Guia da Semana


Já perdi as contas de quantas vezes me disseram "não acredito!", quando disse que não gosto de comida japonesa.

Na primeira vez, confesso que fiquei preocupado. Cheguei a pensar que eu havia cometido o "Oitavo Pecado Capital": (...) 6º - Não roubarás; 7º - Não matarás; 8º - Não recusarás comida japonesa. Vou além. Parece até que Deus é japonês, tamanha a indignação das pessoas quando digo que nunca provei um sashimi, um suhi ou um tempurá.

Minha aversão à cozinha dos samurais tem uma explicação. Ou não, como diria um certo cantor baiano que parece falar japonês. Começa por ser ela quase toda baseada em frutos do mar. Oras, mas qual o problema? Eu tenho alergia a polvos, mexilhões, mariscos, crustáceos, Lulas, Genuínos, Dirceus...

Só isso já seria um bom argumento para escapar do corredor da morte por não gostar de japoneses. Opa! Eu quis dizer restaurantes japoneses, antes que me acusem de xenofobia também.

Mas, admito, não é só isso. Os pratos japoneses não são atraentes (já até consigo escutar os belos adjetivos que me dão os usuários quando leem esta afirmação). É um punhadinho de arroz envolto por uma coisa verde aqui, um retalho de peixe cru acolá. Pratos assim não despertam minha fome. Aliás, acabam com ela. Matam-na como um kamikasi se atirando em meu apetite. Como um samurai dando espadadas em minha gula.

Comida tem de ser gostosa antes mesmo de ter sido comida (me perdoem a redundância). Como alguém pode dizer que sua cozinha predileta é a japonesa, sendo que a italiana (Dio santo), a portuguesa, francesa e tantas outras estão nesta disputa?!

Além da aparência, há também outras coisas que fazem com que eu feche os olhos aos sushis, sashimis e tempuráááááááás. Os rituais. Traduzindo para o português de Camões, as frescuras! Não entendo por que tanta delicadeza do sushiman, ultraman (sei lá!), ao cortar o peixe, ao servi-lo. Talvez esteja aí, entretanto, a explicação para tanta gente dizer que gosta de uma comida sem gosto. Quando o prato chega à mesa, a fome é tamanha que qualquer coisa fica saborosa.

E os pauzinhos?! Finos, curtos. Não é possível comer e se satisfazer com aquilo. Alguns séculos atrás, até entendo que usassem pedaços de madeira para comer. Mas hoje, século 21, há motivo? Creio que não. E olha que o Japão é o país mais avançado tecnologicamente do mundo. Criam robôs que andam, nadam, correm e até que comem (duvido que comam sushis, sashimis e tempurás), mas não criaram nada mais avançado que dois pauzinhos para comer.

Na verdade, tudo é uma simples questão de gosto. Não gosto de comida japonesa, como tem gente que não gosta da italiana. Adoro pizza com ketchup (não precisa fazer esta cara de nojo), como tem gente que gosta de comer arroz e feijão com banana (agora, quem faz cara de nojo sou eu).

Mas, por obséquio, da próxima vez que escutar alguém dizendo que não gosta de comida japonesa, não faça mais esta cara de espanto como um oriental vendo uma mulata requebrando em uma escola de samba.

Quem é o colunista: Rafael Andrade Jardim

O que faz: Jornalista de gastronomia, autor do livro Dossiê Corinthians e aspirante a empresário.

Pecado gastronômico: Macarrão a alho e óleo com queijo ralado e mostarda.

Melhor lugar do Brasil: Interlagos.

O que está ouvindo no carro, iPod ou mp3: Chinese Democracy - GNR.

Fale com ele: [email protected]

Atualizado em 7 Ago 2012.