Guia da Semana

Foto: Gabriel Oliveira/ Guia da Semana

Há uns dois anos, eu fui para a Bahia e, pela primeira vez, fiquei quase todo o tempo em casas de amigos. Foi uma experiência bem interessante porque, assim, eu pude vivenciar e observar de perto os hábitos alimentares das famílias por onde passei. Vários costumes diferentes me chamaram a atenção, como o consumo da banana-da-terra e da mandioca cozida no café da manhã, do arrumadinho de feijão fradinho e carne seca para acompanhar a cerveja, do cozido aos sábados, entre outros. Mas, sem dúvida, o que mais me impressionou foi o uso do coentro em grande quantidade como tempero para quase todos os pratos: de sopas e saladas, em carnes, peixes e aves.

No começo eu estranhei muito, achava o gosto extremamente forte, o confundia com o azeite de dendê, outro ingrediente baiano, não sabia identificá-lo direito. Mas, aos poucos, fui me apegando e, no final da viagem, eu já estava preocupada se ia conseguir sentir aquele sabor de novo na volta para São Paulo. E, infelizmente, tive que rebolar para encontrar. Nos supermercados onde procurava, quase nunca achava, e quando tinha, geralmente em sacolões ou feiras, a maioria das vezes o coentro estava machucado e sem gosto. Além disso, comecei a reparar que, por aqui, ele é realmente considerado um artigo raro e quase ninguém o utiliza para temperar os pratos no dia-a-dia, a não ser para preparar receitas típicas baianas.

Fiquei um pouco abalada e fui pesquisar a respeito. E descobri que muitas das culinárias mais famosas do mundo são perfumadas com este tempero, como a indiana, a mexicana, a chinesa e a tailandesa. Aqui no Brasil, o condimento é extremamente popular nas regiões norte e nordeste. Só São Paulo não caiu no gosto do coentro ainda! Vários paulistanos dizem que não suportam, que mal podem sentir seu cheiro. Seu sabor desperta autênticas paixões e ódios. Mas uma coisa é verdade: em todo sudeste, o coentro enfrenta um grande preconceito.

Um palpite é que esta falta de aceitação ocorre devido à numerosa colônia italiana que imigrou para São Paulo, que não tem o hábito de cozinhar com o ingrediente. Usamos mais o orégano, o manjericão e a salsa. Uma pena, porque trata-se de um condimento super aromático, e, através dele, é possível conhecer mais e viajar por outras culturas culinárias do Brasil e do mundo.

Sinto-me um pouco partidária da luta a favor do uso do coentro em São Paulo e posso afirmar que, na minha opinião, vale a pena o esforço para encontrá-lo e utilizá-lo. Comece em pratos nos quais o coentro cai muito bem, como nas moquecas e peixes em geral, vinagretes, carnes-secas e no feijão. Aos poucos vá tentando pratos menos comuns, como os típicos tailandeses, indianos, mexicanos e peruanos. Parece que o tempero foi feito sob medida para receitas como o guacamole e o ceviche. Posso afirmar tranquilamente que, uma vez passado o estranhamento, esta erva vira uma grande paixão.

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Quem é a colunista: Patrícia Moll Novaes

O que faz: Jornalista e assessora de imprensa de gastronomia

Pecado gastronômico: Café da Manhã

Melhor lugar do Brasil: Rio e Recife pela vida cultural, Trancoso pela tranqüilidade e Jericocoara pela beleza.

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Atualizado em 7 Ago 2012.