 Mai 2021.