Guia da Semana

Carne de caju? Sim, ela existe e está em lasanhas, almôndegas e até suflês
Foto: Divulgação/ Elayna Michelli

Já imaginou se carne nascesse em árvore? Pois em Teresina, no Piauí, isso é quase realidade: a partir do bagaço do fruto do cajueiro, muita gente tem feito um produto que tem aparência, gosto e até mais nutrientes que a carne. Batizada de carne de caju, a novidade concentra todas as propriedades do ingrediente, faz com que seu aproveitamento seja total e, ainda, pode entrar no lugar da carne "normal" em quase toda receita.

A idéia, que parece absurda, mas já foi bem concretizada, surgiu da cabeça de Elayna Michelli Araújo Rocha Moura, uma verdadeira louca por caju. Apaixonada pelo fruto - ou melhor, pseudofruto, já que a castanha é considerada a fruta do cajueiro - ela, há cinco anos, começou uma pesquisa para descobrir um jeito de aproveitar por total esse ingrediente. "Dava para fazer suco, usar em doce, comer a castanha, mas o bagaço sempre sobrava", diz ela, que hoje é instrutora e consultora do programa CajuCultura do Sebrae, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, do Piauí.

Creme, risoto e pudim de caju
Foto: Divulgação/ Elayna Michelli
Pesquisando formas de tornar seu desejo possível, Elayna acabou descobrindo que as propriedades do caju eram mais do que ela poderia supor. Por meio das suas experiências, ela quebrou alguns tabus, como o de que pessoas com intestino preso ou gripadas não podem consumir o ingrediente. "O caju é fonte de ferro e vitamina C e, por isso, pode e deve ser usada por quem tem gripe. É só colocá-lo na água com limão para retirar a acidez e pronto. No caso de quem tem privação (prisão de ventre), é só consumir a fibra e não o líquido dele", explica.

Foi usando a fibra presente em seu bagaço, aliás, que ela inventou a "nova carne". Demorou dois anos para chegar à receita de hoje, que consiste em colocar o bagaço da fruta em água na temperatura de fervura, acrescentar um limão e deixar a mistura por cinco minutos no fogo. Depois de escorrer e espremer bem a fibra basta usá-la em qualquer receita que levaria o corte tradicional dos animais, mas sempre lembrando de acrescentar à mistura um caldo pronto - desses de carne, frango e diversos outros sabores encontrados no supermercado.

Almôndega de caju
Foto: Divulgação/ Elayna Michelli
Como as fibras do pseudofruto absorvem muito bem o gosto dos caldos, é fácil criar frango, porco, picanha e até camarão a partir da banca de frutas da feira mais próxima. Mais acessível que a carne tradicional em termos econômicos, uma das qualidades desse derivado do cajueiro é a possibilidade de satisfazer o organismo tanto quanto ela, por um preço bem mais baixo. Por isso mesmo, o projeto de Elayna percorre comunidades carentes do Piauí, que já têm substituído a carne do mês pela carne de caju todos os dias. "E se a pessoa não tem como comprar caldo pronto, pode cozinhar a carne que comeria uma vez ao mês e guardar seu caldo. Um quilo e meio de carne dá caldo suficiente para produzir até dois quilos de carne de caju", revela a caju expert.

Em alguns lugares, o projeto já fez com que a canja de galinha fosse trocada por caldo de caju em escolas publicas. "A digestão da galinha é mais rápida e a criança tende a ter fome mais cedo. Já a de caju, por ter fibra, demora mais para ser digerida e, portanto, prolonga a saciedade", acrescenta Elayna, que garante que sua invenção é bem menos calórica que qualquer outra carne, inclusive a de peixe.

Menu de caju
Risoto de caju, suflê de caju, vinho de caju, cajuína (suco de caju cozido), almôndegas de caju e até brigadeiro de caju fazem parte do receituário de Elayna, que pode fazer um jantar completo usando apenas seu ingrediente preferido. Para a nutricionista da empresa de produtos naturais Mundo Verde, Flávia Morais, consumir tanto caju ou mesmo sua "carne" não é prejudicial. "Mas eles não podem ser únicos em uma dieta, pois esta terá deficiência de outros nutrientes", ressalta.

Além de ser riquíssimo em vitamina C - 1 caju tem 200 mg da vitamina contra os 40 da laranja - o fruto do cajueiro tem uma boa quantidade de compostos fenólicos, aqueles presentes nas uvas e no chá verde, que ajudam, sobretudo, na prevenção de cânceres. Mesmo assim, a carne de caju não pode simplesmente ser colocada no lugar da vermelha. "Ela não tem tanta proteína e não pode substituí-la totalmente. O ideal é que entre apenas como uma alternativa do cardápio", analisa a nutricionista.

Lasanha de caju
Foto: Divulgação/ Elayna Michelli
Segundo ela, embora 100 gramas de caju equivalham a apenas 36 calorias, a carne dele, por ser misturada a caldos, apresenta um pouco mais de potencial engordativo. "O caldo é sempre feito a partir da parte mais gordurosa da carne e, por isso, a carne de caju deve ser tão calórica quanto a de peixe, é complicado dizer que tem menos calorias que ele", contesta. De gosto similar à carne, rica em nutrientes, menos calórica e bem em conta - o quilo da lasanha de caju da Elayna custa R$ 30,00, enquanto a de carne sai por R$ 45,00 - a carne de caju é uma boa opção para mudar o cardápio. Confira aqui algumas receitas feitas com ela e, abaixo, a receita da carne básica de caju.

CARNE DE CAJU
Ingredientes:
1 litro de água
1 limão pequeno
500 g de bagaço de caju - o equivalente a 8 ou 10 cajus, dependendo de seu tamanho

Modo de preparo: Em uma panela, leve a água ao fogo. Quando ferver, acrescente o limão e o bagaço do caju. Deixe ferver por 5 minutos, escorra e esprema, deixando a carne seca. Use a carne em qualquer receita, lembrando de sempre acrescentar um tablete de caldo de sua preferência para dar gosto a ela.


AOS LEITORES
? Em resposta a Eduarda, de São Paulo, a carne de caju, sozinha, é muito perecível, assim como a fruta. Deve ser consumida em no máximo 48 horas. Agora, os pratos feitos com ela, como almôndegas e lasanha, se bem congelados, podem durar o mesmo tempo de uma receita que leva carne, ou seja, até um ano.

? Como resposta a Maria, de São Paulo, Elayna Michelli explica que a carne de caju ainda não é comercializada como produto unitário, mas o quilo de uma lasanha feita com ela pode custar, em média, R$ 30,00.

? Com relação à dúvida da Fátima, de São Paulo, o caju usado para fazer a carne de caju não é de nenhum tipo especial. Qualquer caju pode ser usado para esse fim, segundo a Elayna.

? Quanto aos cursos de Cajucultura: a especialista Elayna Michelli ministra essas aulas por meio do Sebrae-Piauí. Para trazê-la a outros lugares do Brasil é preciso entrar em contato com o Sebrae de seu estado e solicitar sua vinda. O número do Sebrae-SP é 0800-728-0202.

? Outras dúvidas, entre em contato com a própria expert em caju, que cedeu seu telefone para os leitores: (86) 9931-5000 ou (86) 8828-5167.


Serviço:

Mundo Verde
www.mundoverde.com.br

Atualizado em 7 Ago 2012.