Guia da Semana

Foto: Bruno Cesar Dias

Nada como um frango feito por você mesmo

Muitas vezes, a lida do jornalismo faz a gente fazer textos a jato, como um ovo mexido, aproveitando os queijos e frios que estão há dias na geladeira, ou um patê, feito com atum de latinha e maionese mesmo, pratos que adoro inventar. Essa ideia, além de dar água na boca, me fez lembrar da força criativa da humanidade na hora de matar a fome.


Pois, em análise radical - aquela que vai na raiz da questão - comemos simplesmente para manter nosso organismo em níveis mínimos de funcionamento. Por milênios, hordas, tribos e nações de cabeludos e cabeludas selvagens saíam por aí atirando em tudo o que se move, arrancando do chão e das copas tudo o que se parece - minimamente - confiável de se engolir. A fome, além de matar, dói tanto n`alma como no estômago e, com certeza, essa foi uma das dores que fez a humanidade caminhar.

A descoberta do fogo e da agricultura, a criação de utensílios de barro e o caminho das Índias foram alguns desses passos, só para encurtar um pouco a história da humanidade e não chatear o leitor, mais interessado em receitas elaboradas, cheias de fru-fru.

Com a badalação em torno da gastronomia, os marinheiros de primeira, segunda e terceira viagens se jogam com furor em elaboradas receitas. Compram livros, manuais, veem programas passo-a-passo na tevê e internet. Tudo para arrasar no peixe assado em baixa temperatura, com especiarias importadas, legumes baby e flores comestíveis servido no jantar para conquistar o pretê, ou no blinis com salmão e cream cheese, uma "besteirinha" feita para levar para a casa de amigos.

No entanto, quando chega à mesa, a expectativa fica maior que a fome. O resultado: uma verdadeira gula do ego, louco pelos elogios após tanto tempo, cuidado e investimento. Muitos desistem, e voltam a apelar para a rotisserie da esquina.

Bobagem, gente. A simplicidade e a criatividade são amigas da boa mesa: como quase tudo na vida, a boa cozinha vem de muita prática, tentativa-e-erro mesmo, e com pitadas de compaixão e bom humor. E quem fala (ou melhor, escreve) está longe de ser um ás do fogão. Por isso, em vez de inventar menus com quatro cursos, pratos cheios de etapas e comprar mil apetrechos que você só vai usar uma vez, aposte no simples e o faça diferente.

Pode ser um frangão como o da foto, um bom mexidão ou um sanduíche de sardinha. Os bons restaurantes assim o fazem, e você paga caro por esses pratos. E, claro, não desista nunca das receitas mais elaboradas. Demora um pouco para acertar, e nunca ficará tão bonito como na foto da revista. Mas não se esqueça: Photoshop não dá sabor.

Leia as colunas anteriores de Bruno Cesar Dias:

Sustentavelmente comercial

Balcão nacional


França com madeira de lei

Quem é o colunista: Bruno Cesar Dias, um carioca andarilho pela terra paulistana.

O que faz: Repórter de cultura do Guia da Semana.

Pecado gastronômico: Pão! Seja na bruschetta, na rabanada ou no sanduíche de queijo com goiabada.

Melhor lugar do Brasil: Essa opinião depende do dia... mas com certeza, está na Via Dutra.

Fale com ele: [email protected] ou @brunocsdias

Atualizado em 7 Ago 2012.