Guia da Semana

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Já falei em colunas anteriores dos pratos estranhos servidos mundo afora. Invariavelmente, quando esse assunto vem à tona, nossos amigos asiáticos - embora não sejam os únicos - são quase imbatíveis. Os recentes Jogos Olímpicos serviram para que muitas pessoas conhecessem a exótica culinária local. E muitos jornalistas voltaram do país com a medalha de ouro na modalidade estômago de avestruz.

Se prestarmos um pouco de atenção aos ingredientes de determinados quitutes, podemos perceber que os insetos estão presentes em quase todo tipo de receita. E nem precisamos ir muito longe para nos depararmos com esquisitices.

Tudo bem que o escorpião frito pareça um petisco um tanto repugnante. Mas, em algumas regiões do Brasil, a farofa de formiga é muito apreciada. Dizem até que tem gosto de amendoim. Eu nunca experimentei (a farofa). Mas suspeito que quem disse isso deve ter comido amendoim estragado.

Algumas iguarias são realmente chocantes para o nosso paladar. E muita gente acaba lucrando justamente com o mal-estar alheio. O chef americano Anthony Bourdain é mestre nisso. Ele é uma espécie de Jamie Oliver às avessas.

Mix de chef de restaurante, estrela de TV e escritor, a especialidade dele é chocar. Em Nova Iorque, ele comanda o badalado Les Halles. Confesso que nunca fui. Mas como já antipatizo com Mr. Bourdain, também não faço a mínima questão de conhecer pessoalmente.

Deixando o chef esquisito de lado e voltando às estranhezas que ultimamente temos encontrado na culinária, eu pergunto: Você aprecia café? Essa é uma bebida saboreada em todo o mundo. E poucos resistem ao tentador aroma de café fresco.

As cafeterias sofisticadas vêm se multiplicando com uma rapidez impressionante. Temos cafés de todas as origens e em variados sabores. E não podemos nos esquecer dos baristas, profissionais especializados em aproveitar o melhor da bebida. Toda butique de café que se preza tem o seu. E uma conversa com um deles é uma verdadeira aula.

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E, por falar em butique, você sabe qual é café mais caro do mundo? Se achou cara a última xícara que tomou no Starbucks, ou não ficou satisfeito com o belo expresso do Santo Grão, tenho uma boa sugestão para você: o Kopi Luwat, mais conhecido como Civet Coffee. O valor desse grão gira em torno de US$ 1,2 mil o quilo! Já foi até citado no filme Antes de Partir, com o Jack Nicholson e o Morgan Freeman. E acredite, além de caro, ele também é exótico. Seu principal produtor é a Indonésia. É na terra natal do gato que produz esse café.

Gato produzindo café?! Calma, eu ainda não estou nesse estágio que você está pensando. Kopi é a tradução de café na língua indonésia. E Luwak é o nome do animal que o produz. Eu explico.

Alguns dizem que o Luwak é uma espécie de gato do mato. Sei não, mas nas fotos parece mais um gambá. E o que ele tem a ver com o caríssimo café? Tudo! O bichano adora os frutos e se esbalda nos galhos dos cafezais da região. Então, não sobra semente para fazer o café. E por isso ele custa tão caro, você deve estar imaginando.

Engano seu, meu caro. O preço do café é alto justamente porque ele é produzido depois de ser, digamos, digerido pelo animal. É isso mesmo que você leu. O café é produzido com as fezes do gatinho. É ou não é um primor de reciclagem?

Por incrível que pareça, o mundo inteiro adora e paga caro por isso. De acordo com diversas pesquisas, o processo digestivo do Luwak realmente produz alterações significativas nas sementes. Depois de expelidas, elas só precisam ser lavadas, higienizadas e torradas. E voilá! Você tem à sua disposição o café mais caro do mundo.

Como o Brasil não poderia ficar de fora desse mercado, alguns produtores do Espírito Santo fizeram uma "adaptação". Na falta do gato, escolheram outro animal para fazer a tal "reciclagem" das sementes. A produção começou em 2006 e as safras mais recentes estão dando o que falar.

Por enquanto a produção é pequena e o preço é alto. Ah, já ia me esquecendo: o animal utilizado por aqui é o jacu. Ele é o responsável pelo novíssimo Jacu Coffee. Eu ainda não experimentei, mas dizem que é bom. E convenhamos: pelo processo como o café é feito, a escolha do animal não poderia ter sido mais apropriada.

Leia colunas anteriores de Marco Esteves:

? O melhor restaurante dos últimos tempos da última semana


? Vai ter que engolir


? Eu não sou cachorro, não!


Quem é o colunista: Marco Esteves, sempre o personagem de alguma crônica gourmet.

O que faz: É jornalista e redator publicitário.

Pecado gastronômico: quem nunca cometeu nenhum, que atire a primeira jaca.

Melhor lugar do Brasil: Depois que visitar todos, eu decido.

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Atualizado em 7 Ago 2012.