Guia da Semana


Você já reparou nas listas tipo " The Best of" que circulam por aí? Eu sempre gostei delas. Mal descobria uma nova, logo me interessava. Devia ser mania. Confesso que até Troféu Imprensa já acompanhei. Mas venho reparando que as listas de "Melhores não sei o quê" têm se multiplicado muito. Hoje temos lista para tudo que é coisa.

Tem lista de melhor café, melhor ovo de Páscoa, melhor panettone, melhor drinque, melhor restaurante disso e daquilo, só para ficar nos comestíveis. A dúvida é: qual o critério utilizado para avaliar este ou aquele produto ou serviço?

Em São Paulo, por exemplo, as listas de restaurantes e bares são generosas. Quase todo mês aparece uma diferente. Tem o melhor bar pra paquerar, o melhor bar pra ir com a paquera. Daqui a pouco aparece o melhor bar para terminar com a paquera. Já imaginou? "Amor, descobri um lugar ótimo pra gente ir hoje à noite." Seria perfeito para discutir a relação. E melhor ainda para terminar tudo depois da discussão.

Em tempos de Lei Seca, logo devem surgir listas inspiradas no tema. Já pensou no melhor bar longe de blitz? Ou o melhor taxista para fugir de uma? Hoje em dia tem até GPS - esses navegadores que estão se tornando moda nos carros de todo o mundo - com bafômetro. Só vai faltar uma ligação direta do GPS com a ignição do carro. Passou do limite, o bloqueio é automático. Aposto que ia ter muita gente dormindo no carro.

E olha que eu sou a favor da Lei Seca. A princípio, até torci o nariz, pois achei que ela desrespeitava a liberdade individual. Mas bastou dois bêbados baterem no meu carro, no mesmo mês, para que eu percebesse a necessidade da lei. E a urgência de uma fiscalização adequada. Ela é, sim, muito bem-vinda.

Mas, voltando às listas, o fato é que tenho achado essas indicações meio repetitivas. Parece mais do mesmo, salvo algumas poucas exceções. Nada surpreende, ninguém parece inovar e é cada vez mais difícil descobrir coisas diferenciadas. A questão é: isso é uma falha das listas ou das casas que abrem quase que diariamente suas portas na Paulicéia?

Basicamente, como funciona a maioria dessas votações? Escolhe-se um número determinado de jurados que entendam do assunto e vamos à votação, certo? E quais os critérios utilizados pelos jurados? A opinião pessoal, suponho. E é aí que a coisa pega. Por mais que alguém seja um profundo conhecedor de um assunto, o gosto ou a opinião pessoal são subjetivos.

É óbvio que essas listas são interessantes. Elas nos ajudam a filtrar, de certa forma, o rico e variado universo de uma cidade como São Paulo. Mas não devem ser seguidas de olhos fechados, como única referência. Até porque a sua opinião pode ser bem diferente daqueles que fizeram as escolhas.

Não precisamos ir muito longe. Tenho uma amiga que tem verdadeira aversão a pimenta. Então, pode esquecer de convencê-la a experimentar a cozinha do melhor indiano da cidade. E o que você acha que aquele grupo de amigos vegetarianos deve pensar do melhor rodízio de carnes?

Temos outro bom exemplo dessas diferenças na recente seleção feita por Veja São Paulo - Comer & Beber 2008/2009, que está muito bonita, por sinal. Alguns jurados indicaram o árabe Tenda do Nilo entre os melhores no quesito "Bom e barato". Bom, eu até concordo. Mas barato?! A menos que você considere barato pagar R$ 17,50 por uma sobremesa. Se este for o seu caso, sorte sua. Mas acho que o seu barato deve ser outro.

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Gostou ? Então, leia a última coluna do Marcão Vai ter de engolir


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Quem é o colunista: Marco Esteves, sempre o personagem de alguma crônica gourmet.

O que faz: É jornalista e redator publicitário.

Pecado gastronômico: quem nunca cometeu nenhum, que atire a primeira jaca.

Melhor lugar do Brasil: Depois que visitar todos, eu decido.

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Atualizado em 7 Ago 2012.