Guia da Semana

Foto:Sxc

A proposta desta coluna, desde o início, nunca foi criticar nenhuma casa. Não me proponho aqui a escrever sobre este ou aquele bar e restaurante. Existem outros espaços para isso. A idéia sempre foi citar fatos que, eventualmente, acontecem quando freqüentamos bares e restaurantes.

Não posso me furtar, porém, de fazer uma analogia sobre o que aconteceu comigo, recentemente. Os caros leitores hão de entender - e perdoar - um certo mau humor. E é minha obrigação alertá-los sobre o péssimo atendimento de alguns lugares.

Outro dia fui jantar com uma amiga e ela se atrasou um bocado. Eu já estava virando piada no restaurante. Os garçons mais conhecidos começaram a ironizar a ausência da minha companheira, dizendo que ela havia me deixado na mão.

Ao chegar, ela comentou que se atrasou porque passou num buffet antes de ir para o restaurante. Era aniversário da cachorra da amiga dela. Não, ela não maldizia a amiga. A festa era realmente para a cachorra - aquele bichinho peludo de quatro patas - que era o xodó da amiga. E teve uma festa num buffet. Devia ser um buffet canino, suponho.

Com tantos buffets infantis por aí, nada mais justo que fazer um também para o melhor amigo do homem. Ou da mulher, no caso. Segundo ela, havia de tudo. De salgadinhos e docinhos para as crianças a petiscos variados para os adultos. Com direito a cachorro-quente. Do tradicional, que fique claro. Afinal, o buffet era canino, não coreano. Caso contrário, algum convidado incauto poderia parar na chapa, literalmente.

Pelo visto, vida de cachorro não anda nada má. Pena que eu não possa dizer o mesmo da nossa. Algumas casas fazem questão de tratar seus clientes feito cachorro. E me refiro aos maus-tratos dispensados à raça, não ao serviço atencioso e cortês que tem virado moda ultimamente.

Há alguns meses fui a um bar chamado Botequim do Seo Zeca, em Moema. Lugar simpático, nada demais. Um boteco tranqüilo, pra se beber com os amigos, enquanto proseia um pouco. Escolhemos uma mesa na lateral, do lado de fora do bar, debaixo de um toldo. Antes da 1 da manhã, o garçom começou a recolher o toldo.

Como chovia, comentei: "Se você recolher isso, acho que vamos nos molhar...". Ao que o educado cidadão retrucou: "Se vocês vão se molhar, eu não sei. Mas que eu vou recolher o toldo, isso eu vou!". Foi o bastante para pedirmos a conta. E nunca mais dar as caras no lugar.

Outra passagem mais recente foi no badalado Ásia 70, que tem um bar japonês com sushis e sashimis interessantes. Acontece que a casa não é um bar ou restaurante. É uma balada. Eu já tinha ido algumas vezes para fazer degustações dos pratos oferecidos, sem atentar ao serviço da casa. Nessas visitas, minha intenção era avaliar a cozinha. Mas já tinha ouvido reclamações sobre a má-educação dos funcionários.

Era uma quinta-feira quando uma amiga me ligou de lá, dizendo que estava com umas amigas, se eu não queria aparecer. Não pude recusar o convite. Mas pude atestar pessoalmente o descaso com que tratam os eventuais clientes.

Cheguei à porta do famigerado local pouco depois das 23 horas. Havia umas cinco pessoas na fila. Dessas, um rapaz oriental e bem vestido foi barrado, não fiquei sabendo o motivo. Na minha vez, falei para a nada simpática hostess que iria encontrar uma amiga que estava lá dentro. "Impossível!", respondeu ela. "Sem cartão da casa e sem nome na lista, não entra."

Tentei ainda ponderar, argumentar, vendo minha amiga lá dentro, mas Hitler, digo, a recepcionista, era intransigente. Para piorar, minha amiga era proibida de sair para falar comigo. "Se você sair, não entra mais!", vociferou o feroz leão-de-chácara, que a impedia de vir ao meu encontro. Liguei para ela dizendo que estava indo embora, pois a situação era ridícula.

Minha amiga acabou saindo e foi embora comigo. Não digo que saí de lá me sentindo um cachorro, pois não recebi afagos, bifinhos ou biscoitinhos como no tal buffet canino. Mas pelo menos fomos a um lugar onde o tratamento educado é regra, e não exceção. E o critério para saber quem entra ou não é menos aleatório do que as pulgas de um vira-lata.

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Quem é o colunista: Marco Esteves, sempre o personagem de alguma crônica gourmet.

O que faz: É jornalista e redator publicitário.

Pecado gastronômico: quem nunca cometeu nenhum, que atire a primeira jaca.

Melhor lugar do Brasil: Depois que visitar todos, eu decido.

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Atualizado em 7 Ago 2012.