Guia da Semana


Pode não ser a mais bela... mas, sem dúvida, a alcachofra é uma das verduras mais ecléticas. A parte dela que se consome é a flor, considerada iguaria requintada e saborosa. Muito apreciada à mesa, ótima para a saúde, bastante útil na cosmética, sempre teve suas propriedades reconhecidas. Na Antigüidade, já era utilizada pelos médicos no preparo de medicamentos contra a febre, doenças do fígado, reumatismo e até como antidepressivo.

Documentações históricas indicam que o cultivo da alcachofra possa ter começado na Sicília a partir do século I. Chamava-se Cynar (daí também o nome do famoso aperitivo à base dela), em homenagem a uma linda mulher que o deus Giove seduziu e, em seguida, transformou em alcachofra.

A alcachofra já era apreciada pelos gregos e romanos por seus supostos poderes afrodisíacos. Neste mesmo contexto vale também contar uma passagem curiosa: ao que parece, por volta do século XVI, o consumo dela na França chegou a ser proibido para mulheres. A esposa do rei Henrique II, a italiana Caterina de Medici, adorava alcachofras. Todos comentavam que a iguaria era um poderoso afrodisíaco, e o comportamento da esposa do rei devia, em certos momentos, refletir isso. Pois, juntando uma coisa com a outra, foi determinado que as damas não deviam mais comer a iguaria.

Histórias à parte, podemos ressaltar os vários nutrientes e princípios ativos da alcachofra, entre eles o ácido cafeico, flavonóides, glicosídios, cinarina, pró-vitamina A, vitamina C, mucilagens e taninos. Além de ser um vegetal muito nutritivo com baixas calorias, proporciona boa parte das necessidades diárias de vitaminas. Entre outros efeitos benéficos, a alcachofra estimula o fígado, ajuda a limpar o sangue, fortalece o coração e limpa o organismo em geral. Na área cosmética, é utilizada na produção de produtos de limpeza de pele, revitalizantes e tonificantes.

Aprendi a apreciar a alcachofra quando criança. Morava em Catania, na Sicília, e a quitanda ao lado da minha casa espalhava pelo bairro um cheiro irresistível de alachofra feita na brasa, temperada unicamente com alho, salsinha e azeite. Todas as tardes da época da alcachofra, meus irmãos e eu, ao voltarmos da escola, passávamos na frente da barraquinha do quitandeiro e juntávamos nossas moedas para o lanche da tarde, que muitas vezes acabava sendo nada mais do que uma deliciosa alcachofra quentinha na brasa. Depois, saboreávamos cada pedacinho, pétala por pétala, torcendo para que a temporada da alcachofra nunca terminasse...

Hoje, anos depois, tenho o privilégio de preparar (e degustar) a alcachofra no meu bistrô, revisitando receitas tradicionais italianas e internacionais. Com recheio ou sem, cozida, fria ou quente, assada, grelhada ou gratinada, no risotto, no macarrão, na salada ou simplesmente pétala por pétala, até chegar ao seu fundo saboroso e macio... sempre torcendo que a temporada da alcachofra nunca termine!

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Quem é o colunista: Sandro Sarbach.

O que faz: Restaurateur, chef e proprietário do Piccolo Bistrot

Pecado gastronômico: Comer um X-tudo depois de ter cozinhado dezenas de "foie gras" e "lagosta na manteiga".

Melhor lugar do Brasil: Búzios pela beleza da natureza e o charme da Rua das Pedras.

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Atualizado em 7 Ago 2012.