
Os livros sempre foram inimigos da guerra. Adquirir conhecimento, em inúmeros momentos da história da humanidade, era sinônimo de subversão e perturbação em detrimento à ordem estabelecida, irritando profundamente os detentores do poder.
Foi assim na destruição das bibliotecas de Constantinopla em 1204 pela Quarta Cruzada, a de Kioto no Japão no século XV, o Ìndex Librorum Proibitorum do Papa Paulo IV, que listava os livros proibidos aos fiéis sob pena de excomunhão, ou os bombardeios russos que destruíram mil bibliotecas e 11 milhões de livros em Grozny, na Chechénia, bem como aos que dizimaram a Biblioteca Nacional de Madri durante a guerra civil, e sem esquecer dos livros queimados pela Revolução Cultural na China e de quando, no ano de 1933, em frente à Universidade de Humboldt de Berlim, o regime nazista queimou 20 mil livros escritos por "degenerados" e oponentes ao regime.

Em Balzac e a Costureirinha Chinesa, o autor do romance de mesmo nome e também diretor do filme homônimo, o chinês Dai Sijie, retratou a vida na China durante a revolução de 68, quando o líder chinês Mao Tse-Tung mudou radicalmente a vida do país sob a opressão do Exército Vermelho com a instauração da Revolução Cultural, que, entre outras medidas, expurgava das bibliotecas obras consideradas símbolos da decadência ocidental, numa época em que as universidades foram fechadas e os jovens intelectuais eram enviados para o campo para serem reeducados por camponeses pobres.

Da Idade Média inquisitória, passando pelo Maonísmo repressor e Fahrenheit 451, algumas palavras nos soam extremamente familiares dentre as quais figuram: regime totalitário, reeducação e inquisição, como parte intrisicamente ligada de uma história que teima em se repetir por meio da opressão e do controle moral e político que se utilizaram as ditaduras surgidas na Europa ao final da Primeira Guerra Mundial e na América Latina nos anos que compreendem a Guerra Fria e bem antes a favor da Igreja Católica.
Talvez a censura aos livros nos tempos atuais não tenha grande importância, e certamente não sejam eles os maiores inimigos da guerra, como insistem em nos mostrar determinados chefes de nações, que com sua arrogância e prepotência continuam a impor suas vontades absurdas a favor dos seus, repreendendo toda e qualquer manifestação contrária.
Contudo, embora os tempos sejam outros, nunca é demais reler o livro preferido esquecido dentro de uma gaveta ou empoeirado no fundo da estande, pois será dificil prever quando seremos novamente privados de lê-los.
Fotos: Divulgação / www.sxc.hu
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Atualizado em 10 Abr 2012.