Guia da Semana

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Ok, é verdade que o hábito de consumo de vinho no mundo mudou muito nos últimos anos. Que as revistas dão espaço para esse produto como nunca antes na história desse país e que qualquer um pode ler sobre o assunto... Mas daí até o leitor poder entender uma carta de vinho de um restaurante, há uma grande diferença. Mais ainda se você está num encontro querendo impressionar a namorada. Aí a coisa fica difícil.

Cartas de vinhos são assustadoras para muitos, principalmente algumas com dezenas de páginas que listam quase todos os países produtores do mundo. Muitas pessoas que não conhecem vinhos nos pedem dicas de como escolher, mas mais uma vez tenho que repetir que em vinhos não há uma regra matemática. Para isso existe um profissional especializado nos restaurantes, o sommelier. Há 10 anos, podíamos contar nos dedos quantos existiam em São Paulo, mas agora há profissionais qualificados para ajudar na escolha dos clientes, e o vinho não é mais um mistério.

O fato é que ninguém quer admitir que não sabe sobre o que está lendo e até pode preferir fechar a carta de vinhos sugerindo, com um sorriso amarelo: "que tal uma cerveja? Hoje está quente"! Há muitos anos, ouvi essa pérola de um dono de restaurante que não sabia nada de vinho e confessou que ele mesmo fechou uma carta num restaurante chique nos Estados Unidos para não passar vergonha.

Mas não precisa ser assim. Não deixe de descobrir um mundo de sabores ou desfrutar do prazer que o vinho proporciona porque se sente sem jeito em não dominar esse mundo, que de fato é muito complicado. Existem saídas honrosas para essa questão e que devem ser usadas. A melhor coisa a fazer é aceitar a sugestão do sommelier, aquele profissional especializado em vinhos, que saberá sugerir qual dentre as dezenas de opções da carta combina bem com o prato que escolheu. Se o restaurante não tiver este profissional especializado, ao menos um maitre ou garçom treinado saberá lhe dar indicações.

Não tenha vergonha de examinar a carta e, com a cara muito séria, pergunte o que ele sugere. Muitas pessoas acham que o restaurante vai "empurrar" o vinho mais caro da casa, mas isso não acontece. A atividade do sommelier cresceu e deve ser tão respeitada tanto quanto a do maitre, que diz se o peixe do dia está fresco ou não.

O que muitos clientes fazem para escapar da embaraçosa situação de admitir que não sabe escolher, é olhar o número do lado direito da carta, ou seja, o preço. Ele tenta pronunciar direito o nome que consta ao lado esquerdo daqueles números sem ter muita ideia se é bom ou adequado ao prato que vão consumir.

Bem, o melhor que posso aconselhar, se me permitem, é que nunca devemos ter vergonha de perguntar o que não sabemos, seja sobre que assunto for. Vergonha é não perguntar, e não admitir que tem dúvida. Filosofia à parte, troque uma ideia com o sommelier sobre por que o vinho que ele sugere é adequado, e, se o preço estiver fora da sua faixa, pergunte sobre outro qualquer dentro do preço que lhe interessa que ele entenderá a mensagem. O resultado é que sua refeição será um ritual de prazer completo e com uma aura de sofisticação que nenhuma cerveja pode dar, por mais saborosa que seja.

Outra dica muito simplista é indicar a região ou país que prefere provar. Os vinhos podem ser do novo mundo, os que produzem a bebida há pouco tempo, ou do velho mundo e seus estilos são muitos diferentes. Seja generalista ao conversar com o sommelier, escolha se prefere tinto ou branco ou se quer conhecer os rosés de qualidade que estão disponíveis no mercado; indique novo ou velho mundo e deixe a sugestão por conta deles. Tenho certeza de que poderá se surpreender e sua imagem ficará salva com a sua parceira. Digo parceira, porque em geral a escolha do vinho é tarefa do homem, mas atualmente isso não é mais obrigatório.

Já que estamos no tema, gostaria apenas de esclarecer a definição de três palavras que muita gente confunde: o nome sommelier designa o profissional que trabalha em restaurantes para indicar vinhos aos clientes, sugerindo de acordo com o prato que escolheram. O termo enólogo, amplamente usado na mídia para designar o conhecedor de vinhos, é utilizado de maneira errada. Só é enólogo quem cursou a faculdade de enologia e trabalha fazendo o vinho, envolvendo toda a sua química. Em português, o nome adequado para definir quem estuda vinho por prazer é enófilo, mas aparentemente essa palavra não agrada e os textos jornalísticos usam sempre erroneamente a designação de enólogos para qualquer um que estuda ou lê sobre vinhos. É como chamar de psicólogo quem leu alguma obra de Freud! Mas, o que mais dificulta a escolha de termos para os jornalistas, é que muitos dos estudiosos desta cultura assim se definem, confundindo as pessoas.

Quem é a colunista: Denise Cavalcante, jornalista.

O que faz: Trabalha com eventos de vinhos e gastronomia.

Pecado gastronômico: Abrir garrafas de vinho para tomar sozinha, mas não ter coragem de abrir os melhores só para mim!

Melhor lugar do Brasil: Minha casa, ao lado do meu filho.

Fale com ela: denise @denisecavalcante.com.br

Atualizado em 7 Ago 2012.