Guia da Semana

Foto: Renata Ribeiro


A gastronomia é uma paixão que passa de geração para geraçãona minha família. As mulheres do nosso clã, modéstia à parte, sempre mandaram muito bem na cozinha. E, desde pequena, sempre me meti no mise en place (que significa "pré preparo", em francês) dos banquetes que minha mãe organizava, eventualmente, para os amigos e familiares. Sempre fui curiosa e "entrona", mas, como era muito pequena (devia ter uns seis anos quando comecei a tomar gosto por essa área), minhas limitações eram proporcionais ao meu tamanho. Logo, eu tinha que me contentar com as funções que me eram passadas, como descascar batatas, cebolas, cenouras, etc.

Para o meu infortúnio, na época do vestibular, quando precisei fazer a minha escolha profissional, a Gastronomia nem cogitava ter a notoriedade que tem nos dias de hoje. A gente cozinhava só por hobby mesmo. Acabei, então, escolhendo outra profissão que tivesse a ver com o meu perfil curioso, criativo e ilimitado. Estudei Jornalismo e não me arrependo. Foram quatro anos de intensa dedicação e muito aprendizado. Dentre todas as experiências vivenciadas, a que mais me satisfazia era escrever e aprender sobre culinária. Eu vibrava quando tinha que redigir uma matéria sobre um chef, um restaurante ou uma comida. E o mais curioso é que eu voltava para a redação sempre muito inspirada.

Eis que, após alguns anos no Jornalismo, e sem muita perspectiva de me especializar naquilo que realmente me dava prazer - a Gastronomia, que é um segmento muito limitado - resolvi fazer uma segunda tentativa: ingressar no curso politécnico, que tinha acabado de surgir no mercado. Minha vontade era conseguir conciliar as duas áreas: o Jornalismo e a Gastronomia (como crítica ou até escrevendo um livro sobre o assunto).

Mergulhei fundo no curso. Aprendi de tudo um pouco: nutrição, gestão de negócios, organização de eventos, higiene alimentar, panificação, confeitaria, como se monta uma cozinha industrial, dentre outros assuntos. No entanto, o que mais me marcou foi a aula de "antropologia da nutrição". Lembro-me do trecho de um texto que a professora nos passou, de autoria de Gerd Althoff. Diz assim: "Desde a Idade Média, a refeição era reconhecida e utilizada como sinal de criação ou de reconhecimento de um laço social".

E isso acontece até hoje. A comida agrega, une, faz laços. O prazer proporcionado por ela é um dos fatores mais importantes da vida depois da alimentação de sobrevivência. A alimentação passou por várias etapas ao longo do desenvolvimento humano, evoluindo do nômade caçador ao homem sedentário. No Brasil, as influências foram muitas. A partir delas apareceram adaptações e variações, como a cozinha sertaneja, nordestina, caipira, mineira, gaúcha, dentre outras.

Com tudo isso, cheguei à conclusão de que não há limites quando o assunto em pauta é comida. Você pode reproduzir uma receita, criar um prato e até reinventá-lo, desde que não falte um único ingrediente (e que eu considero o essencial): o amor. Tudo na cozinha pode dar certo ou errado. Mas os riscos são menores quando dedicação, atenção e cuidado estão envolvidos.

Eu, particularmente, passo a maior parte do meu tempo livre na cozinha e na internet, procurando novas receitas. Minhas maiores inspirações são o meu namorado (que ama comer!) e meus amigos, que pedem, insistentemente para eu cozinhar para eles. Sinceramente, nem acho que eu cozinhe tão bem assim. Mas estou sempre empenhada em fazer o meu melhor. Talvez seja esse o "pulo do gato".

Ontem, por exemplo, a pedida foi um risoto de açafrão. Com esse clima frio e um bom vinho tinto, o "casamento" foi perfeito. Ainda dei uma incrementada com queijo gorgonzola e ornamentei o prato com iscas de filé mignon. Eu sou suspeita para elogiar as minhas criações. Mas o meu namorado, que degustou comigo, gostou tanto que até repetiu a dose!

Quem é a colunista: "Uma chave importante para o sucesso é a autoconfiança. Uma chave importante para a autoconfiança é a preparação".

O que faz: Jornalista e consultora de Gastronomia.

Pecado gastronômico: Todos. Amo todo tipo de culinária.

Melhor lugar do mundo: Minha casa (principalmente a cozinha).

O que está ouvindo no carro, iPod, mp3: Cold Play.

Fale com ela: renatabrasil@uol.com.br, ou siga seu Twitter e Facebook.



Atualizado em 7 Ago 2012.