Guia da Semana

Dim Sum: direto da Liberdade
Fotos: Marcelo Katsuki

Minha visita à Chinatown, em Chicago, tinha um único objetivo: comprar um pilão de pedra igualzinho àqueles que a gente vê nos programas do Jamie Oliver e da Kylie Kwong. Objeto de desejo! Desci animado a escadaria da estação do metrô, avistando o portal vermelho todo trabalhado que indicava a avenida principal. Lá fui eu.

Logo na primeira quadra, deparei-me com uma loja de utensílios de cozinha "para homens" - conforme indicava a plaquinha. Achei engraçado e entrei. Fuça daqui, mexe dali e nada do pilão. Mas havia woks fantásticas penduradas nas paredes e, é claro, alguns livros. Um deles me chamou a atenção: Dim Sum - The Essencial Kitchen.

Dim Sum são pequenos bocados chineses com formatos variados, de carne, legumes ou frutos do mar envoltos em massa e fritos ou cozidos no vapor. Podem também ser recheados com doces ou frutas. O nome quer dizer "que toca o coração" e cria uma imagem bastante poética para esses pequenos bolinhos. As fotos logo me seduziram e fui folheando o livro até o caixa, com um aperto no estômago a cada página virada. Paguei pelo livro e por um pacotinho de pimenta, e me atirei de volta à rua.

Disputados bolinhos...

Percorri todas as lojas, incluindo as das ruas transversais, mas nem sinal do pilão. O desânimo só foi vencido diante da placa na fachada do restaurante de dimensões meio exageradas anunciando um festival de... Dim Sum! Ainda nem havia terminado o gigantesco copo de smoothie de chá verde que me refrescava quando entrei no salão de decoração ostensiva e me fartei numa das refeições mais estimulantes da minha vida. Uma senhorinha elegantemente vestida num casaquinho vermelho brilhante muito justo (com bordados de motivos chineses, claro) empurrava o carrinho cheio de cestinhas de bambu com vários tipos de Dim Sum. Era olhar rapidamente e pegar o que queria provar. Uma experiência e tanto, cheia de surpresas ao mordiscar cada bocado. Voltei para o hotel sem meu objeto de desejo, mas cheio de interessantes memórias gustativas para contar.

Quando retornei a São Paulo, deixei o livro sobre a cabeceira da cama para ficar lembrando das sensações daquela tarde naquele lugar distante, sozinho, onde a comida havia sido a grande companheira. E só no mês passado, quase dois anos depois da aventura, encontrei um lugar onde pude reviver parte daquela experiência, pelo menos no sentido do paladar.

Ali na Conselheiro Furtado, passando a rua Tamandaré, em São Paulo, uma fachada muito simples esconde a única casa da cidade especializada em Dim Sum. Trata-se do restaurante Jambo (foto ao lado), mas não espere ambientações suntuosas nem serviço impecável: o grande luxo ali é a comida. Apesar de não contar com o serviço "de carrinho" - o que seria uma atração à parte - o cardápio traz fotos das opções de pedidos, o que facilita muito. Na dúvida, pergunte à Suzana, que atende o salão com simpatia e uma animadora disposição para explicar os pratos.

Vale a pena pedir as porções pequenas que, além de baratas (de R$ 4,00 a R$ 5,00), permitem que você experimente a maior variedade possível de "bolinhos". Em minha visita, me fartei de mu shu de camarão e ervilha, crocantes bolinhos de moti fritos recheados com cogumelos, dumplings de carne e verduras no vapor, além de guiozas assados na chapa. Tudo acompanhado por um rico molho de pimenta e tiras de conserva de gengibre, que abriam ainda mais o apetite.

À noite, a casa ainda serve o Shabu Shabu chinês, com uma gôndola repleta de verduras e frutos do mar onde você se serve à vontade por atraentes R$ 29,00. O preço já inclui a bebida (e tem até cerveja!). Mas essa aventura ficou para uma próxima visita.

Comer Dim Sum é quase uma cerimônia lúdica, divertida, e vai super bem numa reunião de amigos ou almoço de família. Lembram os tapas espanhóis e os petiscos de boteco, mas são curiosos pelos formatos e sabores distintos. O Jambo me fez lembrar daquela tarde solitária em Chinatown, do refrescante smoothie, da loja de utensílios "para machos" e do pilão. Ah, o pilão!!! Acabei encontrando o dito, veja só, na Crate & Barrel em plena Michigan Avenue, no coração de Chicago. Às vezes, as coisas estão mais próximas do que a gente imagina, assim como o Jambo, logo ali na Liberdade.

Salivou?
Jambo
Rua Conselheiro Furtado, 1095, Liberdade, São Paulo
Fone: (11) 3207-9485

Quem é o colunista: Marcelo Katsuki, um comilão em eterna luta contra a balança.

O que faz: editor de arte e blogueiro de gastronomia da Folha Online.

Pecado gastronômico: frituras.

Melhor lugar de São Paulo: Sophia Bistrot. A comida da chef Fabiana Cesana sempre me transporta a algum lugar muito especial.

Fale com ele: [email protected] ou acesse o blog Comes & Bebes.

Atualizado em 7 Ago 2012.