Guia da Semana

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A disputa entre homens e mulheres é mais antiga do que a o cultivo da vinha. Mas o fato é que os dois sexos não param de competir e comparar suas habilidades. No mundo do vinho isso não é diferente. Os homens afirmando que "mulheres não entendem de vinho" e as mulheres conquistando cada vez mais seu espaço nesse universo.

Comecei a circular no meio do vinho nos anos 90 e, muitas vezes, estive na posição de "a discriminada". Não porque eu entendesse muito ou pouco das características organolépticas da bebida de Baco, mas sim porque os homens não queriam dividir conosco esse néctar.

Disfarçado atrás do fato de que a mulher é menos resistente ao consumo de álcool, eles foram se apropriando dos melhores vinhos, criando o hábito de beber entre eles, até que nos deixaram totalmente de fora. Surgiram centenas de confrarias em torno do vinho, estritamente masculinas, mas com o objetivo escuso de obter alvará para sair de casa sem elas.

Como mulher não pode beber muito, prefere bebida docinha, ou não consegue entender as complexidades do assemblage do mosto das castas viníferas, eles podiam sair juntos assegurando as suas esposas que não haveria outras mulheres no grupo. A confraria não era um fórum para discutir um assunto que não interessava às mulheres, o vinho, mas sim um meio de sair sem elas.

Vi, de longe, confrarias masculinas dividirem vinhos nobres como os do Domaine de La Romanée-Conti (que nunca tomei), enquanto as mulheres ficavam em casa cientes de que seus pares estavam "enchendo a cara", mas sem a presença da ameaça maior que é "a outra". Em nome dessa demonstração de solidariedade da raça deixei de provar grandes vinhos que normalmente nós mortais, não temos oportunidade de fazê-lo, como Petrus e grandes Bordeauxs, que os homens podiam compartilhar com os amigos, mas sem levar as esposas.

Nada como um dia após o outro e hoje as mulheres adotam a mesma estratégia. Nasceram diversas confrarias femininas, para que seus pares não se sintam ameaçados, onde se degustam grandes vinhos, a conversa é livre e o mais importante, elas exercem a liberdade de existir sem seus homens. Com isso a discussão de quem degusta melhor ficou totalmente de lado.

O grande argumento que tirava das mulheres o direito de socialmente usufruir de bons goles dos vinhos especiais de seus maridos, foi por água abaixo. Agora as mulheres passaram a disputar o direito de posse das garrafas especiais das adegas para partilhá-las com as amigas e assim, criaram uma nova desavença entre os sexos: quem fica com aquela garrafa especial comprada naquela cave, no sul da França?

Leia as colunas anteriores de Denise Cavalcante:

O Paraíso Vinicola

Prazeres do Vinho

Bom momento para o vinho

Quem é a colunista: Denise Cavalcante, jornalista.

O que faz: Trabalha com eventos de vinhos e gastronomia.

Pecado gastronômico: Abrir garrafas de vinho para tomar sozinha, mas não ter coragem de abrir os melhores só para mim!

Melhor lugar do Brasil: Minha casa, ao lado do meu filho.

Fale com ela: [email protected]

Atualizado em 7 Ago 2012.