Guia da Semana

Foto: Arquivo Pessoal

As viradas da economia, muitas vezes, fazem milagres. Pense comigo. Há duas décadas nossos hermanos argentinos se esbaldavam pelas praias brasileiras. Nas viagens de fim de ano era mais fácil você topar com uma família portenha do que com um vizinho de bairro.

De uns anos para cá, porém, o real se valorizou perante o peso. E, salvo alguns altos e baixos econômicos, tem se mantido assim. Se isso provocou uma certa escassez de argentinos do lado de cá, do lado de lá é cada vez mais comum encontrar grupos de brasileiros perambulando por todo o país.

Mas não viemos aqui para falar de economia, e sim de gastronomia. E esse é justamente o ponto onde quero chegar. A culinária portenha sempre foi excelente. E com o atual patamar cambial, você pode fazer uma verdadeira festa nos restaurantes argentinos.

Estive, recentemente, em uma viagem pelo país de Gardel. Não foi a primeira e espero que não seja a última. A Argentina é linda. O país é belo, as cidades são limpas e o povo é civilizado. Pena não termos todos esses predicados também por aqui. E não venha botar a culpa no governo, porque isso não é desculpa. Tanto lá quanto cá, há desmandos e desgoverno. E isso é outra conversa, para outra hora.

Não faço parte do coro que odeia argentinos, muito pelo contrário. Fora o futebol, não vejo motivos para esse ódio contumaz. E, se você também tem essa opinião, quando conhecer a relação custo-benefício da culinária local, tenho certeza que irá se apaixonar.

Quem me conhece sabe que não sou grande fã de carnes. Abro apenas algumas exceções por força da profissão. Não há como negar: os cortes argentinos e a maciez de suas carnes são surpreendentes. Mas sua gastronomia não se limita a isso. Em Buenos Aires, vale a pena sair caminhando para descobrir a cidade. As ruas são planas e permitem um olhar atento aos detalhes.

O centro oferece opções variadas dos tradicionais cafés a restaurantes que executam pratos elaborados. Do outro lado da capital, temos Puerto Madero, que já é um ícone do turismo. Dificilmente você irá se decepcionar num almoço ou jantar a suas margens. O local ainda vale pelas boas casas que mantém e pelo visual.

Pessoalmente, considero os bairros da Recoleta e Palermo Soho os mais atraentes. Já tentei encontrar um paralelo entre esses lugares em São Paulo, mas talvez seja impossível. A Recoleta reúne inúmeros bares, cafés e restaurantes, onde você encontra praticamente tudo, a qualquer hora do dia. Já em Palermo e Palermo Soho, estão os modernos e mais conceituais restaurantes da cidade. Além de inúmeras baladas.

O fato é que, na maioria dos restaurantes argentinos, você com certeza irá comer muito bem. E beber melhor ainda. Lá, ao contrário daqui, não se cobra preços exorbitantes por um bom vinho. Nunca deixe de olhar a carta. Depois de observar os valores e a variedade de opções, duvido que você opte por outra bebida.

E o que é melhor: toda essa qualidade gastronômica não é privilégio de Buenos Aires. Até mesmo em locais distantes, como El Calafate, onde a atração principal é o Glacial Perito Moreno, ou Ushuaia, conhecida como Terra do Fogo e cidade mais austral do planeta, a boa oferta culinária é uma regra, e não exceção.

Se você for para El Calafate, recomendo o La Lechuza. A casa é simples e rústica e a variedade de empanadas é grande, algumas são inesquecíveis. Em Ushuaia, use e abuse dos peixes e frutos do mar. A cidade é um porto e os preços dos pescados são tentadores. Minha dica é saborear a Centolla Fueguina, uma espécie de king crab. Ela pode ser preparada de diversas formas e é encontrada nos bons restaurantes. Mas esqueça tudo e prove esse caranguejo gigante ao natural. É leve e delicioso. No restaurante Tante Nina você ainda tem, de brinde, uma bela vista da baía.

Como dica final, esqueça por um momento qualquer preocupação com as calorias e caia de boca nas tortas do Tante Sarah, também em Ushuaia. São duas unidades que oferecem alguns pratos, sanduíches, saladas e cafés. Mas as tortas... Ah, as tortas... Você pode ficar horas por lá e nem percebe o tempo passar. Principalmente porque, do lado de fora, o frio é de doer.
Quem é o colunista: Marco Esteves, sempre o personagem de alguma crônica gourmet.

O que faz: É jornalista e redator publicitário.

Pecado gastronômico: quem nunca cometeu nenhum, que atire a primeira jaca.

Melhor lugar do Brasil: Depois que visitar todos, eu decido.

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Atualizado em 7 Ago 2012.