Guia da Semana

Foto: De algum lugar deste Brasil

Algumas semanas atrás falei sobre a onda vegetariana que assola São Paulo. Em pouco tempo, abriram "vegês" de todos os tipos. Atualmente, não há um bairro em que você passe que não encontre um restaurante "verdinho" onde possa apreciar essa culinária, que, se bem executada, pode ser extremamente saborosa.

Por princípio, tenho uma certa queda por tal cozinha, embora, por força da profissão, não possa abolir completamente as carnes do cardápio. Duas coisas me mantêm com um resquício carnívoro: uma delas é a necessidade profissional. Outra é porque adoro quibe. E isso me leva a fazer uma seleção criteriosa na hora de encarar um filet aqui ou acolá.

Mas tem uma coisa que vem me preocupando ultimamente: os nomes escolhidos de algumas casas vegetarianas. Tudo bem, a onda ainda é uma novidade para muita gente. Mas devagar com o andor porque o santo é de barro.

Não que a escolha do nome vá fazer muita diferença. O que realmente interessa é a qualidade da cozinha e o serviço atencioso. Mas que um nomezinho simpático ajuda, você há de concordar que ajuda.

É compreensível que os nomes tenham origens específicas, que justifiquem a escolha. Mas fale a verdade. Se o sujeito que trabalha com você voltasse do almoço falando que foi comer no Cachoeira Tropical, você não ficaria com um grilo na cabeça? E o que você acha de convidar aquela estagiária para ir com você no Prazeres Ecológicos? Sei não, mas nomes como esses sempre me levantaram suspeitas.

Existe uma certa tendência oriental para batizar essas casas. Afloram exotismos como Gopala Prasada, Maha Mantra, Apfel ou Sattva, entre outros. Atente que não estou criticando a cozinha desses restaurantes. Muito pelo contrário. Conheço pessoalmente a maioria e os considero excelentes. Mas os nomes, convenhamos, poderiam ser mais atraentes. Principalmente àqueles que não estão familiarizados com a cozinha vegetariana.

Devo admitir, porém, que a escolha de nomes estranhos não é um privilégio dos "vegês". Verdade seja dita, temos casos clássicos de bares e restaurantes com nomes que às vezes mais afugentam do que atraem clientes.

Um dos mais tradicionais da cidade era o Buraco da Sara. Agora imagine você chegando em casa tarde da noite, depois de um exaustivo dia de trabalho, e sua amada lhe pergunta onde você estava. Se a resposta vier com um seco "No Buraco da Sara...", é bom que seu convênio médico tenha cobertura contra acidentes domésticos.

Algumas churrascarias também têm o dom de escolher o nome a dedo. Já vi por aí mimos como Boi Tosquiado, Boi Berrando, Porcão, Rei da Chuleta e Rodízio das Caranhas, entre outras delicadezas. Nada contra o rodízio, mas um pequeno esforço para escolher um nome simpático não deve ser pedir muito, não é mesmo?

Quando o assunto são os bares, porém, a coisa realmente desanda. Um caso típico e muito conhecido é o de um bar localizado em Pinheiros. Não há um ser vivo que eu conheça que já não tomou umas no Cu do Padre. É isso mesmo que você leu. Trata-se de um boteco despojado localizado exatamente atrás de uma igreja da região. Quantos minutos você acha que o cara perdeu para pensar em nome tão sugestivo?

Um boteco que marcou minha adolescência chamava-se Sei lá. Ficava ao lado do colégio onde estudei. O lugar era tão alternativo que sempre achei que um dia iria topar com o Raul Seixas lá dentro, tamanha era a quantidade de bichos grilos no ambiente.

Outros bons exemplos não faltam. E quase todos são tradicionais, como Bar dos Cornos, Buraco da Lacraia e até o badalado Vaca Véia. Alguns são um primor de cacófato, como o Demether ou o Querubim Bar. Já pensei em excelentes slogans para ambos. Mas receio que se colocasse qualquer um aqui eu seria proibido de escrever no site pelo resto da vida.

Para finalizar, outro ponto que não posso deixar de citar é uma verdadeira referência do público GLS da cidade. É um mix de bar e balada no coração de Sampa, que ostenta o pomposo nome de MCQB. Não achou nada demais? E se eu disser que essa é a sigla para Meu Cu Que Brilha? Gostou? Então aparece por lá. Dizem que, com brilho ou não, a pista ferve nas madrugadas. E você sempre pode passar uma purpurina pra fazer jus ao nome...

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Quem é o colunista: Marco Esteves, sempre o personagem de alguma crônica gourmet.

O que faz: É jornalista e redator publicitário.

Pecado gastronômico: quem nunca cometeu nenhum, que atire a primeira jaca.

Melhor lugar do Brasil: Depois que visitar todos, eu decido.

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Atualizado em 7 Ago 2012.