The Callisto Protocol é um jogo de ação e aventura com elementos de horror. O título foi idealizado pelo diretor Glen Schofield, o criador do incrível Dead Space. Portanto, grandes expectativas foram criadas em volta deste novo projeto. Pois, como sabemos, o time original de Dead Space não existem mais e antes do anúncio do remake do título original, está obra do survival horror estava apenas em nossas memórias mais distantes. Assim sendo, o novo projeto de Glen chamou a atenção do público por ter a promessa de entregar uma experiência nova, mas que possuía a essência do que tornou os seus projetos de horror tão interessantes.
Além disso, The Callisto Protocol também prometia aproveitar muitas ideias que foram pensados originalmente para o primeiro DS, entretanto, acabaram sendo descartadas. Portanto, com uma pegada grande de horror e sobrevivência, e, ao mesmo tempo, com um combate frenético e fluido, The Callisto Protocol parecia um sonho para os amantes do gênero. Tudo parecia perfeito e teríamos algo que sempre sonhamos… entretanto, não foi isso que aconteceu. Com um lançamento problemático, o título acabou entregando uma jornada falha e que deixou a desejar em muitos aspectos, principalmente alguns onde o acerto era essencial. Para entender mais, me acompanhe em mais uma review do Pizza Fria.
A Prisão de Ferro Negro
The Callisto Protocol começa apresentando o protagonista Jacob Lee em uma nave indo em direção a Prisão de Ferro Negro, um local que fica em Callisto, a lua de Júpiter. Entretanto, quando chegamos lá, um acidente envolvendo uma terrorista acontece e o protagonista acaba sendo capturado e mandado para a prisão. Mesmo sabendo que isto é injusto, ele vai ser ter muita escolha. Entretanto, um tempo depois algo invade a prisão e monstros começam a se espalhar por todos os lados. Assim sendo, o objetivo principal é sobrevivermos e escapar daquele local.
A história parece rasa demais por está descrição né? Então, este é um dos grandes problemas do game. The Callisto Protocol apresenta uma jornada tão vazia em relação a desenvolvimentos de personagens, que fica difícil até dizer que o título tenta contar uma história. Basicamente, o que temos são apenas diálogos em que outros personagens nos dizem para onde ir e o que devemos fazer. Logo, o jogo não apresenta em nenhum momento profundidade de personagem e nem o básico para nos importarmos com ele.
Por exemplo, Jacob, parece que tem apenas duas falas ao decorrer de todo o game. Não conseguimos entender o que ele está pensando, como está se sentindo naquela situação, sendo que o personagem é quase uma casca vazia e não faria diferença nenhuma se ele não tivesse nenhum diálogo. Pois, ele apenas reage às situações e não soa como uma real figura ativa na história. Além disso, os personagens de apoio não são muito diferentes. Não sabemos o background deles e muitos menos vemos algum tipo de desenvolvimento.
Além disso, ao decorrer da narrativa, tinha momentos que os NPCs começavam a falar sobre alguma coisa e simplesmente era impossível entender, porque nada é explicado claramente. Logo, do começo ao fim, a narrativa de The Callisto Protocol se mostra vazia, sem proposito e com zero emoção.
O horror poderia ser melhor
Antes de partir para o aspecto da jogabilidade, preciso dizer o quão decepcionante The Callisto Protocol é quando o assunto é terror e horror. Uma das coisas que os fãs mais esperavam do game, era que o título fosse um sucessor espiritual de Dead Space. E sim, pode ser argumentado que essas expectativas não faziam sentido a afins… mas, realmente não fazem? Temos um game de horror que usa ideias descartadas do primeiro Dead Space, temos elementos que se assemelham bastante, inclusive o hud e até mesmo ataques que são bem-parecidos. Logo, com tantas semelhanças, era esperado que o elemento horror também estivesse presente. Infelizmente, isto não acontece.
Pois, o jogo apela para jump scares baratos usados de maneira excessiva no game. O exagero é tanto, que chega um momento que começa a ficar irritante as tentativas de sustos que claramente são pouco inspiradas e parecem estar ali apenas para cumprir a tabela de um jogo de terror. Além disso, embora os monstros tenham um visual macabro, nenhum deles causa genuinamente o sentimento de tensão e terror. E isto acaba sendo um dos grandes pecados de The Callisto Protocol. Pois, o jogo, em teoria, tem tudo para entregar uma experiência aterrorizante, mas ao errar em coisas essenciais e até básicas, toda a imersão acaba sendo comprometida.
A jogabilidade que consegue errar no básico
Em The Callisto Protocol, temos uma perspectiva em terceira pessoa. Logo, o protagonista pode andar, correr, realizar ataques corpo a corpo, desviar de ataques e usar armas de fogo em combate. E bom, vamos falar da coisa mais absurdamente quebrada no game, o sistema de desvio. Sim, eu ainda não consigo acreditar que o título conseguiu errar em algo que em tese, deveria ser extremamente básico. Temos um botão para desviar e quando o inimigo ataca, pressionamos ele e com o analógico decidimos a direção que realizaremos o desvio. Porém, por algum motivo que está além da minha compreensão, The Callisto Protocol resolveu não seguir esse caminho.
Em vez disso, usamos apenas o analógico para desviar. Quando o inimigo nos ataca, devemos escolher a direção e segurar, para que então o personagem automaticamente desvie. Bom, na teoria parece bem simples né? Mas não é, porque esse sistema não funciona e isto é muito frustrante durante todo o game. Pois, por este ser o mesmo botão de andar, várias e várias vezes, Jacob simplesmente não desvia, ou pior, ele desvia, mas ainda leva dano. Além disso, existe um sistema de contra-ataque, que apertamos o botão de atacar logo após desviar e isto também nunca funciona como deveria, fazendo com que o personagem fique parado e não faça nada.
Esse sistema fica ainda pior, quando temos que enfrentar vários inimigos ao mesmo tempo. Pois, o personagem não sabe para qual direção deve desviar e acaba não sabendo o que fazer. Além disso, o combate corpo a corpo do título não casa muito bem com a proposta de horror de sobrevivência que, em teoria, é a proposta do game. Pois, ignorando um pouco o fato o sistema de combate ser frustrante e isso por si só já mata todo o terror, não existe um real sentimento de survival horror. Não temos que gerenciar recursos, sendo que quando a munição acaba, é só seguir para o frustrante combate corporal.
O combate com armas funciona bem
Embora o grande foco de The Callisto Protocol seja os confrontos corpo a corpo, a partir de metade da campanha os jogadores poderão usar com mais facilidade armas de fogo. Temos pistolas, shotguns e até mesmo uma arma que lança munições explosivas. Cada uma destas armas pode ser melhorada em uma oficina que encontramos pelos cenários. Para isto, devemos usar créditos que obtemos matando inimigos e destruindo caixas pelo caminho.
Atirar nos monstros é satisfatório. Cada arma faz com que os inimigos sejam desmembrados de maneiras diferentes, o que faz com que cada arma tenha seu próprio impacto. Embora a munição seja um pouco escassa no começo, a partir da metade do título ela se torna mais abundante e os problemas em relação ao combate corporal são minimizados, pois, podemos atacar os monstros usando apenas armas de fogo.
O título também permite que usemos o cenário ao nosso favor. O protagonista possui uma luva que pode puxar os inimigos e usamos ela para jogar os monstros em armadilhas espalhadas pelo ambiente. Este recurso ajuda bastante em segmentos que precisamos lidar com várias criaturas ao mesmo tempo.
Puzzles?
Outra coisa estranha em The Callisto Protocol é que o game não apresenta nenhum tipo de puzzle. Pois, o loop de gameplay se resume em explorarmos uma área, às vezes uma nave, fábrica ou as profundezas da prisão. Logo, nosso objetivo sempre é ir atrás de um fusível para usarmos em uma porta, atravessarmos ela, lutarmos, vemos uma cinemática que não adiciona nada na história e logo depois repetimos o ciclo. O game usa tanto esse loop que às vezes fiquei confuso se estava avançando realmente no cenário ou andando infinitamente no mesmo ambiente. Acho que esse jogo tem fortes inspirações em Bruxa de Blair e os jogadores não foram avisados disso.
Assim sendo, sinto que The Callisto Protocol perdeu a oportunidade de usar as próprias mecânicas para entregar algo único e variado. Em vez disso, temos uma gameplay falha que deixa o sentimento de poderia ser mais.
Trilha sonora e gráficos
The Callisto Protocol também não apresenta uma trilha sonora constante. Entretanto, isso já era esperado por estamos falando de um jogo de terror, ou pelo menos um que tenta ser um. Logo, o grande foco são os sons ambientes. Neste aspecto, o game faz um bom trabalho. Principalmente em relação ao som das criaturas no ambiente, potencializadas por um grande eco. Isso torna a atmosfera interessante e deixa o jogador cauteloso em relação ao perigo que encontrará pela frente.
Os gráficos também são um aspecto em que The Callisto Protocol impressiona. Os visuais levam a Unreal Engine 4 ao limite, entregando um aspecto quase fotorealista. Além disso, os personagens apresentam um design muito bem, com destaque para a armadura que o protagonista adquire na metade do jogo. Além disso, é preciso destacar a beleza visual da prisão, das naves e até mesmo em cenários infestados por gosmas de monstros. Os poucos cenários externos que o jogo apresenta também impressionam, entregando uma beleza visual que é impossível não parar para tirar aquele print para postar no Twitter.
Desempenho
Minha experiência foi no Xbox Series X e ela não foi nada boa. O game apresenta dois modos: Qualidade com Ray Tracing e 30 FPS e desempenho em 60 FPS, sem Ray Tracing.
Começando pelo modo qualidade, o jogo não consegue manter 30 FPS na maior parte do tempo, sendo que tive vários travamentos durante a minha jornada. A coisa é tão séria, que até mesmo com o protagonista parado olhando para a beleza do céu do espaço, o framerate não se mantém a 30. O ray tracing realmente deixa o game com uma imersão melhor neste modo, sendo que pelo construção dos cenários, este recurso foi idealizado como algo essencial no game. Portanto, quando estes problemas forem resolvidos, recomendo que os players testem o game neste modo, claro, desde que abram dos 60 FPS.
Já no modo desempenho as coisas melhoram. Sim, ainda tive quedas perceptíveis em alguns segmentos, principalmente com muitos efeitos de fogo. Entretanto, na maior parte do tempo o FPS se manteve em 60 e não tive outros problemas.
Vale a pena comprar The Callisto Protocol?
The Callisto Protocol é um jogo que poderia ser muito mais. O game falha em entregar uma experiência basicamente divertida e acaba sendo uma obra que não soube usar as próprias mecânicas que tinha em mãos. O jogo erra em quesitos básicos, como o sistema de dodge, e digo facilmente, que nenhuns souls like chega perto de me causar tanta frustração quanto este sistema quebrado de The Callisto Protocol. Além disso, a história acaba não sendo interessante, nem os personagens… sendo que tudo que fazemos é para realizarmos o próximo objetivo.
Entretanto, o game tem sim alguns méritos, como a atmosfera, ambientação e design de som. Porém, isto não é o suficiente para sustentar a obra, o que torna The Callisto Protocol um jogo decepcionante.
The Callisto Protocol foi desenvolvido pela Striking Distance Studios e lançado no dia 2 de dezembro para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X|S e PC, via Steam.
*Review elaborado no Xbox Series X, com código fornecido pela Krafton.
Pizza Fria
Reviews, notícias e tudo sobre o mundo dos gamesPor Leandro Paiva, Pizza Fria
Atualizado em 27 Dez 2022.